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A mostrar mensagens de maio, 2018

Seremos companheiros de brincadeira

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As minhas pernas tornaram-se num túnel para passar, numa árvore para trepar, num poiso para pousar, num espaço para acalmar. São apenas pernas, mas que estabelecem um contacto com os pequenos. As minhas pernas são só pernas, que andam pelo chão, que se tornam cavalos para montar, escorregas para escorregar, porque aqui, entregamo-nos da cabeça aos pés, com o propósito de permitir que brincar como querem... Com o propósito de dar continuidade a uma brincadeira que iniciaram. São apenas as minhas pernas, mas que continuam a ser objeto de brincadeira. E se continuo parado no mesmo lugar, a correria para passar por debaixo delas não para. Rodopiam como se tratasse de um carrossel. Quando passam por este longo túnel, olham para cima, espreitam o outro lado, e sorriem, mostrando uma satisfação enorme no que estão a fazer. Mostram-se disponíveis para brincar... E nós... Mostramo-nos disponíveis para sermos companheiros de brincadeira, dispostos a desafia-los ainda mais. As pernas continuam a

Sou Educador… Educador de infância… uma profissão… como outra… ou então, não!

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Diariamente somos tantas profissões, que não é qualquer um que as entende. Quando chegam à escola, logo de manhã, chegam bem, vêm alegres e divertidos, passam para os meus braços, sou cuidador. Após os receber, como um verdadeiro porteiro, dedico-me a centrar a minha atenção, de vigilante, naqueles pequenos que brincam de forma enérgica e envolvida. Empilham blocos e fazem construções. Eu apenas me torno num engenheiro civil, que controla o esforço daqueles trabalhadores em seguir o plano que, inicialmente, tinha sido definido, torno-me companheiro de construção. Quando é hora de lanchar, o lanche da manhã, depressa abro uma pequena banca de distribuição de alimentos, tendo ao seu dispor fruta ou pão e a água, e, um a um, compram a sua comida, que os saciará e os acalmará por breves momentos. Arrancam, novamente, a toda pressa para as suas brincadeiras. Os carros começam a andar a toda a velocidade pela sala, guiados por dois condutores que não respeitam os peões que por a

Desafiam-nos a olhar para eles como crianças!

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Junto à mesa, com um balde na mão e diversos animais, começou a cozinhar o que parecia ser o almoço. Tira, põe, volta a tirar, volta a colocar. Falta-lhe a colher. Não, não está a fazer o almoço. Está apenas a colocar todos aqueles animais naquele pequeno balde, está a fazê-lo de forma livre, sem qualquer intervenção ou apoio dos adultos da sala. Aquilo que aparentava ser uma refeição, não passa de um balde CHEIO de animais de madeira. Esta pequena brincadeira, vazia de tudo o que poderá ser pedagógico, não o faz avançar, em nada, nos seus conhecimentos e aprendizagens. Então, se não adianta de nada, porque continua ele empenhado em encher aquele balde? Se não contribui para o seu crescimento, porque mantém ele a sua motivação e envolvimento nos 100%? Será uma boa pergunta... Mas o melhor mesmo é analisar a resposta que nos dá... através do seu comportamento. Estes momentos de tão grande importância, fazem-nos olhar para o brincar como a verdadeira forma de crescimento, onde eles pró

Se a fralda ficou bem posta? Não!

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Descobriu no lixo um pedaço de papel. Mostrou-se disponível para ajudar, mostrou-se capaz de representar aquilo que vê diariamente. Desafiando-a a mais, entrego-lhe uma fralda. De forma cuidadosa, coloca a fralda por debaixo daquele bebé, toca-lhe a face, e começa por limpar os pés, as pernas, e toda a sujidade que a faz trocar a fralda. O boneco permanece sossegado e disponível a obedecer a tudo o que aquela pequena deseja. É o momento de higiene, e por isso, a relação que estabelece com o boneco é pura, um momento de proximidade e de afeto, um momento íntimo que reflete confiança entre ambos. Este sentimento é visível pelo modo como o agarra, como lhe acaricia a face, como lhe muda a fralda, levando-a a desempenhar da melhor forma aquela tarefa. É no entanto uma tarefa que cabe aos adultos, mas hoje, foi desafiada a fazê-lo. O seu interesse dura... A sua persistência, em fazer bem e o correto , mantém-se. O seu interesse leva-a a desafiar-se em representar o que vê diariamente. E

São sementes que crescem... acompanhadas... cuidadas... e amadas...

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Mexemos na terra, semeamos, e agora?  Após o dia em que foram feitas pequenas sementeiras, o entusiasmo para mexer nos copos com a terra é muito. De forma esforçada, colocam-se no banco e observam o resultado desta pequena experiência.  A simplicidade da atividade, de semear algo, torna-se uma descoberta enorme para estes pequenos. Andamos, diariamente, preocupados em organizar atividades complexas, como por exemplo, fazer bolinhas de papel crepe para se enfeitar a sala com flores, quando os podemos colocar a mexer nas sementes, na terra, na água, a sentir o sol... Tudo aquilo que uma planta necessita para crescer.  A sala, fica enfeitada, ou ficará aos poucos, com o crescimento das pequenas sementes, que de forma delicada semearam.  A observação que vão fazendo enriquece todo o processo. É verdade que poderão não entender, de forma plena, o que está a acontecer, mas aos poucos, o contacto que vão tendo, leva a que se apropriem destas capacidades inerentes a estes processos

O lanche de hoje foi papa!

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As mãos ficaram sujas, a mesa ficou suja, o bibe ficou sujo, o lanche foi papa.  Agitação à mesa, rabos difíceis de sentar, bocas que teimam em pedir pela papa, choros ansiosos de receber o seu prato, apenas, porque viram as caixas da papa.  Se o barulho/agitação era notório, basta que, para reinar o silêncio, cada um receba o seu prato e comece a comer descansado, com o desejo de que a papa nunca termine.  O silêncio instalou-se nas mesas, a satisfação em comer, sozinhos, aumenta. Ora comem com a colher na mão direita, ora com a colher na mão esquerda. Seja com que mão for, saboreiam aquela papa que depressa o deixa de ser. Se a autonomia de cada um permite o uso da colher, esse momento, autónomo, depressa se torna num processo criativo, em que a papa começa a espalhar-se pela mesa, como se de uma tela se tratasse, cheia de expressão e sentimento.  As mãos cobriram-se de papa e passeiam-se livremente pela mesa, pela boca, pela cara, cabelo, roupa,... tornam-se verdadeiras m

Acenam, sorriem, interagem, conhecem, vivem.

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Hoje saímos da escola e aproveitamos o sol.  É verdade que não andaram, a pé, mas sentados e confortáveis nos seus carros, passearam-se pela Vila com o seu ar de importantes. Importantes seres cheios de uma vida pela frente, em que qualquer oportunidade é aproveitada para conhecer algo, ou aumentar um conceito que já foram conhecendo.  Passeiam-se pela Vila, puxados pelos seus humildes servos, que esforçadamente, os levam a viajar por terras nunca dantes desbravadas, em que se destroem os muros das mentes e tornam-se as salas em espaços sem limites, espaços que nunca acabam, acabam onde o desejo acaba.  Acenam, sorriem, interagem, conhecem, vivem.  Mas hoje, só andamos a passear e isso não é importante para estes pequenos. Se o ar livre é importante para os adultos, porque raio teimamos a fechar estes miúdos a sete chaves, enclausurados entre quatro paredes, onde o ar puro chega por pequenas janelas e as oportunidades continuam a surgir lá fora?!  Estes carros deram-lhes a

Somos máquinas... Um tanto ou quanto registadoras...

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Há um silêncio na sala que parece não se quebrar. Ouvem-se alguns a ressonar, outros a chuchar na sua chucha, outros apenas riem durante o sono, há, ainda os que esboçam pequenos choros, que depressa param.  "Mãe!!!" diz um pequeno a choramingar e senta-se na cama, ainda que continue a dormir.  Rapidamente, o aconchego e o embalo no sono profundo.  O corpo descansa, a respiração é calma e profunda. Ouvem-se bocejos e pequenos movimentos para encontrar a melhor posição, para que assim possam continuar a dormir: uns de barriga para baixo e esticados, outros de barriga para cima e com os braços junto ao corpo, outros ainda dormem de joelhos e embrulhados nos lençóis, outros em posição fetal, cada um com a sua posição... Há no entanto aqueles que se mexem tanto, que teimam em estar sempre destapados.  Apesar de serem vários na sala, sabemos a forma como cada um gosta de dormir, conhecemos o modo como gostam de ser confortados quando começam a chorar, sabemos como devem

... as rotinas quebraram-se e há nova adaptação

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Segunda feira, o regresso à creche.  Choros... Choros... E mais alguns choros...  Avizinha-se um dia, sonoramente, agitado!  Elevamos as mãos ao céu e pedimos aos santos dos auscultadores que nos protejam neste dia, que intercedam por nós e acalmem aquelas cordas vocais prontas a desafiar os ouvidos mais sensíveis.  Preces feitas, aterremos na terra e façamos o que é mais necessário, atender os pedidos destes pequenos.  As entradas vão surgindo aos poucos, trazem fraldas para repor o stock, toalhitas para qualquer necessidade, cremes para proteger as peles mais sensíveis, recados e mais recados e a nossa memória registadora, vai anotando de forma natural tudo o que nos vai sendo relatado por um pai... por um pai vezes o número de crianças que estão a nosso cargo.  Mas, é segunda feira, e apesar do tempo ser curto para a maioria dos pais, porque as responsabilidades chamam por eles, entregam os pequenos e seguem o seu caminho. Hoje é dia de ficar a chorar, as rotinas quebrar

3... 2... 1... PARTIDA!!!!

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O trânsito hoje está impossível.  As idas à casa de banho aumentaram e fizeram com que a fila, para circular nesta via, aumentasse.  Em fila, ou sentados no chão, aguardam pacientemente a sua vez, para que possam iniciar mais um processo de transição ou de aceleração.  Os que estão sentados nos seus veículos, quase parecem engolidos pelos mesmos, no entanto, a corrida começa e, um a um, a seu tempo, vão ultrapassando esta estrada e esta mudança, de fralda para o veículo que quase os engole.    "Já tá" diz o condutor do veículo 1.  Por ordem de chegada, é chamado o próximo condutor.  Apressadamente, levanta-se do seu lugar e senta-se de sorriso no rosto. A corrida começa em direção a… sabe-se lá onde!   O condutor do veículo 1 chega à sala e, com sorriso de orelha a orelha, diz aos outros "Xixi, sanita". Apesar dos seus colegas de prova não terem qualquer reação, dirige-se a mim e diz, novamente, "Xixi, sanita".  Depois um sorriso

Os anões dos dentes cerrados

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Os anões dos dentes cerrados, são  uma pequena comunidade que gosta de reinar de acordo com os seus interesses.  Estes anões dos dentes cerrados sentem grande poder acerca do que os rodeia e nada, nem ninguém, se pode chegar a eles.  Se os seus pequenos corpos de anões, são um misto de emoções que ainda não conhecem, estes anões dos dentes cerrados, agem apenas de uma forma: impulsivamente. Lançam-se perante os outros na ânsia de mostrar o seu desagrado.  No entanto, estes anões dos dentes cerrados, ainda não aprenderam a lidar com a frustração e utilizam tudo o que conseguem para atingir o fim.  Sempre que alguém os incomoda, no alto dos seus cavalos brancos, que utilizam para se baloiçar, a reação não é a melhor, empurram qualquer um e as bocas, que até então estavam abertas, cerram-se na mão, no braço, ou onde se conseguir. Os dentes, que ainda estão em formação, tornam-se na melhor forma de se expressarem.  Os anões dos dentes cerrados, continuam a aprender e a explora

Reis de pés descalços!

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Existem reis de pés descalços, que não aguentam andar de sapatos.  Existem reis de pés descalços, que nem as meias conseguem suportar.  Existem reis de pés descalços, que gostam de sentir o chão e a terra que pisam.  Existem reis de pés descalços que teimam em se descalçar sempre que alguém os calça.  Será calor? Incómodo? Ou serão, apenas, ordens que cumprem?  Estes reis de pés descalços, andam bem sem sapatos e meias, mas temos a preocupação de estar, de forma constante, a calçá-los para que se sintam mais confortáveis   Mas afinal, quem sabe o que lhes dá conforto, nós ou os reis dos pés descalços? Queremos a todo o custo, que estes reis de pés descalços, se calcem e caminhem como qualquer um, como qualquer homem, calçado.  São reis de pés descalços. que gostam de calçar os sapatos que mais gostam, sapatos feitos de copos, de caixas e até de legos, que cabem na perfeição nos seus delicados pés.  São reis de pés descalços, que sentem o chão que pisam e tornam ainda ma

Quem sou eu para lhe dizer: (...) nunca tocarás o céu.

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O desafio diário faz com que os pequenos cresçam e estabeleçam novas metas. A nossa função é nada mais, nada menos, do que alargar os conceitos que já adquiriram e permitir que continuem a fazer crescer estes conhecimentos, tornando-os reais e possíveis de atingir. Esta atitude leva a que, de forma continuada, possamos contribuir para que se continuem a desafiar e a motivar neste processo a que chamam crescer.  "Rui alto, tavo não chega." E aponta para o teto.  Está neste momento em cima de um pequeno degrau que é utilizado na aula de educação física. O seu desejo é simples: tocar no teto.  O esforço para o conseguir fá-lo esticar-se e colocar-se em bicos de pés, na esperança de que consiga tocar no céu daquela sala.  Se os desafiamos, diariamente, a subir cada vez mais alto, para continuar a crescer, quem sou eu para lhe dizer: "Desce daí, que cairás!"  Quem sou eu para lhe dizer: "És demasiado pequeno, nunca tocarás o céu." Quem sou eu... ?

Brincar... na terra... e com a terra...

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Sujámos as mãos...  A terra escura tornou-se uma curiosidade para mexer, e em alguns, para saborear.  Apesar de terem a ajuda de um adulto, experimentaram a sensação de ter terra nas mãos, experimentaram ter as mãos sujas, os bibes sujos, as calças sujas... até o chão estava sujo. Sujo daquela terra escura que parecia querer andar por todo o corpo dos pequenos.  Espantados, olham para as mãos. Estão sujas... de terra.  Esfregam as mãos, uma na outra, mas a terra teima em não sair.  Alguns, com a ajuda do bibe, tentam-se livrar daquela terra que se agarrou às suas pequenas mãos.  Apesar de andarem muito pela rua, o parque. não tem terra, tem apenas blocos de cimento que não os permite tocar no que está por baixo, a terra.  O que deveria ser uma rotina e um conhecimento que já tiveram a oportunidade de experimentar, parece novo.  Afinal, não andamos nós todos os dias na rua?  Se a sujidade os deixa estranhos, mas curiosos por perceber o que é, deixemos que a sujidade

Eu também estou para ti...

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Quando me sentei na almofada, estava só a precisar de um minuto para mim.  No entanto, nesta profissão, nesta sala, o tempo que é nosso, não existe.  Existe o tempo deles e para eles.  O tempo que planeio para que eles se sintam bem, o tempo que segue aqueles pequenos que estão a meu cargo, o tempo que reflete as necessidades dos miúdos e não as minhas vontades.  Como dizia, sentei-me, na ânsia de ter meio minuto parado.  Um deles olha para mim e chama-me.  Aproxima-se, abraça-me.  Olha para mim à espera de uma reação.  Os seus lábios juntam-se e encaminham-se para a minha bochecha.  Dá-me um beijo, logo seguido de um abraço.  E, como se não bastasse, encosta a bochecha na minha cara e diz apenas: Rui.  Os braços começam a apertar mais.  É notório o que me quer transmitir, "Assim como tu estás para mim, Rui, eu também estou para ti".  Carinhosamente, acaricia-me a cara e volta à sua brincadeira.  Foi apenas, e só mais um momento nosso, sem interferê