... as rotinas quebraram-se e há nova adaptação

Segunda feira, o regresso à creche. 
Choros... Choros... E mais alguns choros... 

Avizinha-se um dia, sonoramente, agitado! 

Elevamos as mãos ao céu e pedimos aos santos dos auscultadores que nos protejam neste dia, que intercedam por nós e acalmem aquelas cordas vocais prontas a desafiar os ouvidos mais sensíveis.  Preces feitas, aterremos na terra e façamos o que é mais necessário, atender os pedidos destes pequenos. 

As entradas vão surgindo aos poucos, trazem fraldas para repor o stock, toalhitas para qualquer necessidade, cremes para proteger as peles mais sensíveis, recados e mais recados e a nossa memória registadora, vai anotando de forma natural tudo o que nos vai sendo relatado por um pai... por um pai vezes o número de crianças que estão a nosso cargo. 

Mas, é segunda feira, e apesar do tempo ser curto para a maioria dos pais, porque as responsabilidades chamam por eles, entregam os pequenos e seguem o seu caminho. Hoje é dia de ficar a chorar, as rotinas quebraram-se e há nova adaptação a fazer, são adaptações semanais que passam depressa. Mas, não deixam de ser adaptações e momentos que requerem atenção.

Aconchegados ao colo de quem os recebe, aconchegados nas pernas de quem os acolhe, o espaço corporal torna-se rapidamente sobrelotado. Sem darmos por isso, tornamo-nos num espaço que atingiu a sua capacidade máxima. À medida que há um pequeno espaço disponível para ser ocupado, os que aguardam o número da sua senha, vão ocupando apressadamente esse minúsculo espaço que lhes restou. Para alguns, bastam apenas uns meros segundos, para outros, eternos minutos que teimam em não passar. Há ainda, os que necessitam de mais, do que estar simplesmente encostados ao nosso corpo, precisam de colo. 

Aninham-se ao colo e as cabeças deitam-se no ombro. 
Na ânsia de encontrarem palavras que os conforte, procuram ainda mais, uma respiração calma que os tranquilize, um queixo que lhes toque na cabeça, ou uns lábios que acariciem aquele pequeno ser. Se a atenção não está centrada no colo e a conversa se mantém, surge uma pequena mão que encaminha a cara para a bochecha, relembrando que a atenção tem de ir apenas para aquela criança. Mas a conversa continua e a mão surge novamente. Surge como sinal de alerta, de relembrar que ainda está alguém ao colo a necessitar de um pequeno gesto... um gesto carinhoso e de maior atenção... Atenção individualizada, porque realmente é isso que precisa. 

O olhar mantém-se olho no olho, uma comunicação eficaz e direta, sem más interpretações. É uma comunicação baseada no conhecimento, no afeto, na cumplicidade,  mas acima de tudo, baseada na necessidade daquele momento. 

"Será que podes olhar para mim?"... Apesar de estar a olhar para o lado, sinto novamente uma mão, acompanhada deste pensamento, 

"Tu ainda não entendeste o meu recado?" 

#umacaixacheiadenada 

Rui 

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