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A mostrar mensagens de julho, 2018

A mãe tem de ir ao carro buscar o casaco e já volta

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Quantas vezes, de manhã, os pequenos ficam a chorar? Quantas vezes, de manhã, se agarram às pernas dos pais e não os largam? Quantas vezes, queremos ajudar e não nos deixam sequer aproximar, porque têm a situação controlada?  Este tempo, de transição, é de tal forma explosivo, sentimental e impulsivo, que os argumentos que se utilizam, saem da boca para fora, sem qualquer pensamento. Saem, apenas, porque acham que minimizam este momento. Quantas vezes ouço "a mãe tem de ir ao carro buscar o casaco e já volta"?  E posto isto, fico a pensar,  "o carro está realmente longe... Será que a mãe se lembra onde deixou o carro?? Será que a mãe ainda não encontrou o casaco??"  Diz o que diz.  A criança fica, ao meu colo, a chorar, porque a mãe teve de ir ao carro buscar o casaco e "já volta"...  E o "já volta", dura o dia inteiro, uma eternidade para as crianças! Mas "já volta"... Já? É que já está na hora de eu sair e a mãe ai

Quase todos perderam uma experiência tão simples, como sentir a chuva!

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Enquanto corríamos na rua, choveu! O parque estava cheio de crianças, a jogar com bolas, a explorar as casas, a fazer corridas com os triciclos. Assim que um deles sentiu a chuva, alertou: “Rui, chuva!” Os adultos apressavam-se a chamar as crianças, com a preocupação de que o tempo nos brindasse com mais umas pequenas gotas de chuva. O que era um parque cheio de vida começou a tornar-se um deserto e, grupo a grupo, entravam apressados e desolados, por deixarem a meio o que estavam a fazer, aquilo a que chamam brincar… A chuva caía pelo chão, gota aqui, gota acolá… e se permitissem, continuariam a brincar com as pequenas gotas que caíam naquele espaço. Quase todos entraram nas salas… quase todos fugiram à chuva… quase todos deixaram de sentir a chuva nas cabeças, nas mãos, na cara… quase todos ficaram sentados à espera que a chuva parasse… quase todos ficaram aborrecidos por terem de deixar a brincadeira por meia dúzia de gotas que caíam sem saber onde aterravam… quase t

"Até já. Vou ali dormir num instante a casa e já volto."

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A escola abriu, bem cedo! À porta, aguardam já algumas crianças, ensonadas, mas ansiosas de entrar para ter mais um dia mexido, agitado, cheio de ... Brincar. Uns entram ao colo, outros dão a mão aos pais, outros ficam-se para trás, a bater o pé ou simplesmente  a testar a paciência matinal dos pais.  São acolhidos da melhor forma possível, ao colo de quem os recebe, que tenta, a todo o custo, apaziguar os choros, as birras, e tenta acalmar os corações mais agitados.  Após deixarem os filhos na escola, ansiosos pela forma como os deixaram, seguem porta fora, sem sequer olhar para trás, e assim, vão tentar ir mais tranquilos.  Saem para os trabalhos que os obrigam a estar longe dos tesouros mais precisos que têm, os filhos.  Enquanto ficam na escola, ficam confiados a quem dá tudo por tudo, para que esta saudade e ansiedade  que sentem seja minimizada.  Acolhemos, confortamos e tentamos apaziguar estes corações. Algumas lágrimas vao caindo cara abaixo, e caem diretas no c

Saem como se de um rebanho se tratasse, guiados por um pastor

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Saem da sala, vão em fila, ordenadamente, e a respeitar tudo o que os adultos dizem. Saem como se de um rebanho se tratasse, guiados por um pastor e protegidos à retaguarda pelo cão de guarda. Caminham de forma calma, tranquila, vão observando, cuidadosamente, o que está à sua volta, nomeadamente, a cabeça dos colegas que estão à sua frente.    Definem-se os pares, que tanto trabalho dá e, assim, fica resolvida a questão do comboio,  em que, elegemos a parelha para o ano inteiro. Desta forma, tornar-se-á mais fácil  a nossa organização. Este facto, torna-se de extrema importância para permitir que se desenvolva a socialização, apenas com  aquela criança, até quem sabe, poderão tornar-se nos melhores amigos. Saem da sala e vão para o refeitório, mais uma vez, em fila, agarram no bibe de quem está à sua frente e a caminhar com um passo lento, a postura que assumem, faz lembrar as famílias de elefantes que agarram os rabos dos seguintes com as suas trombas.  Não se pretend

Sou educador e tenho um excelente braço direito.

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Sou educador e tenho um excelente braço direito. No dia-a-dia na profissão de educador muitas são as tarefas que vamos realizando, muitos são os desafios que vamos tendo. Sabendo que o nosso foco é o bem-estar dos mais pequenos, há que refletir acerca do que proporcionamos diariamente. Como em outros textos já fui referindo, refletindo e escrevendo, que a relação que vamos estabelecendo com os mais pequenos é feita da nossa atitude, da nossa valorização profissional, de reconhecer como principal prioridade na educação de infância, o respeito pelas crianças. Apesar de ter todas as competências pedagógicas, as quais me foram transmitidas ao longo de 4 anos, as quais me fizeram pensar acerca delas, levaram a que iniciasse o percurso de crescimento e me tornasse naquilo que sou hoje como educador. De facto, a minha prática vai além do belo e do bonito, do interesse do adulto, do enfeite de paredes e de bonecos estereotipados. Vai, mais uma vez, no sentido real da educação de infânc

"as minhas paredes estão cheias de nada (...) isso é sinal de que não trabalho"

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Hoje a sala virou a selva!  Ninguém se entendia, ninguém se ouvia, ninguém estava disposto a brincar.  Choros atrás de choros.. birras atrás de birras... Mas o milagre acontece.... o lençol! Sou educador e estou em creche.  Os trabalhos bonitos a decorar paredes são substituídos por momentos de brincadeira, em que o chão é o nosso suporte, onde rebolamos, onde subimos para cima uns dos outros, onde aumentamos a nossa relação.  Sou educador e estou em creche, onde o medo toma conta das cabeças mais preconceituosas, onde a desconfiança é um sentimento guardado no bolso direito, na esperança de que este nunca seja preciso de ser tirado de lá.  No entanto, diariamente, a relação que estabeleço com os pequenos, faz com que essas opiniões iniciais se vão desmoronando e, em vez da desconfiança, sai do bolso um sentimento de reconhecimento, respeito, aceitação e de confiança.  Hoje confiaram-me os seus filhos e eu rebolei no chão,  brinquei com o lençol, passaram-m

"prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias" do nosso ano letivo!

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Enquanto eu estiver aqui, caminhamos lado a lado... Por caminhos de aventura e por caminhos que te desafiaste a caminhar.  Hoje andavas sozinho, com as lágrimas a cair-te pelo rosto e sem saber o que fazer. As bolas não te convidaram a brincar, os triciclos estavam ocupados, as casinhas estavam de portas fechadas e não permitiam a entrada de mais ninguém... Fazia s caminhadas em busca de algo para fazer, para brincar... E num gesto de pedido de ajuda, num gesto de clamor... Diriges-te a mim, e esforçadamente, levas-me a passear pelo parque.  Caminhamos juntos... De mão dada... Lado a lado, como sempre o fizemos desde o início do ano. Apontas, chamas a atenção para algo que queres que eu  veja. Essa curiosidade continua no seu auge.  Se agora já caminham sozinhos, não o faziam quando aqui chegaram...   Confiança, dedicação, escuta, conhecimento, fomos desbravando o caminho que necessitavam para se irem desafiando a andar, a falar, a interagir, a criar esta relação vinculada