Quase todos perderam uma experiência tão simples, como sentir a chuva!
Enquanto corríamos na rua,
choveu! O parque estava cheio de crianças, a jogar com bolas, a explorar as
casas, a fazer corridas com os triciclos. Assim que um deles sentiu a chuva,
alertou: “Rui, chuva!”
Os adultos apressavam-se a chamar
as crianças, com a preocupação de que o tempo nos brindasse com mais umas pequenas gotas
de chuva. O que era um parque cheio de vida começou a tornar-se um deserto e, grupo
a grupo, entravam apressados e desolados, por deixarem a meio o que estavam a
fazer, aquilo a que chamam brincar…
A chuva caía pelo chão, gota
aqui, gota acolá… e se permitissem, continuariam a brincar com as pequenas gotas
que caíam naquele espaço.
Quase todos entraram nas salas…
quase todos fugiram à chuva… quase todos deixaram de sentir a chuva nas
cabeças, nas mãos, na cara… quase todos ficaram sentados à espera que a chuva
parasse… quase todos ficaram aborrecidos por terem de deixar a brincadeira por
meia dúzia de gotas que caíam sem saber onde aterravam… quase todos perderam
uma oportunidade de brincar com aquelas gotas… quase todos perderam uma
experiência tão simples, como sentir a chuva!
Mesmo sendo verão, haverá melhor
forma de a entender, senão tocá-la, senti-la, agarrá-la?
Alguns tiveram a sorte de
continuar a brincar, de continuar a explorar tudo o que exploravam. Alguns
tiveram a sorte, de ter adultos que os deixaram brincar com as gotas da chuva,
que os levou a sentir, a tocar e a experimentar tantas sensações!
Apesar da chuva continuar a cair,
alguns apontavam para o céu, outros caminhavam lentamente, para ver, apenas,
onde tinha aterrado a última gota que viram!
Se enquanto educadores queremos
que apreciem cada momento, será a isolá-los em salas, por entre quatro paredes,
que os faremos entender o estado do tempo?
Não será importante permitir que
estes pequenos cresçam com oportunidades reais, concretas e não apenas abstratas,
em que mostramos a chuva numa imagem ou num vídeo?
Sabemos que todos os educadores
são atentos, profissionais com a capacidade de escutar o que as crianças lhes dizem
e de ir ao encontro das vontades que revelam. Temos à nossa frente crianças
curiosas, dispostas a aventurarem-se a cada momento, mas de uma forma tão
simples, acabamos por contornar uma oportunidade que poderia ter toda a vantagem em
que a experimentassem.
A chuva caía e, contentes, esticavam os braços, tentavam agarrar as gotas para que as pudessem guardar, e
se possível, as pudessem levar para casa. Mas as gotas não se deixavam agarrar, deslizavam pelos braços, enquanto os
acariciavam. Deslizavam pelos telhados das casas do parque, caíam simplesmente
como se de uma dança se tratasse… Mas as gotas, aquelas que caíam, evaporavam
depressa, para que ninguém as visse.
Esticados continuavam, esforçadamente, para as alcançar e
mostrar que estão a adorar aquele momento. Estão a aproveitar ao máximo o som
da chuva que cai no toldo, estão a ver, simplesmente, que a chuva molhou o chão…
mas de tal forma, que evaporou!
Hoje chovia enquanto brincavam no parque e eu, deixei que
eles brincassem com todas aquelas gotas! Tornaram-se mais umas companheiras de
brincadeira!
#umacaixacheiadenada
Rui
Comentários
Enviar um comentário