Assistentes operacionais, mais do que um termo, uma profissão.
Ao longo de todo o ano planeiam-se atividades à medida de
cada grupo, definem-se horas, sem fim, de planificações, de momentos que se
consideram ricos em oportunidades para as crianças, que valorizam cada
interesse, dificuldade, conquista, momentos que se constroem e que se pensam
através de uma relação existente em sala. Sabendo que surgem de um modo
intencional, pedagógico, é extremamente importante sublinhar o peso que as
pessoas que nos acompanham têm na sua concretização.
Os nomes são vários para esta profissão, mas mais do que um
nome, um termo, é a sua disponibilidade para se aventurarem todos os dias nos
abraços, nos toques, nas relações, nas tristezas, nas alegrias, surgindo, quase como se de um casamento se tratasse. Apoiam sem medida, todos aqueles com quem
criaram uma aliança no início do ano, uma aliança que valoriza o afeto, a
atenção, o respeito e o caminho conjunto a seguir.
As metas definem-se em equipa, o modus operandi, baseado nas prioridades, na vivência, mas mais do que isso, na necessidade de
respeitar cada criança que terão à sua responsabilidade. E, tal como os
educadores de infância, os assistentes operacionais, os ajudantes de auxiliar de
ação educativa, os auxiliares de ação educativa, empenham-se da melhor forma,
para permitir que os mais pequenos sejam felizes a cada dia que passa.
É, sem dúvida, uma profissão que por vezes é desvalorizada. Que é desvalorizada.
É, por vezes, uma profissão pouco reconhecida pelos encarregados de educação e comunidade
educativa. Mas atenção, é, sem dúvida, uma profissão de extrema importância
para o bom funcionamento de uma sala de creche, de jardim-de-infância e de escola.
Com estes profissionais, as crianças estabelecem relações
que os tornam confidentes, que os tornam exemplos a seguir e os olham como
adultos preocupados pelo seu crescimento. Esse trabalho, cooperativo com os docentes, justifica-se numa parceria que prevê a valorização de todos
aqueles que se entregam à sua profissão, que ajudam dentro e fora da sala, que
apoiam e que brincam com os mais pequenos.
Porque ser esta profissão, é mais do que ser um sinónimo de limpeza, como tantas vezes é olhada. É mais do que ser reconhecida como alguém que se
preocupa com o pó, com a comida, com as idas à casa de banho. De facto, há
tanto para dizer em relação a estes companheiros de viagem dos educadores de
infância e dos professores.
Há, de facto, muito a dizer.
A cada ano que passa, estes profissionais adaptam-se a novos
docentes e esforçam-se para compreender o seu trabalho, a sua perspetiva da
educação. Seguem-nos sem nos conhecer, porque a prioridade são as crianças que
estão junto deles, a prioridade é o bom relacionamento entre os adultos. Adaptam-se e, eles próprios, sujeitam-se às mudanças, mesmo que, muitas vezes,
não concordem com o que lhes vai sendo exigido. porque tal como os docentes que
os acompanham, estes reconhecem as prioridades das crianças e olham como elementos capazes de se envolverem, de crescer, de gostar e de
criar laços.
São profissionais que acompanham o dia-a-dia dos mais
pequenos em momentos, que a grande maioria dos educadores e dos professores
não acompanham. Sabem o que comem, o que gostam e não gostam, o tempo que
demoram a almoçar, a lanchar, o apoio que necessitam de dar e, a contrarrelógio, fazem-no como verdadeiras máquinas, de modo a que o espaço fique liberto para
os que ocuparão cada cadeira no turno seguinte. Mas, mais do que se apressarem
por esse propósito, apoiam cada um e valorizam a necessidade de se aproveitar o
tempo que resta para poderem brincar no exterior.
Nas idas à casa-de-banho, é uma verdade, acabam por
acompanhá-los de um modo constante, quando necessário, mas incentivam os mais
pequenos a seguirem o seu sentir, a sua autonomia, porque mesmo não sendo docentes,
reconhecem a importância da autonomia, do crescimento e de que, as idas à casa-de-banho, são momentos de aprendizagem.
Estes profissionais acolhem de braços abertos, sentem as
feridas que os pequenos lhes trazem, sentem as quedas que os pequenos dão, sentem
cada sentimento dos mais pequenos como uma partilha de emoções, como uma forma
de crescimento e de respeito comum. São companheiros diários e, para isso,
despem-se de opiniões, de preconceitos e vestem-se de relação, construída com
os mais pequenos e com os adultos com quem trabalham.
Esta profissão é uma profissão de respeito, que valoriza o
que é feito pelos docentes, que se torna fundamental no dia-a-dia de uma sala,
de um parque exterior. São elementos que sentem, que brincam, que se envolvem,
que constroem, que chegados ao final do ano, sentem a concretização de tantos
pensamentos que, em conjunto com a equipa de sala ou de escola, levaram a bom
porto aqueles pequenos marinheiros que embarcaram no seu barco.
Esta profissão, mesmo não sendo eles os comandantes dos navios, são
os que se encontram lado a lado, que cooperam, que choram, que riem, que
abraçam. Quantas vezes engolem as palavras porque o sentimento de inferiorização se alastra pelos membros, pela mente e toca-lhes na tristeza
das palavras, levando a que eles próprios esqueçam o valor que têm para os
educadores e para os professores que acompanham.
O final do ano não se atinge sem que todos se envolvam.
O final do ano não se torna de sucesso apenas com o trabalho
do educador, do professor, ou do monitor.
O final do ano é de sucesso, quando ao longo do tempo, cada
um encontrou o seu lugar, o seu espaço e soube respeitar quem com ele caminhou,
quem valorizou cada decisão, quem apoiou, ainda que nem sempre de acordo, a concretizou.
O final do ano leva ao abraço de felicidade, quando todos
souberam dizer obrigado, quando todos souberam dizer desculpa, quando todos
souberam perguntar, como posso ajudar?
Se chegados ao fim de mais um ano letivo, ou prestes a
chegar, olhamos para trás e reconhecemos que o caminho não se fez, nem se faz, sozinho. É de
louvar estes profissionais que abraçam a sua profissão e que caminham, tantas
vezes, na sombra, a nosso lado.
É de louvar o empenho que têm com as crianças, porque as
crianças também criam boas relações com eles.
Se em algumas situações alguém nos desorientou, nos levou a que
perdêssemos o rumo, mesmo que por breves instantes, eles continuaram do nosso
lado e continuaram a suportar o peso que decidimos carregar ao longo de todo o tempo, amparam-nos nas quedas, para que o barco não se afunde, cooperam.
Estes profissionais deram-nos a mão, dão-nos a mão e fazem
com que cada dia se torne mais fácil de acontecer, porque tal como nós,
educadores, são sensíveis ao outro, às crianças e dão-se sem medida. Carregam
nos ombros os problemas dos mais pequenos, partilham connosco ansiedades,
situações, alegrias e tristezas das crianças que temos a nosso cargo.
Estes profissionais não são menos do que nós, são como nós, empenhados,
sensíveis, preocupados, lutadores, responsáveis, disponíveis, seres humanos.
É uma profissão que recebe pouco para os problemas com que lida diariamente, porque a exigência é grande! Para fazer parte desta profissão é preciso gostar, é preciso saber ser profissional de educação, é preciso trabalhar e ser equipa.
É certo que podemos dar um pouco mais de nós. É certo que, tal como em todas as profissões, existem os que estão de coração e os que estão por obrigação, e isso é notório.
É certo que, tal como na maioria das profissões, é importante reconhecer a vocação, o fazer por gosto e não porque é imposto.
Aos pais, que tantas vezes falam sem pensar, a roupa está
suja, o filho queixou-se, ou simplesmente, não fizeram o que lhes
pediram, pensem apenas, estes profissionais recebem os filhos, os vossos
filhos, tranquilizam-nos quando precisam, acolhem-nos de braços abertos, mesmo
quando falam de um modo mais rude para eles, porque sabem quais são as suas
responsabilidades, mesmo que estejam magoados com as palavras que saíram pouco
pensadas. Reconheçam-nos como elementos chave neste processo a que chamam
educação, porque mesmo assim, eles dão-se, transportam consigo os medos e os
problemas que os vossos filhos transmitem, partilham e, em conjunto com os
docentes, constroem pontes, que só beneficiam os vossos filhos. E, tal como
os docentes, a sua maior preocupação é o bem-estar dos vossos filhos.
Pensem,
apenas, e agradeçam.
Mas, esta profissão é engrandecida por gestos e o gesto
mais simples, de agradecimento, veste-se de abraço, veste-se da palavra,
obrigado. Veste-se de relação, de conquista, de valorização.
Esta profissão de
ação, veste-se da simplicidade que a caracteriza, mas ao mesmo tempo a torna
complexa na sua prática, porque mesmo assim, não se encontra impedida de
refletir no seu dia-a-dia e na luta pela melhoria da sua prática. É um dever, uma obrigação, pensar nos nossos atos, na nossa forma de estar.
Esta profissão é mais do que um termo, é um sentir, é aventura,
é entrega, é ser equipa.
Por isso, a todos estes profissionais que acolhem de braços
abertos esta profissão, fica um singelo obrigado, pela vossa disponibilidade
em ser e em fazer para que a educação, em conjunto com os docentes, aconteça. Sem cada um de vós, o fardo seria mais difícil de carregar, o barco levaria
mais tempo a chegar.
E, para terminar, sejam profissionais de educação, em que,
tal como numa reflexão anterior, permitam semear, para que se possa colher no
futuro. Permitam, porque também colhem, porque também devem refletir na prática e torná-la melhor todos os dias.
#umacaixacheiadenada
Rui Inácio
Não poderia estar mais de acordo com o que aqui foi dito!
ResponderEliminarNão posso estar mais de acordo! Não seria jamais a educadora que hoje sou sem o imprescindível apoio (em todas as áreas) das Assistentes Operacionais que comigo têm trabalhado. Há algo que nunca falta da minha parte ao longo do ano; elogios, preferencialmente, e GRATIDÃO!
ResponderEliminarFeliz por saber que há quem valorize esta profissão.
Obrigada Rui
nem toda a gente pensa como a prof. Xana.
Eliminarsou auxiliar e gostei muito das suas palavras.
tento cumprir da melhor maneira a minha profissão.
Tudo dito! A minha gratidão por escrever o que muitas vezes digo.
ResponderEliminarMaravilhoso testemunho. 🙏🙏👏👏
ResponderEliminarObrigada pela entrega e o meu respeito pois sei sem dúvida o que vocês se dão
ResponderEliminarUm muito obrigado por este testemunho tão verdadeiro .As nossas crianças acima de tudo.Um bem haja.
ResponderEliminarHaja reconhecimento de valor
ResponderEliminarQue texto tão bonito, foi tudo dito! Respeito muito estes profissionais, arrisco-me a dizer que são as pessoas mais flexíveis que trabalham na escola. Patrícia Silva
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