"Até já. Vou ali dormir num instante a casa e já volto."

A escola abriu, bem cedo! À porta, aguardam já algumas crianças, ensonadas, mas ansiosas de entrar para ter mais um dia mexido, agitado, cheio de ... Brincar. Uns entram ao colo, outros dão a mão aos pais, outros ficam-se para trás, a bater o pé ou simplesmente  a testar a paciência matinal dos pais.  São acolhidos da melhor forma possível, ao colo de quem os recebe, que tenta, a todo o custo, apaziguar os choros, as birras, e tenta acalmar os corações mais agitados. 
Após deixarem os filhos na escola, ansiosos pela forma como os deixaram, seguem porta fora, sem sequer olhar para trás, e assim, vão tentar ir mais tranquilos. 
Saem para os trabalhos que os obrigam a estar longe dos tesouros mais precisos que têm, os filhos. 

Enquanto ficam na escola, ficam confiados a quem dá tudo por tudo, para que esta saudade e ansiedade  que sentem seja minimizada. 

Acolhemos, confortamos e tentamos apaziguar estes corações. Algumas lágrimas vao caindo cara abaixo, e caem diretas no chão, sem qualquer aviso. 
O dia vai passando, a dor vai diminuindo, porque a nossa função, também é valorizar este momentos e ajudá-los a ultrapassar estes pequenos momentos. 

Dormem, descansam, lancham, ... o dia começa a chegar ao fim. O sol começa a descer bem calmo, e os corações, outrora descansados, voltam a bater mais acelerados e a sentir a necessidade de voltar para os braços de quem os fez nascer. Para muitos, a grande maioria, o dia começou bem cedo, e prolonga-se até ao fecho da escola. Prolonga-se até ao último minuto. Prolonga-se, porque infelizmente, a valorização, o esforço e o cargo dos pais sobrepõe-se a estes pequenos tesouros. Esforçadamente, andam na labuta diária para que os tesouros tenham todas as oportunidades que sejam possíveis nas suas vidas. 

O tempo que passam com os mais pequenos, torna-se mínimo, não sendo possível para mais...
 Mas que ao existir, que seja rico de relações, de afetos, e seja valorizado de tal forma, que a relação que fazem crescer, seja baseada na sinceridade, na humildade e na cumplicidade. 

O tempo não para.

Ao alertar para este tempo precioso que pais, famílias, devem passar com os filhos, alerto principalmente para o facto de ser um tempo que não é recuperável. 

Alerto para a preciosidade que assume na construção harmoniosa dos filhos de cada um. Porque apesar de todos os educadores dizerem, "as nossas crianças", " o nosso grupo", eles não são nossos, não nos pertencem, não tomamos as decisões que os pais tomam relativamente às vidas futuras dos filhos. São  de quem os criou, educou e continua a cuidar. 

Somos educadores, e muitos de nós, acabamos esquecidos no tempo por quem cuidamos durante tanto tempo. Mas os pais, aqueles que acabaram por não aproveitar cada segundo das vidas dos mais pequenos, continuam a lidar com eles por toda a vida. As decisões que tomam agora, são as ações que irão colher no futuro. E se eu estarei apenas 5 anos, no máximo com os vossos filhos, estarão vós o resto das vossas vidas!  Porque de facto, eles são os vossos filhos, os vossos bens preciosos.

Voltando à rotina diária, a escola já deveria ter fechado... Mas ainda aqui estão algumas crianças que vieram abrir a escola. Abraçados a quem cuidou deles durante todo o dia, e após 11h de escola, os pais chegam cansados, e de sorriso cansado, levam os seus bens para casa, alguns com pouca paciência  para esta verdadeira  relação de pais e filhos.

Assim que veem os pais, correm a toda a velocidade, dão um abraço sincero e tudo fica melhor. 

Mas antes de sair, os mais pequenos abraçam-nos e  dizem-nos através do olhar:
"Até já. Vou ali dormir num instante a casa e já volto." 

#umacaixacheiadenada

Rui

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