Desafiam-nos a olhar para eles como crianças!

Junto à mesa, com um balde na mão e diversos animais, começou a cozinhar o que parecia ser o almoço. Tira, põe, volta a tirar, volta a colocar. Falta-lhe a colher. Não, não está a fazer o almoço. Está apenas a colocar todos aqueles animais naquele pequeno balde, está a fazê-lo de forma livre, sem qualquer intervenção ou apoio dos adultos da sala. Aquilo que aparentava ser uma refeição, não passa de um balde CHEIO de animais de madeira. Esta pequena brincadeira, vazia de tudo o que poderá ser pedagógico, não o faz avançar, em nada, nos seus conhecimentos e aprendizagens. Então, se não adianta de nada, porque continua ele empenhado em encher aquele balde? Se não contribui para o seu crescimento, porque mantém ele a sua motivação e envolvimento nos 100%? Será uma boa pergunta... Mas o melhor mesmo é analisar a resposta que nos dá... através do seu comportamento. Estes momentos de tão grande importância, fazem-nos olhar para o brincar como a verdadeira forma de crescimento, onde eles próprios estabelecem as suas metas, e se desafiam a ultrapassar problemas e obstáculos imprevistos. Mas mais do que se desafiarem a eles próprios, desafiam-nos a olhar para eles como crianças, como seres que não necessitam de atividades complexas para começar a crescer, alias, para continuar a crescer. O balde continua, enche-se e fica vazio, enche-se e fica vazio... matemática... volumes... persistência... Mas o seu grau de envolvimento continua no mais alto nível, chama-se brincar, brincar de forma pura, sem qualquer imposição minha. E se olharmos com atenção, reconhecemos as expressões que fazem, que revelam um conhecimento  nesta relação que estabelecemos com eles, torna-nos atentos a todos os seus gestos, torna-nos verdadeiros cúmplices destas brincadeiras complexas que desenvolvem... Tornam-se aprendizes da sua própria vida, dando as respostas mais necessárias ao que aqueles pequenos corpos e mentes desejam ver respondidas. Tornam-se uns verdadeiros atores do guião que estão a escrever.. e nós dizemos apenas, ação, e acompanhamos toda a cena. Dizemos corta, quando percebemos que estão prontos para passar para a próxima cena, que estão preparados para avançar mais um patamar... Mas não se esqueçam, que o guião, foi, e é escrito por eles... Nós apenas acompanhamos o desenrolar da cena, sem cortarmos aquilo que eles querem concretizar, o filme da vida de cada um, baseado no interesse e história individual de cada criança.

#umacaixacheiadenada


Rui Inácio

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