Seremos companheiros de brincadeira

As minhas pernas tornaram-se num túnel para passar, numa árvore para trepar, num poiso para pousar, num espaço para acalmar. São apenas pernas, mas que estabelecem um contacto com os pequenos. As minhas pernas são só pernas, que andam pelo chão, que se tornam cavalos para montar, escorregas para escorregar, porque aqui, entregamo-nos da cabeça aos pés, com o propósito de permitir que brincar como querem... Com o propósito de dar continuidade a uma brincadeira que iniciaram. São apenas as minhas pernas, mas que continuam a ser objeto de brincadeira. E se continuo parado no mesmo lugar, a correria para passar por debaixo delas não para. Rodopiam como se tratasse de um carrossel. Quando passam por este longo túnel, olham para cima, espreitam o outro lado, e sorriem, mostrando uma satisfação enorme no que estão a fazer. Mostram-se disponíveis para brincar... E nós... Mostramo-nos disponíveis para sermos companheiros de brincadeira, dispostos a desafia-los ainda mais. As pernas continuam a ser só as minhas pernas, mas para eles, são mais do que pernas, são proximidade, são relação, são vínculo, são afetividade. E ao descermos do nosso patamar, ao descermos da nossa atitude de adulto, valorizamos as tentativas que vão fazendo. E se não encontramos nenhum termo pedagógico para definir esta brincadeira, poderemos  sugerir, desenvolvimento da afetividade entre ambos, como cumplicidade,  amizade... ou para simplificar ainda mais, brincar... Só brincar. Mas as pernas, que são apenas pernas, continuam a desafiar cada um a criar e a mostrar que brincadeira quer ter... Com as pernas... E comigo...

#umacaixacheiadenada

Rui Inácio

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