Somos máquinas... Um tanto ou quanto registadoras...

Há um silêncio na sala que parece não se quebrar. Ouvem-se alguns a ressonar, outros a chuchar na sua chucha, outros apenas riem durante o sono, há, ainda os que esboçam pequenos choros, que depressa param. 

"Mãe!!!" diz um pequeno a choramingar e senta-se na cama, ainda que continue a dormir. 

Rapidamente, o aconchego e o embalo no sono profundo. 

O corpo descansa, a respiração é calma e profunda. Ouvem-se bocejos e pequenos movimentos para encontrar a melhor posição, para que assim possam continuar a dormir: uns de barriga para baixo e esticados, outros de barriga para cima e com os braços junto ao corpo, outros ainda dormem de joelhos e embrulhados nos lençóis, outros em posição fetal, cada um com a sua posição... Há no entanto aqueles que se mexem tanto, que teimam em estar sempre destapados. 

Apesar de serem vários na sala, sabemos a forma como cada um gosta de dormir, conhecemos o modo como gostam de ser confortados quando começam a chorar, sabemos como devemos agir, um a um, de forma a que voltem a ter o conforto de que necessitam. 

Apesar de termos vários a nosso cargo, vamos reconhecendo cheiros individuais, vamos reconhecendo as roupas, que tantas vezes pedimos aos pais, de forma encarecida que a identifiquem. 

O pós sesta, em alguns dias, naqueles dias em que todos acordam e se levantam sem estarem sequer vestidos ou trocados, a sala torna-se num verdadeiro amontoado de roupa, digna das mais célebres feiras. É então que os desafios começam: reconhecer o que pertence a cada um. 

Lembrarmo-nos, após uma manhã de trabalho intenso, o que traziam todos eles vestidos... e fazemos um pequeno jogo de associação e de correspondências. Vamos desenvolvendo a nossa memória e a nossa capacidade de associação visual, vamos treinando, diariamente, estas competências, para que, no final do dia, os pais que vão buscar os seus filhos, não fiquem intrigados com as trocas de roupas dos pequenos, não fiquem chateados com, "Como é possível trocar a roupa do meu filho?" 

De facto, continuam intrigados, porque apesar do nosso esforço, não somos máquinas registadoras, que registam tudo o que se faz ou tudo o que se traz. Porque não somos máquinas registadoras de apenas uma criança... Somos máquinas, sim. Mas não registadoras, somos máquinas que utilizam a memória visual, a multiplicar pelo número de miúdos que existem em sala. Não somos máquinas registadoras com o botão REC, que de forma automática começam a gravar. 

Somos máquinas que quando recebem cada criança, recebem com o intuito de a acolher e de valorizar o seu bem-estar e que sabem como deverão receber cada uma delas na sala.
Somos máquinas que ao receber cada um, tem o restante grupo debaixo de olho, e sim... Há recados que por vezes não registamos, afinal todas as máquinas atingem o seu limite ou simplesmente encontram alguma falha. Porque quando estamos a receber cada criança, continuamos preocupados com os que já chegaram e que já estão a nosso cargo... 

Somos máquinas... Um tanto ou quanto registadoras... mas... voltando à sesta... Acabaram de acordar!!! 

#umacaixacheiadenada

Rui 

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