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O tempo roubado ao brincar

O tempo roubado ao brincar Vivemos numa sociedade apressada. Uma sociedade que mede o valor do tempo pelo que se produz, e não pelo que se vive. O andar depressa tornou-se uma virtude e o “não ter tempo” um símbolo de importância, de uma agenda ocupada. Neste atropelo diário e nesta corrida desenfreada por querer fazer, há um tempo que se perde sem que muitos deem por isso, o tempo de brincar. O brincar, essa ação simples, ancestral, linguagem de infância, espaço de descoberta, ensaio de vida, está a desaparecer dos dias das crianças. É substituído por agendas preenchidas, atividades estruturadas, ecrãs e pressas silenciosas. O brincar, aquele que nasce do nada, que cresce da imaginação, que se inventa a partir do nada, tornou-se quase raro, exagerando, um luxo. Há quem diga que brincar é perder tempo. Mas, é precisamente no brincar que a criança o encontra: o tempo que se alonga, e quase não termina, que se enche de mundos imaginários e invisíveis aos olhos dos outros. No brincar, o t...

O Legado dos que ensinam

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Há profissões que não terminam ao final do dia. Há profissões que se medem em horas, relatórios e resultados. E há outras que se medem em marcas, aquelas que ficam gravadas no olhar, nas palavras e nas memórias de quem um dia aprendeu connosco. Ser professor é isso mesmo, deixar marcas invisíveis, que perduram. É plantar sementes sem garantias de colheita, mas com a certeza de que, em algum tempo e em algum lugar, algo florescerá. Os professores não trabalham apenas com conteúdos, trabalham com pessoas, com sonhos e o futuro. São construtores de caminhos, tecidos na curiosidade, e incentivadores de interesses e de esperança. Todos os dias abrem janelas para o mundo e ensinam a ver o que ainda não se vê. Mas também se deixam ensinar e envolvem-se na relação da aprendizagem. Há em cada professor um pedaço de futuro, que um dia se torna eterno. Cada gesto, por mais simples que pareça, pode transformar uma vida. Uma palavra de coragem, um olhar de confiança, uma escuta verdadeira… São pequ...

Escutar não chega: As crianças têm o direito de participar

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Escutar não chega: As crianças têm o direito de participar Todos os dias, nos jardins de infância e nas creches, por todo o país, as crianças entram com a promessa do respeito pela sua liberdade, descoberta e muita brincadeira. Mas ao atravessarem esses portões, nem sempre encontram um espaço onde a sua voz é, verdadeiramente, ouvida. Ou, pior, é-lhes pedido que escutem, mas que não falem, que participem, mas apenas naquilo que convém. A Recomendação n.º 2/2021 do Conselho Nacional de Educação lança um alerta: as crianças têm o direito à participação desde os primeiros anos de vida. Não se trata de um favor, ou, até, de uma moda pedagógica é um princípio ético, pedagógico e democrático. A participação surge como um direito consagrado na Convenção dos Direitos da Criança e a Educação de Infância é a primeira etapa onde esse direito pode, e deve, ser exercido. Participar é mais do que dar a opinião Quando falamos em participação da criança, não estamos, apenas, a dizer que as crianças po...

Entre o deixar e o confiar

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Entre o deixar e o confiar O início do ano letivo não é só um processo de adaptação para as crianças, é, também, um momento de adaptação para os pais. É um momento delicado de deixar ir, de confiar e, ao mesmo tempo, de permanecerem presentes. É um tempo de crescimento, para todos. Os pais não deixam apenas os filhos na escola, deixam pedaços de si, deixam a preocupação: se vão comer, se vão brincar, se vão ser felizes, se vão ser bem cuidados. E isso merece ser reconhecido. E têm direito de o sentir. Mas, ao mesmo tempo, é importante compreender que a escola tem o seu ritmo, a sua organização e os seus profissionais, responsáveis e conscientes. O respeito pela individualidade da criança anda de mãos dadas com o respeito pelo trabalho de quem a acompanha todos os dias. Ser pai ou mãe numa escola é estar disponível para colaborar, participar e dialogar, mas também é saber dar espaço à adaptação. É acreditar que, quando se fecha a porta da sala, há uma equipa inteira a cuidar, a educar, ...

Acolher para ser acolhido: o verdadeiro começo. (Adaptações)

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Não são apenas as crianças que se adaptam ao início do ano letivo. Educadores e auxiliares iniciam, também, todos os anos, um novo caminho: conhecer os nomes, conhecer e acolher as crianças, escutar as famílias, sentir as dinâmicas de cada grupo, sentir a individualidade. A adaptação, para os adultos da escola, é aprender a olhar para aquele conjunto de crianças, específico, não como uma “turma”, mas como uma microcomunidade que se vai tecendo, construindo, dia após dia nas suas responsabilidades e relações. Neste tempo, descobrem-se afinidades, encontram-se pontos de equilíbrio, de ajuste de práticas para que cada criança encontre o seu lugar. É uma resposta pedagógica adequada às reais necessidades das crianças. É, também, uma adaptação feita de escuta às famílias, aos pais que chegam cheios de perguntas, expectativas e, muitas vezes, receios. A presença do educador e do auxiliar não é apenas pedagógica ou de logística, é sobretudo uma presença humana. São eles que acolhem, confortam...

O tempo da infância não tem pressa (adaptações)

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O tempo da infância não tem pressa (adaptações) O início do ano letivo é, para muitas crianças, um recomeço cheio de emoções misturadas: entusiasmo, curiosidade, medo, insegurança. A adaptação não se mede em dias de calendário, nem em horários rígidos, mede-se em vínculos, em relação, em sorrisos e abraços partilhados e na confiança que vai crescendo de forma invisível. Cada criança traz consigo a sua história, o seu ritmo e a sua forma única de viver o mundo. Algumas correm para a sala de braços abertos; outras preferem espreitar com passos tímidos. Ambas estão certas. Ambas precisam de ser respeitadas. Ambas precisam de tempo. A adaptação é um processo de escuta, onde os adultos devem estar dispostos a ouvir os medos, a dar espaço às lágrimas, a celebrar as pequenas conquistas. A adaptação é permitir que o brincar seja ponte entre o novo e o familiar. É compreender que a infância é feita de tentativas, de tempo e de cuidado. Se há algo que não podemos esquecer, é que a infância não s...

Dia Mundial da Criança: um convite a escutar com o coração

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Hoje é o Dia Mundial da Criança. Mas, na verdade, todos os dias o deveriam ser. Ainda assim, é necessário relembrar para a necessidade de respeitar estes direitos. Todos os dias nos deveríamos lembrar que, antes de ensinar a contar, temos de lhes mostrar que contam histórias, histórias das suas vivências, as suas próprias histórias. Que, antes de lhes pedir silêncio, devemos aprender a escutar os seus gestos, os seus risos, as suas pausas, os seus momentos criativos. Que, antes de lhes dar brinquedos, precisamos de lhes oferecer tempo, presença e chão para sonhar, para criar, para SER. As crianças não são um futuro distante. São um presente cheio de possibilidades, de oportunidades, de perguntas e de pequenos grandes nadas que se transformam tudo. É ser criança Neste dia, não lhes ofereçam apenas um presente. Ofereçam-lhes o que de mais precioso tem: a escuta, a confiança, o colo, a tua atenção verdadeira, a possibilidade de brincar e crescerem felizes. Lembrem-se que, aos olh...

Votar, um Direito à participação na Educação de Infância (e na Sociedade)

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Votar, é um direito.   O dia de hoje torna-se, de facto, um momento que nos remete à reflexão, nomeadamente, porque somos chamados a cumprir com o nosso Direito e Dever Cívico, votar. Somos chamados a Ser Sociedade e a contribuir para que a mesma seja decidida por todos os que dela fazem parte.  A sensibilização para este ato, conquistado no nosso país há 50 anos, é algo que deve ser valorizado e, acima de tudo, sensibilizado na Educação. Falar do direito ao voto é dar a palavra, é dar a possibilidade de escolha e de participação.  Sensibilizar os mais novos para a importância deste ato, é algo que deve acontecer desde cedo, de modo a que, enquanto cidadãos, se tornem conscientes e ativos na sociedade a que pertencem.  Viver o Jardim de Infância, o grupo, a turma (nos restantes ciclos), é reconhecer que são microssociedades, como tal, cada um assume o seu papel. São distribuídas tarefas importantes de serem cumpridas, de modo a que o grupo esteja em harmonia e c...

Ser afeto na Educação (de Infância)

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A relação entre o adulto e as crianças desempenha um papel crucial na educação de infância. Este vínculo não é apenas um elemento facilitador, é um alicerce fundamental para o desenvolvimento saudável e integral das crianças. Os educadores de infância e auxiliares de ação educativa desempenham um papel fulcral na construção dessa relação. A atitude que revelam vai para além da transmissão de conteúdos, segue rumo ao desafio em prol da confiança, envolve a criação de um ambiente seguro e afetivo, no qual as crianças se sentem capazes de explorar, aprender, transmitir, partilhar de um modo livre. Falar da relação em educação (de infância) é reconhecer que esta só se constrói quando existe confiança mútua. Planear um ambiente desafiante, um cenário de oportunidades é promover a confiança nas crianças, elogiar e incentivar a partilha dos seus pensamentos, dúvidas, descobertas e principalmente, dos sentimentos. Essa confiança prepara as crianças para a aprendizagem, permite que se sintam va...

Brincar é a melhor tarefa para as férias.

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Ai as férias… e a necessidade de lhes dar trabalhos de férias! Em tempo de férias, e não só, é recorrente que os hipermercados e as livrarias incentivem a compra de manuais. Criam-se locais de destaque e, desta forma, enganam-se os compradores com slogans de incentivo à preparação para o ano escolar. De acordo com o que dizem “aconselha-se a que não percam o ritmo escolar”. Mas o que é o ritmo escolar na Educação de Infância e não só? Não existe. Existe o ritmo individual, incentivado no interesse das crianças em brincar, que inclui, questionar, procurar soluções, desenvolver planificações e mapas mentais, pô-los em prática, criar relações com os outros, ser autónimos, independentes e proativos. Mas voltemos aos manuais expostos, abruptamente, nas prateleiras dos hipermercados. Frases como, “preciso de um livro com tracinhos para ele/ela treinar”, “quero um livro com números para ele/ela escrever”, “ele/ela precisa de estar entretido com números e letras, quero um livro”, “ele/ela está...

Brincar e o desenvolvimento Cerebral

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As  descrições de práticas na Educação de Infância afastadas do que realmente importa, continuam a surgir de forma incessante. Por incrível que pareça, continua-se a insistir em práticas que valorizam os tracejados, os números, as letras… tudo o que os afasta de ser crianças.  Por incrível que pareça, continua a existir a urgência de refletir acerca do brincar.   Reconhecer a importância que o brincar assume no desenvolvimento integral das crianças, é refletir na necessidade de construção de uma boa estrutura educativa, que deve ser centrada nas oportunidades, vivências, desafios e ambientes positivos e estimulantes. Acima de tudo, é permitir dar-lhes tempo para fazerem o melhor que sabem: brincar. Mas é preciso dar tempo! Os caminhos que se constroem durante o processo do brincar, vivem, de um modo direto, o processo de aprendizagem. Inevitavelmente, brincar é um processo que nos transporta para o conceito de adaptação e de evolução da espécie, sendo evidente a nece...

"A minha filha só tem nódoas negras nas pernas, estejam mais atentos!"

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"A minha filha só tem nódoas negras nas pernas: estejam mais atentos!" Quem nunca ouviu esta frase? No fundo esta frase associa-se, diretamente, ao brincar, às atividades que as crianças desenvolvem e, muito importante, à vivência de uma infância que prevê o risco, o cair, mas do que isso, o levantar. Obviamente que, enquanto profissionais de educação, o cuidado com as crianças, pelo seu bem-estar, pela sua segurança é algo que nos faz estar atentos e no qual centramos a nossa prática. Permitir que as crianças brinquem no exterior, no interior, pressupõe um conhecimento do espaço, de modo a que se previnam situações de acidente. Somos responsáveis por conhecer os espaços que se tornam espaços de brincadeira. Mesmo que, posteriormente, tenhamos a sensibilidade de envolver as crianças na consciência para os cuidados a ter. Nestes momentos, fantásticos, de brincadeira quer no exterior, quer no interior, as crianças iniciam um processo mental, e expõe-no no modo como o praticam. ...

Valorizar o SER em construção: transições

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A articulação e dar continuidade a processos de aprendizagem são aspetos que, realmente, são bichos de sete cabeças e que, no fundo, vêm revelar a desvalorização das fases anteriores ao ciclo em que se encontram. Se cada vez mais há a defesa de transmissão de conhecimentos entre docentes, entre educadores, porque se continua a ignorar este processo de transmissão que facilitam e tornam as transições em momentos mais harmoniosos e centrados nas crianças? Está na altura de olharmos para cada fase de vida das crianças de forma séria, de forma valorizada. Cada momento é importante e fundamental. Saiam do vosso pedestal e sejam humildes para escutar e ouvir quem passa e passou os últimos anos de vida com aqueles que irão receber. Mais do que perceber se o comportamento é adequado ou não, não é urgente perceber os percursos que delinearam, há muito além do comportamento. Ignorar estes momentos de conexão e de partilha é ignorar anos de infância, crescimento e aprendizagens. É a desvalorizar ...

Saibamos agradecer, sempre, às crianças!

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Ao longo do ano surgem, sempre, agradecimentos a todos os que vão intervindo nas práticas diárias,  desde a creche a qualquer fase da educação. Agradecemos aos educadores pelo trabalho desenvolvido e a relação entre os conhecimentos e o respeito das crianças. Agradecemos aos auxiliares de ação educativa o cuidado e o empenho por fazer com que as crianças se sintam bem. Agradecemos a todos os que participam na vida escola: porteiro, motorista, cozinheiros... todos. Agradecemos, ainda, aos pais por se envolverem na vida escolar, nos desafios lançados para casa, que tantas vezes o fazem de modo contrariado, a participação na escola, o envolvimento nas dinâmicas propostas. Agradecemos. Mas, o principal agradecimento fica por vezes esquecido: às crianças. De facto, temos de reconhecer e saber agradecer: - Por nos desafiarem diariamente a ir ao encontro daquilo a que eles realmente têm interesse; - Por permitirem que cheguemos às suas dificuldades, ás suas fragilidades e caminhemos junto...

Tanto há a fazer pela dignidade da infância

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Hoje em dia falar da infância tem-se tornado algo banal e acessível a todos, no entanto, através dos famosos achismos e dos detentores de toda a razão, se tiram conclusões rápidas e diretas em prol do que se considera o bem necessário para o desenvolvimento das crianças. A futilidade impera. As redes sociais são, cada vez mais, invadidas por plataformas com recursos digitais, que se dizem beneficiar o desenvolvimento das crianças, por publicidades de manuais que se dizem ser uma mais valia na preparação para a transição para o 1º ciclo,… Uma panóplia de situações que nos deixam a pensar, realmente, na dignidade da infância. Torna-se muito curioso que, cada vez mais, exista a necessidade de se falar acerca do brincar, algo que seria suposto acontecer de um modo natural na vida das crianças. Esta temática acaba por nos levar a uma reflexão muito pertinente, de facto, cada vez mais, as crianças estão afastadas do brincar e mais centradas nos objetivos, que se consideram fundamentais para ...

Arraiais, Finalistas e Cartolas

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  Final de ano a aproximar-se e as preocupações mudam, substancialmente. As prioridades mudaram de um momento para o outro, e o discurso parece ter mudado um pouco. Ou seja, passámos um ano letivo a defender os diretos das crianças, a valorizar o SER criança, mas tornamos este final de ano num verdadeiro terror de peças de teatro, canções, danças, e afins, tudo para que os arraiais aconteçam e as crianças sejam, mais uma vez, o foco de atenção. No entanto, para serem esse foco passaram semanas a ensaiar algo que nunca tinham feito, algo que não reflete o ano que passaram, mas vale tudo! Lá começam as febres das festas de final de ano, associadas às festas de Finalistas…. E mesmo sabendo que a maioria ira transitar de ciclo, ou de etapas, falando na creche e na educação pré-escolar, cada mudança leva a uma festa de finalistas… à construção de cartolas reluzentes e brilhantes, que acabada a festa tem o seu destino marcado: lixo. É um tempo gasto em prol de um embelezamento que as...

Evidências de práticas: encomendas para redes sociais e outros tais!

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Observar, Planear, Registar, Documentar, Avaliar, Agir,  porque fazemos e com que intuito?  De facto, estas ações fazem parte das nossas competências de Educadores de Infância, como tal, merecem a nossa melhor atenção e cuidado.  Ao aceitarmos o desafio desta profissão, deveremos ter consciente o peso que ela acarreta e, como tal, devemos estar conscientes do que publicamos e porque publicamos as práticas nas redes sociais ou nos grupos de pais.  A valorização da profissão passa, acima de tudo, pela forma como revelamos o nosso trabalho, as nossas práticas que promovem a escuta e o envolvimento das crianças. Aliámo-nos às tecnologias com o intuito de reforçar o que observamos, de registar momentos que consideramos importantes e que revelam o percurso que as crianças tiveram, levando a que exista um estreitamento na comunicação entre intervenientes. Estes registos ajudam-nos, acima de tudo, a reforçar o que avaliamos, ajudam-nos a comunicar com as famílias de um modo ...