Os Sinais do Tempo, agressividade nas crianças.
Os Sinais do Tempo, agressividade nas crianças.
Há dias em que paro e observo as relações, na sala, no exterior, espaços onde tudo acontece, riem, choram, disputam e abraçam. As crianças parecem carregar às costas um peso que não é delas. Um peso que lhes é exterior, que vem dos adultos, que vem do tempo em que vivemos, ou arriscaria a dizer, sobrevivemos.
Vivemos tempos apressados, tempos que pedem resultados rápidos, comportamentos “certos”, emoções controladas. E, as crianças, robots humanos, vão tentando encontrar uma forma de agir num mundo que lhes mostra comportamentos confusos. Querem ser vistas. Mas, o medo de não caber na normalidade que lhes é exigida, é maior do que o desejo de simplesmente SER.
Há dias em que existem empurrões, e vemos apenas essa ação, o empurrão. Mas, se tivermos a capacidade de olhar além disso, vemos que o gesto é uma palavra que ainda não sabe ser verbalizada, uma emoção que ainda não aprendeu a lidar e a torná-la diálogo.
A agressividade é a língua de quem, ainda, não encontrou outra forma de se fazer ouvir. E quando lhes pedimos “não batas”, “não grites”, “não faças isso”, esquecemo-nos de perguntar: o que é que querias dizer com isso?
Os sinais do tempo de hoje estão cheios de silêncios. As crianças vivem rodeadas de estímulos, mas, paradoxalmente, encontram-se cada vez mais isoladas. Falam menos, tocam-se menos, escutam-se pouco. E quando o corpo fala, com a força, com a raiva, apressamo-nos a corrigir, em vez de compreender.
Parte deste novo paradigma encontra-se justificado, também, nas rotinas que fomos construindo. Falta-nos tempo em família, tempo útil, verdadeiramente. Os ecrãs ocuparam os espaços da conversa, do brincar e até do silêncio. E nós, adultos, tantas vezes cansados e sobrecarregados, esquecemo-nos de que o respeito pelas crianças começa no modo como as escutamos, como as olhamos e no espaço que lhes damos para se exprimirem.
Não se trata de alcançar perfeição, e muito menos a normalidade, mas sim de disponibilidade e de sensibilidade.
Existem pequenos gestos, como um olhar atento, um abraço, que podem ser a solução mais simples contra esta expressão.
Talvez o desafio seja outro, voltar a ensinar o que significa sentir, permitir o erro, o choro, a zanga, não como falhas, mas como expressões de sentimento da humanidade.
Aceitar é um caminho longo e respeitar o outro só é possível quando o respeito por si próprio surge em primeiro.
É tempo de ouvir mais os empurrões do que os discursos. De ver, para além do gesto, da necessidade, encontrar a emoção e o sentimento que os molda.
Atrás de cada birra, de cada confronto, de cada “não quero!”, há uma criança que quer ser escutada.
Os sinais do tempo de hoje pedem-nos menos pressa e mais presença. Pede escuta com todo o corpo.
Quando formos capazes de ler os sinais que as crianças nos mostram, poderemos ajudá-las a construir a sua história.
Rui Inácio

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