Na Educação de Infância: eu, os outros e as redes sociais.

Hoje em dia as práticas que assumimos nas salas, tendem a refletir os nossos princípios, as nossas formas de estar perante a educação e as prioridades enquanto Educadores de Infância.

Vivem-se momentos intensos enquanto sala, planeados, especificamente para as crianças que estão diante de nós. Essa preocupação revelada nas planificações, ou no tempo que se dá às crianças para participar na mesma, demonstra a nossa capacidade de olhar para cada uma e para o grupo, como elementos que participam naquilo a que chamamos Educação, principalmente, a sua própria educação.

Torná-los participativos? 
Só até onde nos sentimos seguros, 

As oportunidades que acabamos por pensar tendem a beneficiar as observações realizadas, as tentativas, o crescimento e os sonhos de cada um, afinal, ser educador é isso, é permitir que as crianças continuem a usufruir de momentos unicamente construídos para eles.

Centramo-nos no eu profissional, na sala, na MINHA prática, e acabamos, muitas vezes, por esquecer que a educação é um processo que exige conexão com os outros, que implica o confronto de ideias, o debate, a defesa do ser educador, a construção de uma identidade comum baseada no principal, as crianças e não o educador.

O orgulho deixa-nos com o telemóvel cheio de recordações, de fotos apanhadas desprevenidas ou, algumas delas, até provocadas. Não nos podemos perder na exibição mediática, na divulgação em busca de um reconhecimento dos outros, na exposição em montras intocáveis e sem expressão. Sem percebermos, essa é a montra que expomos, sem pensar, sem estarmos conscientes do alcance que poderá ter.

Ser educador, ser um divulgador de imagens, de dinâmicas, de atividades, de oportunidades… sim, porque não? Mas, qual é a real razão de o fazermos? Esperança de um pagamento compensador? Um reconhecimento desmedido? Uma valorização pessoal baseada em likes e comentários? 

Não, uma partilha fundamentada na prática, fundamentada no interesse das crianças e não no ego do adulto. É isso, que educador sou e que preciso de ser? 

Esta profissão pressupõe a vivência de valores, respeito, aceitação pelo outro, empatia, interajuda, e poderia continuar e não parar mais, mas fico-me por aqui. A questão centra-se nesta premissa, avaliamos estes indicadores nas crianças, conseguimos avaliar esses indicadores em nós próprios?

Existindo a passagem do EU  para o nós, e talvez para as redes sociais, denota-se uma transgressão de linhas frágeis que roçam o desrespeito, a falta de interajuda, a incapacidade de perceber o que se faz, não no sentido de acusar, mas de romper com as práticas individuais, práticas estas que se tornam, em muitos casos, afastadas das realidades que todos vivemos. E, como tal, surgem expressões, formas de ataque, sem sequer pensar na imagem que se transmite acerca do mundo da Educação.

O que dizemos, não é o que fazemos. Dizem...

Esta relação estabelecida entre pares virtuais, denota uma falta de bom senso, uma falta de ética profissional, uma falta de sensibilidade ao outro, uma falta de consciência, de que tudo o que se diz, fica evidente nas redes sociais por tempo indeterminado… 

A raiva, a tristeza, a opressão, o bullying virtual, veste-nos sem que nos apercebamos.

Não estou com isto a defender as práticas prontas a vestir, porque as desvalorizo, mesmo! Afirmo apenas que, transparecemos o SER EDUCADOR (loja pronto a vestir) que veste a mesma roupa às crianças que passam por nós ao longo dos anos, ignorando o seu interesse, a motivação, a forma de estar, as vivências que traz consigo e o conhecimento que possui. Mas sim, poderemos ser Educadores alfaiates, daqueles que se dedicam de corpo e alma em construir, em fazer algo à medida, em sentir a satisfação dos mais pequenos no atingir dos desafios, de viver, de sorriso no rosto, cada oportunidade de um modo único e inesquecível.

É isso que me faz acordar e ser educador.

Com a exposição mediática nas redes sociais, afagamos os egos e tornamos práticas vazias e afastadas das crianças, em verdadeiros troféus que, com o tempo, ficarão esquecidos nas prateleiras da casa, troféus com mais likes e, talvez, com mais partilhas. Esquecemo-nos que nas redes sociais se passa a linha ténue do ser educador para o ser espectador e comprador gratuito de ideias, trabalhos expostos, de protótipos prontos a serem impressos de Norte a Sul, de Este a Oeste, nas nossas Ilhas e nos países do outro lado do mundo.

Com isto pensemos apenas: porque existem educadores nas sala: para comprar ideias baratas e aplicar sem medida? Que Educador sou, quero ser e precisam que seja?

Por vezes as redes sociais tornam-se quase que as antigas páginas amarelas, em que basta procurar e tudo será encontrado. Mas ao encontrar o que precisam, não significa que seja aplicado sem medida. Há algo melhor do que recorrer à crianoogle? (Uma junção barata entre criança e Google, os patrocínios não dão para mais!)

Que é como quem diz, as crianças, olhar, escutar, saber observar e tê-las em parceria, em parceiras que evocam a participação.

Mas como dizia, as redes sociais vestem-se, cada vez mais, deste tamanho padrão, tornando-se em verdadeiras partilhas virais que, mais uma vez, nos conduzem à pergunta: Afinal, o que é ser educador?

Existem pois os que, de forma consciente, constatam que esta problemática se torna uma negra mancha na identidade dos educadores. Há também os que continuam a manter a prática de pedir algo como uma ação recorrente. Basicamente, é viver na ignorância e não saber responder às perguntas, o que é afinal ser educador, qual a necessidade de ter um educador em sala, é continuar a viver feliz… uma felicidade enraizada na ignorância.

Eu, os outros e as redes sociais. Não podemos olhar para esta máxima como um modo de estar do qual dependemos, mas sim, olhar para esta relação como algo que pode criar mudança nas práticas, não porque imitam, não porque acharam “gira” uma ideia e a aplicam, mas porque, de facto, refletem, crescem, cooperam e envolvem-se de um modo construtivo. 

Esta relação pressupõe um contacto com todos, valorizando a reflexão entre todos, não o ataque. Valorizando a partilha de boas práticas e não de ideias espelhadas em listas telefónicas. Afinal, para quem são os likes das publicações que vemos diariamente: para o nosso ego, ou para o trabalho real que abraçamos e torna a perspetiva de criança como agente ativo, participativo e cooperante no processo em que nos empenhamos, a educação?

Mais uma vez apelo, ao entrarmos em discussões, em ataques desmedidos, transmitimos uma crise de valores pessoais, uma falta de ética, de profissionalismo, de identidade profissional e de exemplo. E o maior problema, qual é? É que continuaremos a ouvir que a nossa profissão não é valorizada, que não assenta em pressupostos verdadeiros, porque, como é evidente, as quezílias viajam além redes sociais. E nós, limitamo-nos a sacudir a água do capote.

Assim, apenas tornemos consciente que o eu, o nós e as redes sociais, estão inteiramente ligados através das práticas, dos exemplos, da relação que se cria com as crianças e com as famílias, do trabalho em equipa, do ser educador e da identidade profissional do Educador de Infância.

Na Educação de Infância: Eu, os outros e as redes sociais, estão ligados, e não podem ser um fator que desvaloriza a profissão, mas sim, um argumento para chegar aos outros de um modo mais rápido, como um processo de construção comum e cooperado, não como um Cavalo de Troia, disposto a abater uma classe profissional, uma identidade profissional.

Precisamos uns dos outros. Precisamos de estar ligados, conscientes do peso que temos na vida das crianças. Apostar na identidade Profissional do Educador de Infância é apostar na Educação de Infância de qualidade, é apostar no futuro.

Tornar consciente este pressuposto é tornar consciente o nosso papel diário que se centra nos pequenos sonhadores e não nos adultos obstáculos!

Eu assumo o compromisso, e tu?


#umacaixacheiadenada 

Rui Inácio



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