Somos mais do que sites de partilha com receitas prontas a consumir

Somos educadores. Somos profissionais de educação e gostamos da profissão que desenvolvemos: criamos relações de afeto com as crianças que temos e estabelecemos metas de acordo com o interesse de cada uma, ou deveríamos.

Este facto é baseado no conhecimento cuidado de cada criança que, diariamente, vamos conhecendo e fortalecendo, de modo a que consigamos olhar para cada uma delas e sejamos eficazes na forma de atuação, de modo a que atinjam mais facilmente o que necessitam. 

Somos educadores, profissionais que se entregam com paixão naquilo que fazem diariamente: ao mudar a fralda, ao ajudar no almoço, ao motivar para ir à casa de banho, ao amparar quando parece que vão cair, ao secar as lágrimas quando choram, ao alertar para comportamentos agressivos, ... porque tudo isto faz parte da nossa profissão. 

É a profissão que escolhemos e que tentamos levar a bom porto, valorizando tudo o que fazemos, tentando justificar ao máximo o que vamos realizando diariamente, semanalmente, mensalmente, anualmente, ao longo da nossa vida profissional... é essa a nossa meta. Somos uma profissão que valoriza a partilha, que assume uma noção de grupo, que veste o papel reflexivo e, mais uma vez, que partilha. 

No entanto, atrevo-me a dizer, somos mais do que sites de partilha com receitas prontinhas a usar. Utilizamos de forma recorrente o famoso Pinterest, o Facebook, e todos os sites possíveis que nos deem orientações precisas acerca do que necessitamos por em prática. De facto, a profissão que escolhemos, leva a que partilhemos orgulhosamente a prenda do dia da mãe, que o educador e a auxiliar fizeram (desculpem, que as crianças fizeram!), leva a que mostremos o que fizemos no dia da criança, prenda de Natal, prenda dia do pai, prenda da Páscoa, prenda da família, prenda de final de ano, prendas, prendas, prendas... todas elas disponíveis online... e, simplesmente, propomos/impomos a realização das mesmas. 

Apesar de se considerar importante esta competência, partilha, é ainda mais importante assumirmos a competência, reflexão, aquando decidimos utilizar o que surge nos livros de receitas. Consideramos que temos a melhor profissão do mundo, porque preparamos as crianças para um futuro que queremos que seja risonho e cheio de sucessos. Promovemos o pensar, o refletir e o agir, baseado no interesse e curiosidade de cada criança. Enquanto elementos que apoiam a educação dos mais pequenos, não paramos para pensar/refletir na adequação daquilo que vemos. Não pensamos no: "porque faço o que faço", não demonstramos a capacidade crítica perante aquilo que vemos e gostamos. No entanto, exigimos que os mais pequenos o sejam. 

De forma constante, vemos pedimos de ajuda, e nada tem de mal, no entanto, essa ajuda revela por vezes um desinteresse incrível perante o grupo, onde tantas vezes, basta apenas digitar uma palavra e surgem milhares de sites com ideias, sugestões, ou até receitas. Fomentamos nas crianças a capacidade de pesquisa, mas ao mínimo obstáculo, acomodamo-nos e partimos para as receitas prontas a consumir. 

Somos mais do que sites de partilha de receitas prontas a consumir. 

Somos educadores, profissionais de educação que prezam a originalidade, criatividade, mas acima de tudo, que refletem na sua prática e adequam diariamente as suas estratégias ao grupo que temos! 

Somos verdadeiros amantes do que fazemos, mas teremos de ser mais do que simples pesquisadores, teremos de ser reflexivos, para que a nossa profissão seja valorizada, não pelo grupo que copia sem pensar no que está a fazer, mas pela proatividade que nos caracteriza, pela capacidade de comunicação que estabelecemos com todos os intervenientes, pela capacidade que temos de observação das crianças e, muito improtante, pela intencionalidade pedagógica no momento em que o planeamos. É assim que mostramos o real valor da nossa profissão, Educador de Infância. Temos ainda de ser construtores e gestores de currículos, que por sinal, tem a sensibilidade para adequar a nossa prática ao grupo que anualmente recebemos. Isto, faz com que tenhamos de conhecer o grupo como as palmas das nossas mãos, faz-nos entregar à profissão de dia e de noite, com tantas noites mal dormidas. 

Somos Educadores, somos mais do que sites de partilhas com receitas prontinhas a usar. Somos adultos que potenciam a escuta ativa das crianças com o objetivo, claro, de desenvolver as aprendizagens que interessam a estes pequenos exploradores; com o objetivo de sermos profissionais que se preocupam com as crianças que estão a nosso cargo, que se preocupam com o bem-estar de todas elas, e isso passa por conhecê-las, não por recorrer a receitas que foram preparadas para outro grupo diferente do meu, com diferentes interesses... e que, se para esse grupo funcionou, para o meu poderá ser um simples fiasco. 

Mas como dizia, somos educadores, e somos mais do que sites de partilha com receitas prontinhas a usar!

#umacaixacheiadenada

Rui Inácio

Comentários

  1. Fantástico colega, vou partilhar porque acredito em tudo aquilo que disse w da forma como o disse. Muito grata, desejoum EXCELENTE ano letivo.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Assistentes operacionais, mais do que um termo, uma profissão.

Grupos de WhatsApp de pais, um obstáculo ou uma potencialidade?

"as minhas paredes estão cheias de nada (...) isso é sinal de que não trabalho"