Às Saletes e outros tais: “Se na sala do meu filho fosse um educador, retirava-o logo!”
Ao pensarmos nesta profissão associamos, facilmente, ao género feminino, é verdade!
Sabem porquê Sras. Saletes?
Porque antes de surgirem os Jardins de Infância, a mulher era, sem dúvida, aquela que tinha a responsabilidade de cuidar e de educar os filhos.
Devido às mudanças sociais do papel da Mulher, em que iniciou uma vertente profissional, existiu a necessidade da criação de espaços que promovessem um ambiente de qualidade. Além de surgir o cuidar nesses espaços, surgiu, também, a preocupação por promover momentos culturais e com vertente pedagógica.
No entanto, este ambiente não substitui o que as Sras Saletes fazem: Educar os vossos filhos.
Com o surgimento dos jardins de infância surge também a preocupação por formar profissionais para o efeito, que até então, seria socialmente indicado para o género feminino.
Querem se espantar? Esta necessidade social não surgiu nem hoje, nem ontem. Surgiram os primeiros jardins de infância no século XIX, por UM PEDAGOGO, curioso, não é? Um homem!
Percam um pouco de tempo e façam uma pesquisa, a qual refutará a sua opinião, que se direciona numa falta de argumento tremenda, baseada na pedofilia, no abuso sexual e no educador de infância homem como um tirano sexual.
Cresçam, pelo menos sejam perspicazes nas vossas pesquisas e na forma como constroem uma suposta opinião.
Mas continuemos, o jardim de infância, foi então construído pelo Froebel, um pedagogo e um educador preocupado com a educação das crianças, preocupado com os valores a transmitir e pela forma como se transmitem as culturas.
Queira Deus que ao serem designadas de mãe, olhem para as crianças que têm à vossa frente e reconheçam que aquilo que estão a semear hoje nos vossos filhos, é o que irão colher daqui por uns anos, é nisso que eles se tornarão. Deixem-me dizer-vos, estão a criar pequenos tiranos que incentivam o ódio, o desrespeito e a ignorância. Esta forma de estar que estão a viver, será o seu modo de estar, apropriar-se-ão dela. E se isso vos faz sentir bem, então lamento imenso que assim o seja.
Centremo-nos no conteúdo deste texto, o educador Homem.
Este texto não pretende desvalorizar o papel da mulher na profissão, aliás, há um percurso que nos fez chegar onde estamos hoje, e esse foi construído por mulheres e homens.
Deixem-me vos informar, não existem pré-requisitos de género para a profissão.
Não existem rótulos como aqueles que colocam constantemente. Instruam-se e centrem-se no importante. Os educadores potenciam o crescimento das crianças, centram-se no bem-estar, centram-se nas potencialidades, ultrapassam as dificuldades e estabelecem pontes com as famílias, que, tantas vezes, se tornam verdadeiros obstáculos para o bem das próprias crianças
Olhar para os comportamentos dos filhos é reconhecer comportamentos familiares e estes, que descrevem, que se dignam a atacar, só fará com que o desrespeito e o preconceito viva dentro das vossas famílias.
Se estão preocupadas com o facto da pessoa qualificada que recebe os vossos filhos diariamente, ter competências ou não para praticar a profissão, deveriam, antes, centrar-se no facto de exporem através das redes sociais aquilo a que chamam o vosso bem precioso. Olhem além do achismo e, ao invés de se preocuparem com as correntes que vos agarram ao passado, às inseguranças dos vossos egos, dignem-se a conhecer a profissão, dignem-se a conhecer os profissionais homens que praticam a profissão.
Ser educador não é ser pedófilo, ou tarado sexual, ou aquilo que queira chamar.
Ser educador é ser digno, é saber abraçar a profissão em prol do crescimento dos vossos filhos. É saber aventurar-se na profissão, mesmo sabendo que poderá ter acorrentado a si estas feridas que as Saletes tornam presentes, feridas sociais e que, absurdamente, as espelham em qualquer homem, em qualquer um educador.
É verdade que, ainda hoje, existem reações como as vossas, mas não levantem muros e não tornem os vossos receios recalcados, como uma realidade social, como a verdade absoluta, como a verdade dos vossos filhos. O melhor conselho é que conheçam as realidades, que alarguem os vossos horizontes e permitam crescer em argumentos plausíveis e não em achismos.
Ferem as palavras que usam, tornam-se ingratas na forma como lidam com as situações. Tornam-se exemplos de uma má educação tremenda para aqueles a que chamamos o futuro.
Homens num jardim de infância?
Porque não? Dizem, “deveriam existir mais!”
Deixem que eles façam aquilo que melhor sabem, ser educadores de infância. Permitam que eles sejam profissionais da Educação de Infância, que estão preocupados pelo crescimento dos vossos filhos, seres que estão preocupados em observar, planificar, avaliar e em criar pontes com as famílias, porque a educação não se faz apenas num sentido único. Mas para isso é preciso confiar.
Esta discussão relativa à igualdade de género nas profissões só eleva a dificuldade de respeito entre todos, só sublinha a necessidade de se ver refletida esta temática.
Assumir, publicamente, estas preocupações que se tornam ataques desmedidos, é assumir uma crise de valores gigantesca na sociedade. Descansa-me perceber que os educadores têm formação para exercer esta profissão, que os educadores assumem um caráter reflexivo e que prevê a melhoria constante da sua prática em prol dos vossos filhos.
Já para ser Saletes não existe curso, e muito menos a sensibilidade em relação aos outros.
Estes educadores são pais, são família, como vocês são, Saletes, como os vossos maridos também o são! E, nesta medida, mães, pais, educadores, assistentes operacionais deveriam caminhar lado a lado em prol da educação dos que serão o futuro.
Desejo, sinceramente, que um dia se cruzem comigo, ou com qualquer outro educador, na esperança de que a incoerência de palavras que assumem, nos receios recalcados que detêm, se dissipem aos poucos, após conhecerem as práticas desses “tarados” a que apontam o dedo.
E sabem, o que fazem não é prevenção, é mesmo não reconhecer que os seus receios se tornarão ainda maiores nas crianças que têm à vossa frente. Não é prevenção, é acusação, é crime.
E se este texto poderá estar um pouco assertivo, é porque as reações de tantas Saletes que incentivam ao ódio e à inconsciência, se tornam visíveis, e isso torna-se a maior ferida que a sociedade tem, chama-se ódio e ignorância.
Sejam Seres Humanos, e em vez de semearem essa discórdia e incoerência, tornem-se seres relacionais, que respeitam, que procuram a verdade e não vivem a vida alicerçada no medo e nos recalcamentos das vossas vidas.
Estamos e continuamos serenos no que fazemos diariamente. Gostamos de ser educadores, porque mesmo com este tipo de comentários, mantemo-nos focados no importante, fazer com que as falhas que existiram na educação das Saletes, não chegue aos filhos.
Pelo menos tentámos.
E como dizia Roosevelt, “Pior do que não conseguir, é não tentar”.
#umacaixacheiadenada
Rui Inácio
Que saudades de te ler, Rui, e que leitura esta!
ResponderEliminarSo fala assim quem nunca conheceu um educador homem pois quem tem a sorte de os/vos conhecer, por muitos que sejam os receios iniciais (e acredito que na sociedade em que vivemos ainda existam mas também existem nos primeiros dias com uma educadora mulher), rapidamente percebe que o que faz diferença não é o género do profissional a quem entregamos os nossos filhos mas sim o empenho e dedicação na profissão.
E, verdade seja dita, para vingarem numa profissão maioritariamente feminina, o empenho e dedicação têm que ser muito grandes.
Felizmente tenho conhecido muitos e fantásticos educadores homens (a par com muitas educadoras mulheres) e estou tremendamente agradecida por terem feito parte do meu caminho.
É uma pena que muitos, as Saletes, não consigam ver além do seu umbigo de preconceitos e tabus e continuem a perpetuar que estes se mantenham vivos pela educação que dão às crianças e que, entre medos e receios tantas vezes infundados, os privem de experiências tão ricas como ter um educador homem!
Termino com uma frase tua... pena que não haja mais!
Um beijinho grande.
Fantástico, excelente e subscrevo na integra!!! Sou mulher e mãe!!!
ResponderEliminarExcelente reflexão.
ResponderEliminarMesmo assim, continuam a haver ainda tantas Saletes nesta sociedade com discursos muito eloquentes e enganadores...
Também eu sou Educador de Infância, há já 37 anos.
Também vivi alguns discursos de Saletes, mas sempre pensei que já tivessem acabado.
Afinal, estamos no séc XXI.
Parabéns.
👏👏👏👏👏👏
ResponderEliminarÉ muito importante que mais homens sejam educadores de infância e professores de 1.º Ciclo. Não apenas por uma questão de igualdade, mas, sobretudo, porque, haverá, certamente, muitos que não optam por esta escolha, por receio do julgamento social, por percecionarem dificuldades no mercado de trabalho altamente genderizado e por anteveram a grande desvalorização da profissão. Seria muito importante que todas as pessoas pudessem desenvolver as suas competências nas áreas profissionais com as quais se identificam, sem quaisquer amarras, sejam as de género, as de classe social, as étnicas, as religiosas (e por aí fora), e nas quais, previsivelmente, irão fazer um bom trabalho; e porque é uma questão de Direitos Humanos. Já percorremos um longo caminho, mas ainda estamos muito longe de o conseguir - basta pensar em como a escola reproduz - e, por vezes, até reforça - as desigualdades sociais.
ResponderEliminarUm último apontamento (e peço desculpa, pela dimensão deste comentário): mulheres e homens crescem e recebem educação e influências educativas, a partir de diferentes fontes, que, na sua maioria, irão confirmar a ordem de género (com as suas resistências); não é, por isso, de espantar que as mulheres internalizem crenças sexistas e mesmo misóginas e estereotipias de género (entre outras), tal como os homens: toda a gente aprende e internaliza o seu papel, fiscalizando e punindo os/as outros/as (anote-se o exemplo, nas escolas, das reações dos/as pares a uma 'maria rapaz' e/ou a um 'rapaz considerado efeminado' - atestando a ideia de que tudo o que é do feminino é desvalorizante e o rapaz deve ser desincentivado - pela violência - a interpretar a masculinidade, de acordo com as ideias hegemónicas do que é "ser masculino". O comentário da Salete ilustra desinformação e preconceito. E mostra bem como também se agride com palavras.
Se houvessem nas nossas escolas “Ruis” que respeitassem os nossos filhos, potencializando os seus conhecimentos e a descoberta do que lhes faz sentir capazes, teríamos no futuro, adultos empenhados em fazer o que gostam, lutando e acreditado sempre em si!
ResponderEliminarComo me ensina o meu filho “pior que não conseguir é não tentar”!!!
Bem hajam aos “Ruis”…