Sou homem, sou educador, isso não faz de mim um mau profissional!

Em tempo de mudança de nova escola, de novas crianças, de novo bairro, as adaptações são bastantes.

Apesar de saber que continuo a ser eu, a ser educador, a ser profissional, as reações não deixam de se fazer sentir.

Sou homem. Sou educador.

Afinal, é possível ou não, mesmo enquanto homem, ser um bom educador?

Será que a sociedade está desperta e sensibilizada para esta temática: igualdade de género na educação?

Ao longo do tempo vão existindo lutas pela emancipação da mulher, na defesa de direitos, na ansiedade de existir igualdade para todos, na participação de forma igualitária nos serviços públicos, privados e na sociedade, em geral.

No entanto, as profissões assumem, socialmente, e continuam a assumir, géneros. Ou seja, associam-se as mesmas a géneros, e assim, constroem-se barreiras em torno da expressão "igualdade de género". Criam-se preconceitos e conceitos, tudo em prol de uma cultura que tem vindo a sofrer modificações.

A profissão de educador de infância é, claramente, assumida como uma profissão feminina, reportando para o papel de mãe e de cuidadora. E que, ao longo dos tempos, o termo cuidar se tornou sinónimo de mulher, atravessando diversas profissões que conhecemos ainda hoje. Mas falando da nossa profissão, em algumas situações e, quando confrontados por um educador, nem sempre as reações são as melhores. No entanto, e aquando da minha candidatura no ensino superior, não me recordo de existir um pré requisito para a profissão, nomeadamente, ser do género feminino.

A verdade é que, não calçamos sapato de salto alto para ir trabalhar, não levamos a mala pendurada no braço com tudo o que uma mulher necessita, no entanto, vamos carregados com tudo o que iremos precisar.

Mas mais importante do que carregar material, levamo-nos a nós, levamos a vontade para fazer um bom trabalho, um trabalho no qual desenvolvi competências na faculdade, que me dão habilitações para proporcionar momentos pedagógicos às crianças que tenho vindo a ter a meu cargo, ao longo destes anos.

A educação, independentemente do ano de escolaridade, prevê um ambiente de igualdade, de igualdade de oportunidades e de género.

Continuo a ser educador, foi para isso que estudei. E, independentemente da nota, o meu certificado não específica o género do aluno, não específica o género do educador que se formara. Terá sido esquecimento?

Desafia-se a sociedade a aceitar a igualdade de género de profissão.
Mas questiona-se, o que faz um homem enquanto educador?

Ora vejamos, cria oportunidades pedagógicas, tal como uma educadora.

Preocupa-se com as crianças que tem a seu cargo, e leva os problemas para casa, passando a noite em claro, na ânsia, de encontrar uma resposta para o dia seguinte, tal como uma educadora.

Envolve-se e cria relações positivas e de afeto, baseadas na confiança e no bem-estar das crianças, tal como uma educadora.

Cria momento de escuta dos mais pequenos, que de forma esforçada, mostram os seus interesses e necessidades, e nós, ouvimos, tal como uma educadora.

Troca fraldas quando tem de mudar, limpa rabos quando estão sujos, limpa os narizes quando é necessário, tal como uma educadora.

Observa as crianças, planifica, avalia, constrói e gere o seu próprio currículo, envolve as famílias, tal como uma educadora.

Poderia enunciar todas as competências inerentes à profissão, e faria uma lista que seria o reflexo da minha personalidade profissional.

Poderia enunciar o decreto que define o Perfil Específico de Desempenho Profissional do educador de Infância, mas não. Escrevo, apenas, algumas palavras nesse sentido, simples, sentidas e diretas.

Mas não o faço.

Em novos ambientes a curiosidade acaba por ser bastante, e todos surgem curiosos, dispostos a conhecer e a ver, o que mais parece, um raro animal do zoo! Posto isto, a curiosidade é grande e as investigações remetem-se para teses sobre a igualdade de género na educação de infância. Com isto, pretende-se entender o porquê de querer ser educador, as reações, etc…

Mas desafio, ao invés de investigarem a minha opção profissional, convido-vos antes, a investigar a minha prática, pois é através da partilha de práticas que, conseguimos perceber o verdadeiro significado do termo “igualdade de género na educação”.

E quando voltar a ouvir, “Ficamos assustados! A minha filha vai ter um educador homem?
Pois… mas ainda nos vamos surpreender, respondi eu ao meu marido.”

A minha resposta será só uma: Sou homem, sou educador, isso não faz de mim um mau profissional!


#umacaixacheiadenada


Rui

Comentários

  1. Sou educadora de infância há muitos, muitos anos. Tive estagiários do curso de educação de infância durante 20 anos. Foi um educador -homem- o melhor estagiário de sempre. Muito competente, empenhado … um excelente EDUCADOR. Foi tão grande a sua influência nas crianças e em mim, enquanto educadora, que me fez dar uma "reviravolta" na minha vida e no meu percurso profissional. Obrigada, Ricardo Oliveira!

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    1. Obrigado pela sua partilha e testemunho! A importância que assume o gênero masculino na infância é bastante. A equipa torna-se com maior capacidade de resposta, tendo sempre em conta a especificidade de cada um. Muito obrigado pela sua participação!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. ou educadora de infancia ha mais de 20 anos e durante o meu curso em toda a faculdade so havia 2 homens, 1 deles a vida encarregou se de lhe perder o rastro mas o outro mantivemos contacto e sempre foi excelente profissional. conservava a magia de miudo reguila que apaixonava os grupos de crianças que tinha a seu cargo. Fazem falta mais educadores Homens por todos os motivos. ������ bem haja Rui

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    1. Muito obrigado pela sua partilha! Os tempos tendem a mudar e, vai se reconhecendo, aos poucos, a necessidade de termos presentes mais homens na educação de infância! Obrigado Rui

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Gostei do pormenor do sapato alto! ;)
    Cada um com a sua especificidade, mas alvo de curiosidade acérrima por parte dos srs encarregados de educação e restantes familiares das nossas crianças... calma! Estamos lá para o q der e vier!
    Bem—vindo!
    Bjs
    T.

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    1. Olá Tânia, muito obrigado pelo teu comentário! A beleza da educação é isso mesmo, aproveitarmos a especificidade de cada um e construir um ambiente rico de oportunidades! Cá estaremos para o que der e vier, obrigado pela tua receção! :)

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  6. Sou também educador de infância, com alguns anos de serviço. Neste momento exerço a função de monitor de A.T.L.
    Acredito que nós homens educadores damos algumas experiências às crianças que as Mulheres educadoras não conseguem dar devido ao género. E o contrário vice versa.
    Sei que somos importantes nas vidas das crianças e que todos nós homens e mulheres devemos trabalhar para os nossos futuros adultos.
    Devemos saber cuidar, saber tratar, saber respeitar saber ouvir, e acima de tudo acreditar que estamos a dar o nosso melhor a cada dia que passa.
    Temos a obrigação de lutar pelos direitos das crianças e protege-las de tudo e de todos.
    Somos educadores.

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    1. Obrigado pela partilha. A especificidade de cada um traz benefícios ao grupo que temos a nosso cargo .Cada um tem diferentes oportunidades que se medeiam de acordo com interesses, grupos, e crianças. Somos homens, educadores, com motivação para dar o nosso melhor diariamente. E, mais do que agradar aos pais, agradamos as crianças, são essas o nosso foco! Obrigado pela partilha! Rui

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  7. Sou homem e educador de infância e revejo-me muito neste texto. Somos educadores por vocação e motivação e não porque nao tivemos nota para entrar noutro curso. Sinto muitas vezes que sou aninal do zoo e sinto que por ser homem tenho que provar que sou competente . Mas porquê?! Nao sabemos dar afeto, colo, ser meigos ou simplesmente desenvolver uma atividade?!
    Parabéns pelo texto e pela escolha da profissão. Nunca desitas por mais "animal" que te sintas. Um animal feliz e que incuti e ajuda a ser feliz!

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    1. Obrigado pelo comentário! Continuarei a ser um animal do zoo, que age de acordo com os interesses dos mais novos, é isso que me motiva, é isso que me motiva .abraço Rui

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  8. Sou educadora no ativo, com quase quarenta anos de trabalho. Penso que o genero não é relevante para se ser um bom profissional, mas sim a motivação e empenho que se lhe e dedica. Sou uma leitora assidua das suas reflexões o fico deliciada com os seus conteudos. Quem pensa como o colega, é com certeza, um excelente profissional. Que venham muitos "Ruis" para esta bela profissão, os pais poderão começar por estranhar, mas as crianças ficam a ganhar!

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  9. Eu fui durante seis anos educador de bebês, sofri muito olhares preconceituosos e julgadores de algumas pessoas. Tanto que sempre precisei fazer minha prática, o mais visualmente possível. Pois conversas tortas, palavra no ar, sempre se faziam presente, não apenas de avós mais conservadoras, quanto de algumas "colegas" de trabalho. Até estabilizar um padrão e provar a competência para com o trabalho, demorava um bom tempo. O que era sempre abençoado é que as crianças adoravam ficar comigo, e eu com elas, e consequentemente os pais que acompanhavam o trabalho apoiava também... Tanto que alguns mantenho contato até hoje. Mas, depois de que a escola fechou, não consegui mais oportunidade e realmente senti que isso, eu ser homem e educador de crianças pequenas, era um quesito que as escolas tradicionais usavam para eliminação. Sinto falta, na verdade muita falta do convívio com os pequenos, pois cada turma faz a gente se reconectar com a forma que fomos criados e também com as belezas e descobertas da vida. A primeira infância é um mundo surpreendente e possível de encantamentos e conexões.
    Não deveriamos ser julgados pelo gênero, mas sim acompanhandos pelos processos e conquistas. Nestes anos todos, vi muitas mulheres educadoras muito mais bravas ou rigidas, do que os homens educadores, mas enfim cada gestão tem seus próprios conceitos. 🙏

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    1. E o engraçado que o que me inspirou a ser educador de crianças pequenas, foi justamente uma reportagem lida a muitos, muitos anos atrás sobre o gênero masculino no jardim de infância.

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    2. Obrigado pelo seu comentário! São realmente descrições que acabamos por viver, mas que se tornem ténues na relação que vamos criando com os mais pequenos, na relação que vinculados, na confiança e na segurança que construímos. Ao final do ano o reflexo de tudo isto sente-se e a desconfiança ou os receios desmoronam, e desmoronaram-se ao longo do tempo.

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  10. Ser bom ou menos bom profissional não tem a ver com o género mas sim com a essência Humana de Ser pessoa.
    Obrigada Rui.

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  11. Ser bom ou menos bom profissional não tem a ver com o género mas sim com a essência Humana de Ser pessoa.
    Obrigada Rui.

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    1. Obrigado pelas suas palavras, refere e bem, a essência de um bom profissional está na essência do Ser, simplesmente. :)

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