Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado!

Mas que raio de modas são estas que vão surgindo, em que todos querem mudar a educação? Mas ela não está bem, não???

É assim que se faz a educação, entre quatro paredes. Que moda esta de valorizar a rua, de a ver como um potencial para o desenvolvimento das crianças. Que esta moda que caia em desuso depressa, porque estaremos a criar crianças que não sabem estar em sala... Por ventura será a rua um meio para desenvolver a concentração, a motivação, a socialização, e qualquer área do saber?! Não é na rua que aprendem as regras e muito menos os grafismos, tão importantes para a transição para o 1 ciclo.

Que raio de moda esta, que de um momento para o outro os educadores têm de deixar as salas e valorizar o espaço exterior, onde as crianças se batem, correm sem parar, sobem às árvores e pior de tudo, sujam-se. Que justificação teremos de dar aos pais para toda a sujidade que carregam, para as feridas que levam, para as roupas rasgadas?

De um momento para o outro, todos se lembraram de dizer que as crianças têm vozes ativas! Elas sabem lá o que querem! Querem brincar, brincar até mais não. Então se brincam todo o dia, como poderemos aplicar as planificações que tivemos o cuidado de preparar, com projetos fantásticos de profissões, de arte, de alimentação,…? 
Se estiverem sempre a brincar, como colocaremos nas paredes aquilo que fizeram??? Se estiverem sempre a brincar conseguiremos lá mostrar os trabalhos, o nosso trabalho? Certo será que, chegarão ao final do ano e levarão as capas e os dossiers vazios. E ainda teremos as perguntas: o que andaram a fazer todo o ano?

Deixem-se de modas, que existem competências tão importantes a serem trabalhadas antes de irem para o primeiro ciclo.

O tempo que passam sentados, em sala, torna-se tão importante, mantêm-se focados no que lhes damos,  no que desenvolvemos. Aprendem a estar sentados, a agarrar no lápis, na borracha, a estar motivados para terminar com sucesso aquilo que preparámos.

E não é tão importante saber que cada criança será diferente? 
Não é tão importante perceber que, a cada dia que passa, se vão empenhando nas letras e nos números, nas regras e no saber estar? É desta forma que a transição se tornará um sucesso.

Deixem-se de modas, que a rua não lhes dá nada disto.

As pinturas só revelam o interesse pela arte, os desenhos da família, do "eu", dos animais, da profissão,  do fim-de-semana, refletem a criatividade que revelam baseados nos temas lançados, baseados nos interesses e competências para o primeiro ciclo, para os pais, para a sociedade. E que giros que ficam, que fofas se tornaram as suas criações. 
Ao estarem na parede é ainda possível verificar que ao fazerem o mesmo desenho, todos estão semelhantes, sinal de que as competências vão sendo adquiridas, em grupo, de forma unânime.

Na rua podem lá trabalhar a criatividade, a imaginação, a motricidade fina, os números, as letras e tudo o que está inerente ao seu desenvolvimento?

Deixem-se de modas e concentrem-se no que realmente importa.

E as regras? Saem ordenados da sala pelo parque da escola, ordeiros e conscientes de que as regras devem ser seguidas, desta forma tudo se torna mais fácil... 

Não falem em modas, não queiram mudar o que já se faz há tanto tempo. Deixem-se de novas modas.

Deixem os dias de brincadeira, mas tenham em consideração que o jardim-de-infância não é brincar, é prepara-los para o 1º ciclo. Os manuais levam a uma preparação exímia tornando cada passo deste processo um meio facilitador de transição e além disso, os resultados tornam-se visíveis. No primeiro ciclo vão estar sentados, concentrados e há competências que temos de desenvolver entre quatro paredes.

Esta moda de desvalorizar o que fazemos (bem), na sala, de desvalorizar os grafismos e os manuais, o desenho da figura humana, as letras e os números tem de acabar.

É que quando forem para o primeiro ciclo e os miúdos sentirem dificuldades na concentração,  motivação, na criatividade, em não saberem as letras e os números e de não os saberem escrever, não apontem o dedo aos educadores, porque demos o melhor para que desenvolvessem todas essas competências. Tudo foi planeado para essa transição, porque as metas para o grupo são para ser atingidas.

E mais, os pais têm opinião, tem ansiedades, preocupações, expectativas, depositam em nós grande confiança e, sabendo as suas preocupações e ansiedades, seguimos de acordo com o que é exigido, rumo às transições, as preocupações e exigências... À rua vão com os pais, na sala há mais a fazer...

Deixem-se de modas, porque através do que desenvolvemos, a sala torna possível todo o trabalho, valorizando uma infância...

(... Uma infância que não é a de hoje...)

Um hino (irónico) à infância que se perdeu... 

#umacaixacheiadenada

Rui

Comentários

  1. Se calhar devia assinalar que se trata de sátira/ironia? Senão ainda o levam a sério e acham que defende a alfabetização precoce e não dá valor ao brincar e à sua importância no desenvolvimento de competências, bem como o ir à rua....

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    1. :) obrigado pelo seu comentário! Ao se acompanhar o blog torna-se possível entender a minha opinião em relação a estás questões! 🙂 No entanto, o final do texto, e apenas com a última frase, contradiz tudo o que foi escrito. É só uma provocação, GIGANTE! :) Muito obrigado pelo seu comentário e por seguir a caixa!

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    2. Rui, eu conheço a sua visão para a educação na primeira infância, e não podia estar mais de acordo (como mãe). Leio todos os artigos que submete para partilha num grupo do facebook sobre educação :)
      Daí eu saber como se alinha. Mas quem não conhece o trabalho do Rui e "leia na diagonal" vai ficar com outra ideia :P
      Vou aprovar mas vou fazer essa ressalva, para evitar mal entendidos. Continuação do excelente trabalho :*

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  2. Olá Rui, não sigo o blog, apenas tive acesso à publicação através de um grupo no Facebook... Já estava a ficar revoltada! Ainda bem que li os comentários, caso contrário iria ficar com má impressão.
    Boa continuação

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  3. Por momentos pensei estar a falar a sério!!! Estava já a chamar-lhe nomes em surdina!

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    1. Ainda bem que não os ouvi! São meras provocações, afastadas daquilo que acredito. 😊

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  4. De repente fiquei muito preocupada. Ufa!

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  5. Parabéns pelo texto!!
    Não precisei de seguir o seu blog para compreender a ironia! 😉 Mas é tudo tão verdade, e nos educadores por mais que queiramos ser diferentes há sempre algo acima de nós que diz " é preciso preparar as crianças para irem para o primeiro ciclo" é preciso as crianças realizarem trabalhos para os pais verem o que é feito! Enfim...que educação esta que está a criar crianças cada vez menos autónomas e criativas!

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  6. Comecei a ler o artigo e confesso que não estava para o acabar, mas como gosto de ver até onde vai a estupidez humana, decidi continuar. Quando chega ao sujarem-se, desatei a rir. Assim sim, com humor se vão dizendo as verdades e desmistificando ideias. Deixemos as crianças ser crianças, usufruir do seu tempo e deixemo-nos de querer agradar a pais, professores, diretores e ministros. Escolhemos esta profissão porque amamos as crianças. Zelemos pelo seu bem estar psicológico. Parabéns pelo artigo. Adorei.

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    1. Olá, muito obrigado! É de facto uma grande ironia, uma provocação :)

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  7. Ao ler não estava acreditar no que estava escrito só mo final percebi que o texto era irônico

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    1. Felizmente leu até o final! :) É uma grande ironia, mesmo! É de facto, provocar e mostrar o quão importante são os nossos dias e quais são importantes as nossas prioridades na vida das crianças! :) Muito obrigado pelo seu comentário! Receio bem que algumas pessoas se tenham fartado, e não tenham aguentado até ao fim! :)

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  8. Confesso que estive todo o texto á espera da reviravolta e do murro na mesa 🤣 conhecendo-te, nunca pus a hipótese outra hipótese de que não a ironia nas provocações! Adoro a forma como pões o "dedo na ferida" e nos fazes pensar no valor que damos às coisas, no que fazemos e porque o fazemos.

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  9. Provocação bem exposta. Será que, quando forem velhotes, é que podem de bengala, passearem? Uma infância mal vivida, e experienciada , resulta num adulto amputado.

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