Férias com pais, não é sinónimo de manuais.
Os dias passam, para uns a conta-gotas, para outros a uma
velocidade estrondosa.
Estar de férias é sinónimo de descanso, de tempo em família,
praia, diversão, brincadeira e… treino! Quantas atividades interessantes para fazer nas férias e as
escolhas recaem pelo treino!
Os meses de férias são muitos, como tal, não se pode
permitir que sejam aproveitados “apenas” para brincar. Em época de férias, o
tempo distribui-se da melhor forma possível para que seja aproveitado. Distribui-se em: família, horas para a praia, parques, campo, ver TV, jogar no computador, ver vídeos nos tablets e telemóveis, ... No
entanto, há, ainda, tempo designado para estarem sentados, há tempo para se estarem a
preparar para o 1º ciclo, ou para outro ciclo qualquer. Há tempo para o treino!
Tempo de férias
é sinónimo de correr aos hipermercados ou livrarias e comprar os melhores
livros de fichas e grafismos que, segundo dizem, estão de acordo com as “Novas
Orientações Curriculares para a Educação Pré-escolar” e, só por isso, já
merecem a atenção e até o dinheiro dos pais! Que rico treino este!
Mas, seja lá o que isso quer dizer, “estar de acordo com…”!
Resumindo e baralhando, estão de acordo com tudo, menos com as Orientações
Curriculares para a Educação Pré-escolar!
Falando dos ditos manuais, reconheça-se esta ferramenta como um momento em que os
mais pequenos se centram na atividade que irão repetir vezes sem conta na
escola.
Reconheça-se esta ferramenta como um momento de tranquilidade
de férias, em que os mais pequenos se encontram concentrados e extremamente
focados em terminar o que lhes foi imposto.
Reconheça-se esta ferramenta como um seguir de ordens e orientações
precisas dirigidas por tracejados, sombras e linhas.
Reconheça-se esta ferramenta como o culminar do ano letivo
passado, em que, esforçadamente, no seu tempo de férias, são obrigados a mostrar
e/ou a treinar as habilidades que aprenderam.
Reconheça-se esta ferramenta como um tempo útil de
crescimento e de empenho em tempo de férias.
Reconheça-se esta ferramenta como o seguir dos interesses, das
curiosidades e das necessidades de cada criança, de modo a que, ao regressar,
esteja mais preparado do que estava para o novo ano.
Reconheça-se esta estratégia como um excelente momento para
promover a criatividade, a imaginação e o aprender a lidar com a frustração.
Reconheça-se esta ferramenta como uma perca de tempo para
as férias, em que se aprisionam os mais pequenos ao lápis, folhas e borrachas. Em que se aprisionam os mais pequenos aos desejos dos adultos e à ignorância da importância que as férias assumem para as crianças.
Que tempos e quantos tempos livres para estarem sentados em
frente a um livro, ou caderno, de lápis e borracha em punho a treinar todas as
competências escolares que, segundo dizem, "estão
de acordo com &$%~º+´+#$&(“//)%”#”#&…"
Porque para alguns, basta que diga estas palavras e são, já,
considerados os melhores manuais que existem para férias, mesmo não tendo qualquer conhecimento dos conteúdos das ditas Orientações!
Mas que rico e belo treino!
Ao regressarem à escola serão os melhores!
Serão aqueles que
dispensaram mais tempo de férias para seguir tracejados e linhas.
Serão os que
dispensaram maior tempo para seguir orientações precisas.
Serão aqueles que esgotaram
o seu tempo para colorir e treinar pequenas somas.
Serão aqueles que, quando regressarem à escola, dirão: trabalhei
muito nas minhas férias…
Serão aqueles que chegam à escola já cansados dos
trabalhos de férias, de fazer letras e números, de seguir tracejados e linhas…
Serão aqueles que, mais tarde, perceberão, fartei-me de trabalhar nas férias e não me deixaram ser criança.
Brincar.
As férias com os pais servem para brincar, só e nada mais.
Se estivéssemos conscientes do que isto implica, não
gastaríamos dinheiro e tempo, em manuais que remetem para o verão através de
imagens padronizadas, de imagens estereotipadas, que não demonstram, em nada, o
que ele é realmente.
Se estivéssemos conscientes de que a brincar as crianças se
motivam, se constroem, se desafiam, ultrapassam os problemas que surgem, criam
possibilidades, criticam e são criativos, imaginam e planificam,... deixaríamos de
lhes ocupar o tempo, precioso, de férias para seguirem tracejados, números e
letras.
As férias tornam-se ótimos momentos para que se construam
competências que os farão estar bem melhor, aquando o regresso na escola. Levarão
manuais vazios, mas memórias cheias, experiências com as famílias que nem sempre
são possíveis de realizar noutra altura do ano. Levarão vivências e conhecimentos do próprio corpo que se
tornam úteis para qualquer desafio lançado pelos professores: motivação,
empenho, destreza, rapidez, autonomia, confiança e segurança que foram
treinados, com afinco, ao longo das construções na areia, ao longo das corridas
pela praia, na floresta, no campo, no parque ou na rua.
Levarão momentos sociais, na criação de amizades, ocorrência e
desenvolvimento de diálogo, aumento do vocabulário, capacidade de interação e de relação no planeamento das brincadeiras, na resolução de problemas, nos imprevistos
e dos desafios.
Levarão tudo e tanto, o que um manual de férias, cheio de
tracejados, números, letras e linhas não lhes poderá dar.
E se o brincar atravessou o tempo, até aos dias de hoje, se
o brincar se revela como o estado natural das crianças, ou como forma de
expressão, porque se teima em sentá-las rodeadas de tracejados, pontos e
linhas:
quando à volta delas, lá fora, há um mundo cheio de experiências e de
cantos para explorar?
quando lá fora existem aprendizagens que não se alcançam
entre quatro paredes?
quando o brincar é sinónimo de desenvolvimento humano?
Brincar é viver e correr riscos, é saber adaptar-se, é
aprender.
Porque não se vivem as férias como momentos de lazer, de
vida e de liberdade para brincar?
Porque se teima em preparar os mais pequenos para os ciclos
seguintes durante as férias, ao invés de lhes dar tranquilidade, possibilidade
de explorar e de ser aquilo que melhor são, crianças?
Porque continuamos a depositar nas crianças os medos dos
adultos e a fazê-las viver de forma ansiosa sem experimentarem o risco?
Férias com os pais, não é sinónimo de manuais.
As
férias não são sinónimo de escolarização, clausura e privação do brincar.
Que se criem momentos em que o brincar é a palavra de ordem,
o movimento a estratégia e o respeito pelo brincar o direito, a obrigação.
#umacaixacheiadenada
Rui Inácio
Se gostou de ler, poderá gostar: Deixem-nos brincar, é um direito!
Obrigada Rui!
ResponderEliminarFarto me de lutar contra todos esses manuais e esses livros de bonecos para pintar e tracejar, etc????
Isso realmente é um negócio de muitos acalentado pela ignorância ou comodismo de outros!
Livros/manuais, que para mim deviam ser completamente proibidos na venda ao público!
Tanta experiência, tanta aprendizagem que a criança tem ao seu redor, explorando e descobrindo tanta coisa nova e importante! Nem que seja em casa, a brincar e explorar materiais de desperdício....
Deixem as crianças explorar e descobrir tudo o que tem nos espaços por onde andam. Deixem nas brincar livremente, deixem nas pensar como devem gastar o seu tempo, deixem nas ter as próprias escolhas!!!
Manuais??? No pré escolar não deviam nunca existir, é limita las, castra las e tirar lhes o gosto pela aprendizagem e pela Escola, levando as ao insucesso Escolar!!!
Mesmo... Brincar, onde se fazem grandes aprendizagens!
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