Deixem-nos brincar, é um direito!

Passado o dia Mundial da Criança, é tempo de voltar ao dia-a-dia. De voltar a esquecer o dia da criança, os seus direitos e tudo o que faz justificação a esta festividade.

Um dia no ano, lembra-se os adultos para os direitos que as crianças têm, ou deveriam ter. Esquecidos pela azáfama do trabalho, embrulham-se em preparativos para festejar da melhor forma este dia. Criam-se festas e festivais específicos para as crianças, constroem-se lembranças, para que, os mais pequenos se lembrem deste dia, fazem-se entrevistas nos jornais diários a reforçar as ofertas lúdicas e comerciais. Tudo se torna negócio.

Os cinemas enchem-se de famílias, os parques de insufláveis, tudo é permitido… neste dia!

Os direitos das crianças tornam-se um marco histórico na vida das mesmas, na história, no passado e no presente. Mas, quão facilmente o esquecemos! Daí a necessidade de nos lembrarem disto, ano após ano.

No dia da criança tudo se faz para que eles o aproveitem da melhor forma e o vivam de um modo feliz. Torna-se um momento orientado pelos adultos, cheio de ateliês e, tantas vezes, inadequados ao seu público-alvo. Faz-se, pensa-se, planeia-se, sempre, tendo em consideração a opinião do adulto, o achar que será giro para os mais pequenos. Quando na verdade, acabam por não usufruir o que tinham à sua disposição.

Mas, é realmente importante este dia. Neste dia os adultos lembram-se porque é importante valorizarmos os interesses das crianças, lembram-se de que a vida das crianças está a iniciar e que o brincar assume um caminho incrível de exploração, de libertação. E, neste dia, libertem-se… libertam-se… revoltem-se… 

São dias preenchidos, cheios de cor, de vida, cheios de pouco tempo para aquilo que eles mais gostam de fazer, brincar. E nós, quase nem isso permitimos. E nós, nem isso percebemos…

Consideramos os tempos de tal forma importantes, que o queremos mostrar. Desta forma, criam-se inúmeras atividades cronometradas e orientadas para pequenas experiências. 

Não teriam maior proveito se surgissem ao longo do ano? Certamente que sim, teriam a oportunidade de assumir o reconhecimento e o papel do brincar de forma livre, como algo a lembrar, como algo que não está esquecido… No entanto, é apenas, e só, algo que deixou de ser um direito.

É um direito crescer à luz da compreensão. Que compreensão? 
Se a compreensão diária é esquecida, se a compreensão do que gostam de fazer é absorvida pelos adultos, se o simples brincar é substituído pela orientação constante dos mesmos, que compreensão temos nós em relação aos interesses destes pequenos com direitos?

Neste dia, as redes sociais enchem-se de crianças, com imagens que sensibilizam para os seus direitos, para uma vida feliz alicerçada no brincar. Partilham-se textos, imagens, tudo o que possa ajudar a relembrar este dia. Neste dia, até se partilham as fotos de quando éramos crianças, e quão felizes fomos, a brincar… partilhamos as imagens de quando éramos mais novos, de quando brincávamos, de quando caíamos e esfolávamos os joelhos, tudo para nos lembrar, que todos nós já fomos crianças, mas, infelizmente, a grande maioria, já se esqueceu de o que fora.

Mas, que não sejamos derrotistas, que não sejamos pessimistas, que sejamos realistas. Que nestas partilhas que fazemos, que olhemos de forma sincera e reflexiva para importância deste dia. Deste e do dia Internacional dos Direitos das Crianças! Que se deixe o brincar ser o reflexo de uma vida, de viver, de crescer e de aprender. Que se aprenda a olhar para estes direitos, como um momento marcante da história, em que, é realmente reconhecido o valor das crianças, o respeito que merecem e a felicidade que poderão ter na infância.

O dia Mundial da Criança, assim como, o Dia Internacional dos Direitos das Crianças são de factos,  dias importantes para todos, para as crianças. Mas mais importante do que esses dias, é lembrarmo-nos que as preocupações que existem, devem persistir nos restantes dias do ano, porque nos outros dias, eles também continuam a ser crianças, apesar de serem aprisionados a um interesse crescente de uma escolarização precoce, de uma excessiva expectativa e preocupação em relação ao futuro, de um medo parental em relação ao que lhes espera; tornam-se consumidores de uma ansiedade parental, tornam-se crianças sem infância, adultos em miniatura e cheios de preocupações.

E se é importante falar dos direitos das crianças, pois então que se fale, mas que se fale com o sentido e a valorização que merecem. Que se permita que vivam de acordo com os seus interesses, não aniquilando a sua imaginação, a criatividade e a capacidade de viver cada dia de sorriso no rosto, de ser criança. E quão difícil é permitir que isso aconteça!

O simples torna-se gratificante, cheio de crescimento, de valor. O simples é viver, o simples é brincar, logo o brincar é viver uma infância feliz.

Revoltem-se e digam a todos os adultos: “ Todos vocês foram crianças, mas já se esqueceram.”

Digam ainda, com todo o ar que tiverem nos pulmões, que façam ecoar pelos quatro cantos do mundo esse grito de revolta. Mas, gritem bem alto, para que, todos os dias os adultos se lembrem: “Deixem-nos brincar, é um direito!”

E se não vos deixarem ser crianças, façam as malas... partam e tornem-se adultos em miniatura, sem infância...  

#umacaixacheiadenada

Rui     

Comentários

  1. Tantas verdades!! Falta muita empatia e respeito pelas crianças que são seres maravilhosos. As crianças dedicam todos os seus dias aos adultos, fazem tudo para lhes agradar, para se adaptarem às suas vidas e no dia Mundial da Criança o adulto prepara uma festa ao jeito do adulto, com o ritmo do adulto, o stress do adulto, a quantidade de estímulos que só o adulto gosta e consegue gerir. Só consigo dizer: Que falta de tanta coisa inclusive Respeito!! Se eu fosse criança e estivesse numa dessas festas, duvido que me envolvesse, eu queria mesmo era fugir! Patrícia Silva

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