Ainda estamos a fazer praia… é uma aventura!
Hoje é mais um dia de trabalho.
A roupa prática, a bata, dão lugar a calções, a chinelos e a
fato ou a calções de banho.
O despertador tocou mais cedo, porque a hora de partida da
escola, faz com que sejam dias em que o horário se prolonga, em que se tire o
máximo de proveito de cada momento.
Dias de praia…
Pelo caminho, até à escola, reveem-se, mentalmente, todos os
cuidados que se irão ter ao longo do dia: todos têm protetor, como pedido aos
pais, todos trouxeram muda de roupa, toalhas, chinelos, mochilas, água… de um
modo extremamente rápido cria-se uma checklist mental, para que, estes dias corram
da melhor forma.
Além de serem momentos fora da escola, são momentos
importantes para explorar, para permitir que brinquem, para permitir que tenham
cuidado, … são momentos que são planeados, de igual forma.
O alvoroço na escola é evidente, a agitação tomou conta
daqueles pequenos corpos, ansiosos por experimentarem mais um dia de praia. Os
educadores e auxiliares ultimam os preparativos, verificam as mochilas com o
intuito de confirmar a presença de tudo o que foi pedido. Alguns, mais
esquecidos, vão revelando os esquecimentos e, para que tudo corra como
planeado, resolvem-se estas pequenas faltas, sem que quase ninguém
perceba.
O tempo continua a passar, o autocarro chegou… mas, devido a
alguns esquecimentos, ainda há protetor para colocar, não a um, mas a vários,
ainda há crianças atrasadas, o que levará a um atraso geral do grupo.
Prontos para seguir, perfilados e cada um com a sua mochila,
seguem rumo ao autocarro que os levará para uma manhã de aventura! Seguem o seu
caminho, uns com mochilas mais adequadas do que outros, carregados com lanches
extras, desnecessários, uns com chapéus, outros sem eles… entram no autocarro,
sentam-se, ansiosos, e da janela vão acenando aos pais que, de sorriso no
rosto e coração apertado, os deixam seguir para mais uma manhã de loucura!
Após a confirmação dos cintos, uma a um, contagem realizada, a viagem
decorre de forma agitada, gritos, canções, braços no ar,... a praia está cada vez mais
perto…
Chegada à praia, o desejo que revelam é de correr sem nunca
mais parar. Mas, saindo de forma ordenada e perfilados, seguem atrás de um dos
adultos, que os orienta para o espaço que vão ocupar. Ao longo do caminho há
tanto para pensar, qual o local apropriado, que preocupações a ter, que
cuidados, como os organizar…
Com o sentido de responsabilidade presente, em todos os
momentos, com a responsabilidade carregada em cima dos ombros, as 25 vidas que
lhes foram confiadas, seguem rumo à diversão, dobrando a atenção e a vigia para
tudo o que vão fazendo.
Numa agitação tremenda definem o espaço de toalhas, definem o
círculo, o quadrado ou o triângulo onde estarão as toalhas e todos os seus
pertences e, de forma a conseguir ter uma maior visibilidade e segurança, definem-se
as regras e os limites dos espaços de brincadeira.
Mas mal se chega à praia, os xixis começam, em pequenos
grupos deslocam-se para fazer as suas necessidades. Os restantes mantêm-se a
brincar embrulhados na areia sob o olhar atentos dos adultos. Estão de tal
forma envolvidos, que a sua motivação, a sua satisfação revela o quanto este
momento se torna importante, revela que as paredes deixaram de existir e a
praia se tornou num verdadeiro espaço de aprendizagem, de brincadeira!
Reforçam-se os protetores, uma e outra vez, porque não se
querem alertas para peles vermelhas ou queimadas…. A preocupação é grande e o
desejo de que tudo corra bem é acrescido.
Os pais confiaram este momento às
equipas da escola, mas mesmo assim, o coração não deixa de palpitar. Ao longo
do dia de trabalho vão tendo em mente os seus filhos, aquela praia, aqueles
adultos. Apesar de confiarem neles, a preocupação aperta-lhes o coração,
levando a que, alguns, façam pequenas rondas pela proximidade da praia, apenas
para espreitar e ter a certeza de que tudo está bem…
Mais tranquilos, após observarem a agitação natural e
verificarem que o seu filho está bem, regressam… confirmaram apenas uma
criança, que essa, o filho, se encontra bem e seguro…
Os adultos mantêm o seu olhar atento e, mesmo assim, detetam
os olhares escondidos, dignos de verdadeiros espiões, dos pais, que de forma
discreta e sem quererem dar por isso, os observaram e, mesmo assim, foram detetados. Os 25
continuam sob o olhar atentos dos adultos, não de um para um, mas de um para
todos…
A areia voa pelo ar, constroem-se castelos, joga-se à bola,
fazem-se corridas, tudo em espaço definido e controlado, porque assim como
vieram 25, o desejo é que os mesmos regressem sem qualquer reclamação, ou
marcas de situações menos agradáveis.
É hora do lanche da manhã. Sentados nas toalhas, volta-se a
reforçar o protetor, enquanto comem. E, relembra-se mais uma vez a importância de beber água.
A brincadeira terminou e não há mãos a medir. De um lado
para o outro, tentam-se satisfazer todas as necessidades, arrumam-se os brinquedos, porque o grande momento aproxima-se.
Mas,... há nova corrida à casa de banho! Em pequenos grupos lá vão
encaminhados por um adulto…
A hora tão esperada aproxima-se, está bandeira verde e a
vontade e molhar os pés, de tomar banho é enorme!
É, sem dúvida, um momento de grande preocupação, de grande
ansiedade, de receios para os adultos.
A vigia aumenta, os olhos duplicam e a
necessidade de observar todos e cada um é urgente.
Perfilados, seguem em
direção ao mar, sob o olhar atento dos nadadores salvadores que, aconselharam devidamente
o melhor local para todos se poderem divertir.
Apesar de seguirem perfilados, uns saem da fila e. tentam, a
todo o custo chegar mais depressa ao mar. Numa corrida apressada um adulto
alerta para as regras combinadas, e mesmo assim, mantém todos sob vigilância.
De modo a que tentem aproveitar o momento, é definido
um plano de ação, definindo, de forma estratégica as posições de cada adulto, para que,
sem exageros e sem ultrapassar os limites, todos conseguiam. pelo menos. molhar
os pés e, os mais ousados, se possam deitar na água.
Quanta responsabilidade se
carrega aos ombros, quantos suores frios se sentem neste momento, quanta necessidade existe de tornar este momento como excelente, a nossa sensibilização e a sua responsabilização.
Molharam apenas os pés e, alguns, o resto do corpo, mas
saímos de consciência tranquila, com um sentimento de leveza enquanto se dirigem
para as tolhas e seguem em corrida os 25, sãos e salvos. Vão relaxar e
descansar ao sol.
Que manhã agitada, que responsabilidade acrescida. Que
sentimento de leveza ao entrar no autocarro e após ajudar os 25 a secar, a
limpar a areia, a vestir, a ajudar com as mochilas, sentamo-nos no banco do
autocarro e respiramos, já que durante a manhã, nem à casa de banho
conseguimos ir.
Respiramos, agora, sentados, a descansar das corridas loucas
que fizemos, dos olhares atentos que tivemos, da responsabilidade que nos
carrega e cansa ao longo destas atividades, a praia.
Corremos sem parar, construímos e destruímos castelos, fomos
vezes sem conta às casaa de banho, voámos com a areia, sentimo-la a tocar,
escavámos tesouros e construímos pontes, jogámos à bola e todos os jogos que
conseguimos imaginar, fomos buscar água vezes sem conta, de lá para cá e de cá para lá... Além de estarmos atentos, a todos e a cada um, ainda
carregamos na mochila a responsabilidade que nos confiaram, a preocupação,
acrescida, para este momento, a planificação necessária, a organização
da equipa e do grupo.
Chegamos cansados, com todos e não só com um. Chegamos e
vemos os sorrisos de todos, até daqueles que adormeceram no autocarro e tiveram
de ser transportados ao colo porque adormeceram e nada os acorda!
Chegamos cansados, mas com o sentimento de missão cumprida…
Corremos ao longo do tempo e tentamos aproveitar ao máximo, fizemo-los aproveitar cada minuto, cada segundo, confiaram em nós e nós confiámos neles, brincaram e nós brincámos com eles…
Mas será que reconhecemos a praia como espaço de brincar? Será que os pais reconhecem este espaço como promotor de boas aprendizagens? É, também, um espaço de
aprendizagens, de diversão, de aventura, um espaço cheio de responsabilidade, um espaço livre de paredes em que a areia se torna na melhor ferramenta para desenvolver este processo, o brincar.
Mas para a próxima semana ainda é tempo…
Ainda estamos a
fazer praia… é uma aventura!
Reconheçam o quanto nos aventuramos nestes momentos, nestes
dias de responsabilidade, nos dias que se tornam mais longos, em que o cansaço
aumenta de forma exponencial, em que as aprendizagens se tornam verdadeiras
obras de arte, construções, desafios, em que, mesmo na praia, há espaço para
que se tornem livres, para que brinquem…
Reconheçam nos adultos a confiança, a
vontade e o esforço para que tudo corra bem… reconheçam que, as idas à praia
são uma aventura… para eles… e para nós, adultos. Reconheçam que a praia é uma responsabilidade acrescida e que temos a clara noção da responsabilidade que carregamos. Reconheçam que as exigências que fazem ao entregar os vossos filhos se multiplicam por 25 e, mesmo assim, os recebemos de braços abertos, damos o nosso melhor e abraçamos estes momentos com uma enorme responsabilidade... reconheçam... simplesmente, que a praia é uma aventura, uma aventura cheia de preocupações, de diversões, de brincadeira e de aprendizagens!
#umacaixacheiadenada
Rui Inácio
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Revejo-me em tudo o que está aqui escrito. Tenho 24/25 crianças diariamente a fazer praia.
ResponderEliminarÉ um trabalho gratificante e ao mesmo tempo desgastante. Breve estão as férias à porta e tudo passa.
Já fiz praia com os meus grupos em anos anteriores, revejo-me em tudo. É uma aventura, é aprendizagem é muita responsabilidade, que corra tudo bem 💞
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