A minha filha teve 5 a tudo (...) agradeci, logo, à educadora que teve!


As notas já saíram, foram lançadas.

Uns mais agradados do que outros, uns mais descansados do que outros.

Ao longo do tempo vão desenvolvendo competências que iniciaram bem novos, na creche, ou no jardim-de-infância. E quão importantes se tornaram essas experiências. Longe das avaliações superiores, ou dos que tentam, a todo o custo, avaliar as práticas dos educadores, mais novos ou não, vão surgindo evidências de que, o empenho que cada um teve na fase inicial de cada criança vai dando os seus frutos. Surgem evidências de que a educação de infância dá frutos.

As regras, lidar com os medos e enfrentá-los, confrontar as frustrações e aprender a ultrapassá-las, ter contacto com meios escritos, diferentes obras literárias, expressões artísticas, com o mundo que está à sua volta, com o mundo lógico-matemático, enfim… anos em que lhes foram dadas um rol de vivências, explorações e conquistas, anos que lhes valeram ser o que são, anos que os ajudaram a crescer, alicerçados nos valores que, desde o início, lhes foram transmitidos, quer em casa, quer na escola; valores que foram valorizados em pequenos e hoje, mais crescidos, continuam a ser.

O jardim-de-infância, a creche, ou de forma geral, a educação de infância, são um pouco desvalorizados, ora por alguns familiares, ora por alguns colegas. De facto, e aos olhos menos treinados, a perceção do que se faz nem sempre é entendida de um modo claro, de um modo real. A educação de infância passa, muitas vezes, por o simples cuidar, ou o simples, brincar, em que os adultos nada mais fazem do que estar presentes. 
Quão errados estão. 

Mas, venham de lá os senhores superiores avaliar as práticas. Venham de lá aqueles que não entendem o que é feito e que criticam quer os mais novos, quer os mais velhos, ou até mesmo, os de meia-idade… venham de lá esses, donos da sua razão e exponham a sua opinião face à educação. Certo é que, esses superiores, são quem incentivam professores e educadores a trabalhar, a lutar e a envolverem-se na mudança, na mudança da educação, na mudança da educação de infância, velha e desadequada aos dias de hoje. 
Venham de lá esses superiores…

Não é isso a educação… é atualização constante, é partilha, é crescimento comum… é refletir acerca de práticas diferenciadas ou não, é refletir. É debruçarmo-nos na real necessidade da infância, alicerçadas nos grupos, de forma individual, alicerçados em crianças reais e não em crianças de manual, de fichas, de teorias mirabolantes e cópias de pesquisas de redes sociais, tantas vezes desadequadas… A infância é permitir que cresçam e que se tornem atentos, que vivam e deixem viver a infância. Que reconheçam nas crianças a capacidade de justificar, de serem ouvidas e de terem hipótese de escolha. 

A educação de infância é atual, é mudança e libertação daqueles que mais precisam de a viver, para que, quando adultos, sejam reflexo de uma infância feliz, vivida e experienciada de acordo com as suas necessidades e interesses. É o foco de atenção dos profissionais, uma prioridade, ouvir, escutar de forma atenta e agir consoante as crianças que temos e não, consoante, as crianças ideais.

E quantas são as competências que se exploram em creche e em jardim-de-infância! Se há a necessidade de ter um educador desde tenra idade? Sim, há!

Têm treinada a sua vertente pedagógica, a sua sensibilidade para mostrar a simplicidade do mundo, através de pequenas experiências, lutas e conquistas. Têm em conta cada um, o seu crescimento, as suas dificuldades, os seus interesses, as suas raízes. Assumem a capacidade de planear, especificamente, para cada criança, para cada momento, revelando-se como profissionais de escuta ativa, capazes de criar objetivos específicos que revelam interesses próprios, pequenas conquistas e não, as exposições em todas as paredes. São profissionais que lutam, diariamente, lado a lado, com as assistentes operacionais, com as auxiliares de ação educativa, para criar um dia cheio de simplicidade, que revela a necessidade de socialização, a capacidade de interação, a escuta e a ação ativa, que corresponde com necessidades individuais e familiares, que vive, intensamente, o dia e os problemas de cada crianças e segue rumo à sua casa, com cada problema, com cada situação na sua cabeça, com o intuito de melhorar a sua prática e fazer com que, no dia seguinte, todas as dificuldades sejam ultrapassadas.

Mais crescidos, possivelmente, até um pouco esquecidos destas fases, vão revelando traços das competências que foram adquirindo, que foram treinando ao longo da sua infância, a motivação, a persistência, ultrapassar a frustração, lidar com o erro, a resolução de problemas, a relação, o respeito, a capacidade de comunicação, espírito crítico, a planificação, a interação, a concentração, saber estar, saber ser, respeitar e ser respeitado, interesse pela área da escrita, leitura, artes, ciências, … tudo o que que tiveram contacto em tão tenra idade, mas que, possivelmente, se tornou esquecida. Foram treinos, foram sensibilizações que ficaram, que marcaram e continuam a marcar. Nós, coconstrutores destas aprendizagens, nós aprendizes e companheiros de luta vivemos e continuamos, também nós, a crescer, e a ver cada um deles a alcançar sonhos, objetivos, a serem eles próprios, desafiantes do seu sucesso e reflexo de experiências, de vivências e de conquistas.

Ao fim de tantos anos de luta, de acreditar na educação de infância, de a fazer viver feliz através do brincar, vai dando frutos, vai dando reconhecimento, vão-se concretizando pequenas mudanças sociais, em que, a educação de infância ganha novo fulgor, novo vigor. É reconhecida como uma potencialidade, é reconhecida como um marco de extrema importância para o sucesso dos mais pequenos, para o seu crescimento… é, simplesmente, uma potencialidade que, agradecida pela sociedade, permitiu as experiências que deram oportunidades de crescimento de tantas crianças, de modo a que, se tornassem exemplos sociais e de sucesso, crianças que agarraram oportunidades e construíram pontes com o seu futuro.

Chegou ao final de mais um ano letivo, do segundo ciclo…

“A minha filha teve 5 a tudo. A primeira coisa que fiz foi agradecer à educadora que ela teve.”   

#umacaixacheiadenada

Rui Inácio



Comentários

  1. Mais importante ainda é o comentário vir de um pai! Parabéns e obrigado pelas palavras!

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  2. Leonor/Galega Encarnada30 de junho de 2019 às 17:21

    Muito bem escrito ... vou partilhá-lo :)

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  3. Meu caro Rui: perdoe desde já a minha frontalidade, mas só consigo ser assim com quem eu penso que pode merecê-lo. O seu discurso entusiasmado não é novo. É bom por ser entusiasmado. Mas, de facto, não acrescentada nada de novo. E não o faz porque a linguagem da educação é a mesma desde há mais de pelo menos quarenta anos. Mais grave: não só não é novo na linguagem, como anda para trás um bom bocado em termos de literacia educacional. Tenho pena que assim seja! Tenho pena que a cada novo candidato a profissional de educação de infância, seja entregue um produto pronto a consumir cheio de afirmações, de redundâncias, de verdadeiros vazios, num discurso que ignora a própria história - mais antiga e mais próxima - da educação de infância, quer neste país, quer na Europa (pelo menos). Eu sei que a maior parte dos conceitos que aqui usa lhe foram passados assim - é o que é e pronto. Faz parte de uma certa modernidade. Faz tanta falta saber um bom bocado mais de pessoas! Tenho muita pena que a Educação de Infância seja uma actividade que continua a não saber exprimir com clareza e fundamento o que faz, porque faz, para que faz, como faz, quando, como, com quem, com quê... faz o que faz. Põem-se a saltar à corda das 'competências' e não entendem que essa é a coisa mais liberalista, economicista, positivista... que para a educação de infância se inventou! Competências? Hum! Continuo a perguntar: o que é brincar com competência? o que é ser competente a um jogo? o que é um amigo competente? o que é fazer perguntas competentes? o que é uma curiosidade competente? o que responder competentemente aos afectos? o que é cooperação competente?... ... ... ... Se a Educação de Infância é importante por causa das 'competências' está tudo tramado! É que qualquer dia vão deixar de ser as competências! Não há qualquer fundamento científico para afirmar como se manifestam e se desenvolvem sejam lá que competências forem! Que pena não serem os educadores a afirmar isto com clareza! A literacia Educacional anda mesmo pelas ruas da amargura, não é? Pena!

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    1. Se, por um lado é um facto que um "certo" discurso (o Marçal Grilo dizia, com alguma piada, que era o "Eduquês") bloqueia a(s) forma(s) de pensar e que, assim sendo, condiciona a reflexão, também não é menos verdade que escrever numa linguagem que seja compreendida por quem se quer alcançar é uma forma elevada de comunicação...
      Nestas, como em tantas outras, temos uma tendência natural para apontar no sentido errado: na realidade, nesta e em tantas outras questões, "apontar" a quem agita é uma forma de tornar perene a "estabilidade" dos que "cá estão" não tiverem coragem (ou vontade, ou desejo...) de mudar.
      Não venho em defesa de ninguém (menos ainda do Rui que sabe defender-se como ninguem), mas contribuir para o debate é a forma mais eficaz de debater...
      Talvez ele um dia nos conte como é ser refém do "sempre foi assim" criado pelos que "cá estão" e não pelos que "chegaram"...

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    2. Moinho de Vento: só se não fosse 'boa gente' é que não responderia! O Marçal Grilo foi de facto o primeiro a inventar/utilizar o termo 'Eduquês' - sei o que significa dada a proximidade que dele - Marçal - tinha. Sei também a quem se referia. Não fiz nem faço parte desse 'grupo'. Muito longe disso. Mais: O modo como posteriormente foi usado e abusado pelo Nuno Crato, causou um distúrbio tal entre as 'gentes', que se passou a ser hostil a todo o modo de falar de educação que não fosse o da 'não-expressão-própria'. Conheço bem essa lógica e, sempre que posso e entendo valer a pena, é contra ela que me coloco. O 'Eduquês' do Marcelo representou uma crítica a um certo tipo de linguagem muito hermética, pseudo-científica, usada por algumas 'personagens' que dominavam o mundo das "Ciências da Educação" (em Portugal e não só), e que foi adoptada por um leque de pessoas que vão das Associações de Professores a técnicos do ME. No entanto, esse conjunto de pessoas nem de perto nem de longe esgota o universo de profissionais dedicados a uma prática educativa de carácter fortemente investigativo, cujo desejo, antes de mais, é o desenvolvimento de um conhecimento que só pode ser produzido no interior das profissões que se dedicam à educação. O mais curioso é que entre aqueles que falavam 'eduquês' se encontravam aqueles que defendiam posições extremas de teorias pedagógicas inspiradas em Rousseau, de carácter não-directivo, muitas vezes com uma leitura construtivista-radical (interpretação pedagógica linear das teorias de Piaget)... muito próximas da linguagem utilizada por jovens educadores que sofrem exactamente dos mesmos problemas do 'eduquês': falta de clareza, romantismo, dogmatismo, pseudo-cientificidade. Há tantos exemplos disso que daria para sublinhar um texto de cima a baixo. Não é de falta de 'palavreado científico' que falo: é de linguagem educacional - é de literacia educacional! Se reflectir abertamente sobre as ideias é atacar pessoas... já cá não estou! Se reflectir abertamente sobre as ideias é dizer amen a tudo... já cá não estou! Pergunto: é assim tão difícil perguntar o que quero dizer concretamente sobre tudo isto? Pedir para colocar tudo isto dentro de uma sala de JI ou de Creche, custa assim tanto?

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    3. Marçal e não Marcelo - como o corrector automático teima em escrever. As minhas desculpas!

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