Trabalho para Férias: BRINCAR como se não houvesse amanhã!

O período de férias já chegou.

São as merecidas férias que os levam a descontrair, a descansar e a ganhar energias para o próximo ano letivo.
É tempo para isso, é tempo para permitir que brinquem.

Estes dois anos letivos que vivemos, foram anos completamente atípicos e todos estamos conscientes disso, até as próprias crianças!

Mas, não tomemos as férias como uma espécie de imodium rápido versão educação, que lhes proporciona não um alívio rápido, mas como muitos consideram, uma ação rápida no que diz respeito aos conhecimentos que não foram adquiridos, ou trabalhos que não foram realizados. 

É exatamente o efeito contrário que queremos, esse efeito rápido atinge-se com aquilo que melhor sabem fazer, brincar. Não é tempo de recuperações e de se manterem fechados com os manuais à sua volta.

Reflitam no tempo que lhes dão para explorar, e se é o tempo devido e suficiente.
Reflitam no espaço que lhes dão para se aventurarem, para se magoarem, para caírem, sendo que, se levantarão logo de seguida.

Pensem, essencialmente, que as crianças precisam de explorar o seu brincar, que é fruto de uma vontade e interesse próprio. Este momento torna-se tão importante para a sua criatividade, para a sua imaginação e ousadia, para as aprendizagens livres através do que iniciam, sem nunca saberem onde irão terminar, ou que caminho irão seguir… os caminhos que iniciam fragmentam-se e são momentos únicos e cheios de oportunidades!

Este tempo de férias que chegou é aquele que ajuda a tornar os conhecimentos adquiridos como aprendizagens com sentido, dando-lhes uso através das experiências que tiveram e das oportunidades que eles próprios começam a sustentar. É a melhor forma de tornar evidente um ano de aprendizagens. 

Deixem-se, por favor, de lhes exigir o tempo que os adultos, os pais, consideram que é perdido. Deixem de lhes exigir que as férias são um prolongamento do tempo letivo, em que os manuais ganham forma, em que o estudo se mantém por este período de tempo. Existem de facto preocupações, e uma delas é reconhecer que as férias são ocupadas com as expectativas e com as exigências dos adultos em relação ao próximo ano letivo.
A preparação para o mesmo é fundamental e, cada minuto, é importante para que nada lhes escape no início do ano. Mas o mais importante perde-se.

O brincar fica para segundo plano, fica a marinar até que alguém lhe saiba reconhecer o seu valor, até que alguém reconheça que é algo indissociável do ser criança. Quando dermos por isso, chega o início do ano escolar e as oportunidades que existiam no tempo de férias, ficam perdidas no tempo… no tempo dos adultos, porque as crianças nem tiveram oportunidade de o sentir.

Aproveitem a praia, o campo, o mar, as piscinas, os passeios ao ar livre, os picnics para enriquecer a autoestima dos pequenos, para lhes dar a oportunidade de viverem a sua infância.

Não os fechem entre quatro paredes, em ATL’s pouco centrados nas crianças, ou em atividades que não preveem o exterior/natureza como espaço central deste tempo. Exijam que eles tenham oportunidades na rua, que seja a melhor forma de os fazer criar conexões com os diferentes espaços, com os diferentes contextos, com diferentes parceiros sociais, de modo a que esta variedade de oportunidades os fortaleça nas suas brincadeiras, os leve a viver diferentes cenários preparando-os para o próximo ano letivo. 

Que seja uma preparação afastada dos livros e das férias escolarizadas.

Deixem-se, por favor, de ocupar as férias com as atividades afastadas dos seus interesses, mostrem-lhes que os respeitam e que reconhecem cada tentativa do que fazem como um crescimento e como uma aprendizagem.

Ocupem a rua, os espaços exteriores, a natureza e tornem o brincar vivo nas suas memórias, porque este tempo de férias é fundamental para que essas memórias sejam construídas, sendo elas fortalecidas pela sua capacidade de contar o que fizeram, que planos construíram, quantas vezes caíram. 
São momentos únicos as férias, mas pouco valorizados.

É verdade que, no caso de crianças em idade escolar, a preocupação é acrescida, pequenas leituras, pequenas cópias, mas que surjam com um sentido, de modo a que eles sintam que o que estão a fazer tem um propósito para o seu dia. Assim, não se criarão as frustrações, as exigências, a ausência do tempo que necessitam para brincar que lhes promove a concentração, a motivação, o empenho e a capacidade de criar.

Este é o tempo de férias, e como tal indica o seu significado, é de descanso para os trabalhadores, para que repousem, para que encontrem o descanso merecido. 

É também um tempo fundamental para as crianças, será que o reconhecemos como tal?
Não, não estão só a brincar.

Estão, enquanto brincam, a construir a sua perceção em relação ao mundo, envolvem-se em explorações e descobertas, motivações, interesses com todo o corpo. É uma exploração e um conhecimento íntimo entre o seu EU e o que os rodeia; é viver a sua infância na 1ª pessoa com todos os sentidos, dando-lhes a hipótese de se construir interior e exteriormente.

O tempo de férias é também fundamental para fortalecer as relações familiares, as oportunidades de encontro que não surgiram de forma frequente ao longo do ano. E, como tal, é tempo de olharmos para este tempo precioso como um cenário que deve ser vivido sem qualquer intuito de desvalorização.

Viver as férias é permitir que o brincar se mantenha como uma linguagem sem palavras audíveis, é observável através da satisfação, do envolvimento, das suas tentativas, da capacidade de ultrapassar os problemas e os erros que surgem.

Viver as férias é permitir que se olhe para o seu corpo de um modo único e global e verificar a satisfação com a qual se envolvem. É observar o modo como o seu corpo se adapta ao que desenvolvem, dando-lhes o controlo em relação a si, o controlo que é necessário que tenham, que experimentem, que os faz ficar confiantes nas suas ações. 
Não, não estão só a brincar.

Sejam, apenas, fiéis aos interesses dos pequenos, valorizem a sua melhor expressão, o brincar. Deem-lhes esta oportunidade única, que é viver cada momento de férias a que têm direito, porque são momentos que não se repetem e que não podem passar em vão. O tempo não para e não volta atrás.
Está em risco permitir que vivam uma infância feliz, alicerçada no brincar. 
Está em risco a construção de memórias da sua própria infância.

Deixem-se disso, anotem este conselho,
Trabalhos para Férias: brincar como se não houvesse amanhã!

E tenham umas boas férias, recordem o que faziam e permitam que eles tenham, um dia, as suas recordações felizes! 

De que te lembras de fazer nas tuas férias? 
Do que será que eles se lembrarão? 


#umacaixacheiadenada

Rui Inácio 





Comentários

  1. Oi boa noite ! Meu nome é Majane e " te encontrei por acaso " ...li alguns dos seus textos e parabenizo pela " sensibilidade" tão presente nos escritos e tão ausentes no dia a dia corrido de muitos...continue a escrever " as palavras tocam...o quê é muito importante e válido!

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