Os meus filhos estão de férias e eu estou ansiosa que comece a escola

Para muitos, a chegada do mês de agosto, é sinónimo de férias… de férias em família.

A grande maioria das escolas fecha e os pequenos guerreiros, que se aguentaram um ano inteiro sem faltar, têm agora a possibilidade de descansar do seu trabalho. 

Sim, é verdade, tal como os adultos, as crianças também se cansam, também precisam do seu momento de descanso. 

Ao longo do tempo, vamos vendo e ouvindo pais que referem que as escolas deveriam estar abertas todo o ano, que as escolas deveriam manter atividades que ocupasse os filhos durante todo o ano… Mas, de facto, a escola “apenas” pretende apoiar a educação que os pais iniciam em casa… 

As férias não são mais do que momentos que se pretendem de família, em que os laços se tornam mais fortes, em que as crianças e os pais planeiam atividades que vão ao encontro da diversão, da relação, da cumplicidade e da valorização familiar.  

Durante o ano, vamos vendo diferentes necessidades familiares, em que os pais, e de forma legítima, necessitam de um tempo individual, de um tempo em que precisam de descansar e relaxar, momentos que os filhos acabam por ocupar.

Alguns escolhem deixá-los na escola de igual forma. Mas, volto a reforçar, entendemos as necessidades dos adultos, mas não conseguimos entender as necessidades que as crianças têm. Ou seja, necessidade de parar, de relaxar, isto e muito mais,  fora do contexto escolar. 

Certo, sabemos que em muitas situações, as escolas são pagas, ou não, e que ao pagar devem usufruir de forma integral… mas será isso o importante? Será esse o fator que maior peso tem nas decisões que se tomam em relação a uma criança? 

Ao longo do ano, mas principalmente quando o verão bate à porta, e entra a toda a velocidade, apercebemo-nos de que os pais estão de férias, de que os filhos passam o mesmo tempo, ou mais, na escola diariamente. Apercebemo-nos que o dia foi passado na praia, não fosse o resto de areia mal limpa nas pernas, ou os aparentes escaldões, aliás… nós, adultos, apercebemo-nos, mas os vossos filhos, as crianças, também. E o tempo que poderiam usufruir enquanto família dissipa-se… corre a uma velocidade que não tem retorno, e assim, perde-se um momento de crescimento fabuloso, que se chama, infância, família.  

Volto a dizer, de facto somos pagos para desempenhar o nosso papel, para desempenhar as nossas competências, acompanhar as crianças diariamente, nas diversas atividades que se vão construindo de forma participada. Mas, nós estaremos no máximo 5 anos das vidas das crianças, e sabemos que são de qualidade, e que o objetivo, é que sejam partilhadas com a família, em que lado a lado, desbravamos este caminho a que chamamos crescer, de modo a que, na escola e em casa, haja um crescimento harmonioso. Os pais estarão o resto da vida e isso faz com que este momento seja de tal forma importante, que as relações que estabelecem com eles hoje,  perduram no tempo e enraízam-se nos comportamentos deles próprios! 

É verdade que estamos de férias, porque os profissionais de educação também têm famílias, também são seres humanos que erram, que se cansam, e como todos os outros, também precisam de descansar. 

Tornem as férias um momento único, em que se tiram fotos onde todos estão a sorrir, onde o tempo passa, mas é passado em conjunto, ao ar livre, a aproveitar essa relação que vai aumentando a cada dia que passa! E quando o início do ano chegar, que eles chorem por não querer ficar na escola, porque será sinal de que as férias em família valeram a pena, e que todos souberam aproveitar cada minuto, cada dia em família. Que a relação aumente e que os ajudem a crescer enquanto seres que valorizam a família e o outro. Que sejam tempos de sorrisos e de muita brincadeira… 

E em setembro, não se preocupem, estaremos de braços abertos para os receber, e acalma-los sempre que precisarem… acalmar os filhos… e os pais…!  

Mas ainda agora as férias começaram, e haverá algo mais difícil de ouvir, do que, 
“os meus filhos estão de férias, e eu, estou ansiosa que comece a escola?!”

#umacaixacheiadenada

Rui 

Comentários

  1. O mal desse "pouco" tempo que os pais dedicam às crianças é de quem começou por "abrir" as escolas, ATL e actividades por mais tempo e durante mais tempo possível.
    É claro que com isso se foi criando uma desresponsabilização dos ditos país em relação aos filhos ( a escola existe para eles lá estarem)!
    Não importa o tempo criança-familia.
    Agora justifica-se essa falta de tempo com o trabalho, necessidade pessoal.
    E as crianças não tem necessidade do tempo em família?
    Triste realidade a nossa... Infelizmente não vemos as prioridades dos nossos filhos, se isso lhe podemos chamar!😊

    ResponderEliminar
  2. Bom dia. Concordo plenamente, eu tento sempre estar todo o tempo que posso com a minha pequenina e que ela esteja na escola so o tempo necessario. Infelizmente a maioria nao e assim. Por outro lado temos cada vez mais outra perspetiva: nos pais nao temos as mesmas ferias dos filhos.muitas vezes as escolas(cresches e pre)fecham o mes inteiro de agosto, como se faz com o trabalho?

    ResponderEliminar
  3. Este assunto é muito delicado. Já tive várias opiniões sobre ele e conclui que não devemos fazer grandes julgamentos porque o que se passa na casa de cada um, não sabemos! Por vezes as próprias crianças pedem para vir para a escola em vez de irem para a praia com os pais. Por vezes os pais vão para a praia, as crianças para a escola, mas quando chegam a casa conseguem passar momentos de qualidade. O que eu quero dizer na verdade, em relação a este assunto, é que devemos ser ponderados e não julgar o aparente.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigado pelo seu comentário. É a verdade, é um assunto delicado. Como os outros textos, este, tende a ser mais um momento de reflexão, não de apontar causas ou dedos. Apenas alerto para a importância do tempo em família, da importância que este assume na construção das crianças, nos exemplos que queremos dar enquanto pais. Sei, que ao publicar, ponho o dedo na ferida, mas, mais uma vez refiro, reflexão. Agradeço, bastante, o seu comentário .

      Eliminar
  4. É triste reduzir os pais a isto. As crianças têm agora 3 meses de férias, só agora no verão, fora Natal e Páscoa, Carnaval, pontes e greves. Os pais têm 22 dias. Que têm que ser divididos pelo ano todo. Quando não há família por perto valem-nos os ATLs, nem todos temos a sorte de poder morar ao lado da família. Soubessem o que me custou hoje, dia de greve, pagar um ATL para ficar com os miúdos porque não posso faltar ao trabalho. Soubessem as vezes que me senti culpada pelo pouco tempo que passo com eles. Não é preciso estes textos para nos deixarem ainda piores. Percebe-se logo que são escritos por quem não tem filhos, tem trabalho com bons horários ou uma bela rede de apoio familiar, são tremendamente felizes e vomitam unicórnios ao pequeno almoço, enquanto nós as más mães que deixam os filhos na escola estão a preparar os lanches, marmitas, mochilas e afins, porque quando chegamos do trabalho temos o jantar para fazer, os tpcs para acompanhar, ou os banhos para dar, a roupa para por a lavar, estender ou arrumar, os filhos para dar atenção e mimo, entre outras coisas mais. E colocar os pés na terra não?
    AnaS

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigado Ana pelo seu comentário. mas de facto, o intuito não é,. de todo o que refere. O intuito trata-se apenas de se pensar nos tempos que damos enquanto família aos nossos filhos. reconhecer a importância que se dá, é fundamental, proporcionar momentos em família, urgente. Entendo, acredite ou não, nas dificuldades que sente. Colocam-se diversas questões, uma escola que não está adequada aos tempos dos pais, uma escola que não se adapta aos tempos profissionais das famílias, uma escola, e como diz, que acaba por estar tanto tempo encerrada e, de certa forma, as famílias têm de recorrer a meios para conseguir manter as crianças ou em ATL's, ou em última instância, em casa, sendo o orçamento familiar prejudicado por essas decisões. Temos em mente a necessidade familiar, o esforço diário, a preparação prévia de cada dia, o chegar a casa, a vida diária... mas são os filhos, que merecem a atenção. E, felizmente, e como tão bem refere, todo esse esforço é valorizado, pelos mais pequenos. O texto apenas tende a fazer pensar, refletir, se assim for permitido, porque infelizmente, muitos são os casos em que acontece. Agradeço, de forma sincera o seu comentário, reforçando a pertinência para o pensar acerca do assunto, não para o tornar um julgamento... Obrigado

      Eliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Assistentes operacionais, mais do que um termo, uma profissão.

Grupos de WhatsApp de pais, um obstáculo ou uma potencialidade?

"as minhas paredes estão cheias de nada (...) isso é sinal de que não trabalho"