Terminado o ano, (…) voam para um novo destino!

Ano após ano olhamos as crianças que estão diante de nós, com quem partilhámos tantas conquistas e tentativas, e reconhecemos que cresceram, que se tornaram crianças com mais aprendizagens e oportunidades de crescimento.

Estas mesmas crianças, com quem estabelecemos tantas parcerias e partilhas, são agora aquelas a quem dizemos que partem para novos voos. Não olhamos apenas para as que seguem para um novo Ciclo, mas também, para as que se mantêm na Educação Pré-escolar ou até na Creche. Até para essas, entram num novo ciclo de aprendizagem, ou se melhor quisermos referir, na continuidade de uma etapa de aprendizagem. Reforça-se, assim, a importância de não assumirmos que é tudo um dado adquirido, que, sendo as mesmas crianças, existiram mudanças, conhecimentos alargados, aprendizagens fundamentadas nos seus interesses e desafios, nos seus erros e nos nossos. Elas mudaram. Nós mudámos.

Neste fim de ano temos de reconhecer que o ciclo se fecha e que o próximo ano precisa de um novo cuidado, de uma nova reflexão, de nova observação e intenção. Mas, temos uma vantagem. Para os que não partem para a etapa escolarizada, já os conhecemos, no entanto, há que fazer a atualização.

Em mais um ano atípico, as asas não cresceram apenas agora. Não. Essas asas que tantos dizem que ganharam, sempre as tiveram, simplesmente foram-se tornando mais fortes, dia após dia, à espera do grande momento em que se poderiam abrir e voar realmente para um novo voo, para um novo desafio, para um novo ciclo que foi fundamentado em todas as vivências que lhes foram proporcionadas.

É um novo caminho apoiado no seu sonho e no interesse, sempre valorizado.

Estes voos, que já começaram, seguem cheios de saudade,  cheios de esperança e, tal como tantos dizem, levam um pouco de quem com eles esteve durante tanto tempo. Levam um pouco de quem lhes deu tanto e, o que se deu, não é referência aos trabalhos entregues no final do ano, mas sim, a todos os momentos que foram, realmente, vividos com base no respeito, no olhar atento, na capacidade de os escutar e na construção de memórias.

Aqueles momentos são os que moldam a personalidade de cada um, que se fazem construir à luz do exemplo sincero, no abraço, no beijo, no sorriso escondido através do olhar, na cumplicidade que se criou e os fez acreditar neles próprios a cada momento. Naqueles momentos em que os ajudámos a acreditar que é possível e que, mais importante do que a queda é a atitude que assumimos para nos levantarmos. E sim, algo fundamental a viver desde pequenos.

Estes momentos partilhados e que alicerçam cada decisão tomada, levam a que a nossa intenção seja entendida através dos nossos comportamentos e atitudes. E tantas vezes queremos transmitir algo que de facto não tornamos evidente, pois assumimos atitudes contrárias. Que influência causamos e de que modo a corrigimos?

A necessidade de partilhar momentos, de construir espaço de conexões fundamentais nas relações humanas, tornam o que se dá, de um modo pleno, através do sentir, através do ser e permitir que sejam seres de afeto, seguros de si e emocionalmente estáveis. Viver as emoções e aprender a lidar com elas.

Numa tentativa alargada de reconhecer que estas asas que se abrem no final do ano, são asas que se foram fortalecendo em cada momento de brincar, em que se desafiaram e souberam justificar as suas construções, souberam torná-las reais e acompanhadas de diálogos justificados que revelam conhecimentos, aprendizagens e interações únicas.

Estas asas que os fazem agora voar, são asas cuidadas por tantos: Educadores, Auxiliares, Pais, comunidade, são asas cheias de tudo o que viveram, de todos os exemplos que os influenciaram e que eles próprios influenciam. São asas que batem calmamente ao sabor das memórias que foram construídas em cada momento.

Se por um lado seguem confiantes neste novo voo, por outro escondem o nervoso miudinho do próximo ano sem saber como serão as reações, as necessidades e as expetativas relativamente ao modo como agirão. 

Começam a sentir o peso nas asas da responsabilidade que lhes carregam. Frases simples como, agora é que vai ser, para o ano acabaram-se as brincadeiras, vais ter de aprender e estar atento para ser alguém,… Esta lista poderia não terminar.

Aqueles que se aventuram no próximo Ciclo, 1º Ciclo, a carga de receios que lhes imprimem leva-os a levantar voo, ainda que acorrentados a estas chamadas de atenção que insistimos em sobrevalorizar.

Mas ainda há tempo para as retirar. Ainda há tempo para os fazer seguir o voo confiantes e a isso chama-se acreditar. Fazê-los acreditar.

Esse acreditar foi algo que se imprimiu a cada dia que viveram no jardim de infância, acreditar que é possível, que devem ser confiantes, que devem reconhecer as fragilidades, mas ultrapassá-las, que o apoio é fundamental e que, de um modo cuidado, se cuidarmos dos outros, também cuidarão de cada um. 

Estes voos reconhecidos nos próprios seres elevam a fasquia, elevam as aprendizagens e o sentir que viveram tornando-o positivo em cada momento. Criar ferramentas que os façam acreditar que o possível é algo que está à distância de um simples bater de asas, através do seu esforço próprio e de tudo o que foram experienciando.

Este é o papel da Educação.

Dar asas não acontece no último dia de aulas, dar asas acontece em casa, aliás, aconteceu a partir do momento em que nasceram. As asas vão-se abrindo e vão-se tornando mais fortes, batem ao seu ritmo, batem ao ritmo do seu interesse e de tudo o que lhes fomos proporcionando.

Sim, agora o voo é outro. Aliás, o voo muda a cada dia, pois cada dia é um ciclo de aprendizagem, melhorado através da vivência do dia anterior.

Estas asas que ganharam desde o nascimento, não são apenas fruto da escola, mas do envolvimento e empenho de todos. Por isso, quando utilizarmos a expressão, ganharam asas, teremos de reconhecer que todos tivemos responsabilidade no voo que estão a ter. Teremos de reconhecer os diferentes papéis que assumimos e que todos se tornaram e se tornam fundamentais para que os voos sejam de sucesso, que os levam a acreditar neles próprios, no amor e confiança que têm em si próprios. É olhar, de um modo consciente, para as crianças como seres de e em interação entre os diferentes meios.

Eu, educador, esforcei-me para reconhecer neles o tanto que traziam, o tanto que construíram, as dificuldades que sentiram e que, em conjunto as ultrapassámos.

Eu, educador, esforcei-me para reconhecer cada um como um ser capaz de realizar voos e de tornar cada oportunidade uma rampa de lançamento ou de treino para o próximo voo.

Nunca é fácil reconhecer a potencialidade de cada criança, pois esta capacidade assume-se na importância de os escutar, de os olhar, de os abraçar, de construir uma relação de cumplicidade que se vive dia após dia e se torna como a chave para todo o restante processo. É olhá-los nos olhos e transmitir a confiança sem qualquer palavra, mostrando-lhes que o caminho que começam a definir terá diferentes ramificações, que o processo de escolha está diante de si. É o ator principal da sua vida, sem guião definido.

Devemos conseguir olhar a Educação como um berço de emoções e de sentimentos, que precisa de crescer em conjunto, num olhar conjunto, adulto-criança, mas se sente através de cada gesto, através de cada sorriso, de cada lágrima que corre, de cada encorajamento para algo novo. É uma atitude que se vive, não em momentos estanques, mas que se tornam ligados entre todos os segundos. Faz-nos levar a cada um para casa e pensar de que modo poderemos contribuir para que a rampa de lançamento, seja simplesmente única e valorize o destino que vão traçando… É uma rota que se baseia no ser íntimo de cada criança, reconhecendo-lhe a capacidade de bater as asas nesta nova aventura.

Terminado o ano, as asas que receberam desde cedo, tornaram-se cada vez mais fortes e capazes, e assim, voam para novos voos, confiantes, felizes e com um álbum de memórias que pudemos construir em conjunto.

A prioridade sempre foi essa, não o fim, mas todo o percurso em prol das vivências que os ajudaram a construir-se enquanto seres pensantes, interessados e preocupados pelo outro, crianças que reconhecem e lidam com o seu sentir. Seres que sonham.

Assim sendo, essas asas que ganharam e que nos empenhámos em fortalecer, serão as mesmas que vos levarão em voos rumo aos vossos sonhos!

Sintam a brisa que vos toca ao longo de cada voo e sejam felizes, independentemente do destino que escolhem, vivam o percurso, relembrem quem se cruzou convosco e de que forma contribuíram para o que são. Tornem-no presente em cada bater de asas, pois será essa memória que vos fará voar de um modo confiante!

#umacaixacheiadenada

Rui Inácio 







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