Ser educador de infância/professor que inspira os seus alunos
O teletrabalho ganha, novamente, maior força. As famílias passam mais horas juntas e passam a partilhar o mesmo espaço durante mais tempo. As crianças, mais dependentes, permanecem junto dos seus cuidadores, dos pais, com a necessidade de maior atenção.
Os níveis de stress aumenta nos pais, por não conseguirem realizar o seu trabalho como deveriam. As crianças ficam demasiado ansiosas, as chamadas de atenção tornam-se constantes e as birras mais frequentes.
Torna-se o reviver de um cenário e de um guião que parece que já foi escrito e que nos limitamos a repeti-lo.
As escolas fecharam e mesmo à distância, há laços que não se podem perder, há relações que não podem desvanecer.
Centremo-nos no que importa, ultrapassar este cenário da melhor forma, olhando para ele de um modo positivo e com a responsabilidade merecida.
Vamos olhar para a nossa responsabilidade civil como um modo de agir e não se sermos negacionistas, provocando o desleixo e o descalabro na sociedade. Sejamos responsáveis.
Quando estivermos a realizar as nossas planificações, vamos centra-nos nas crianças, nas suas necessidades e nos seus interesses. Vamos deixar de parte o nosso ego. Criemos momentos que sejam simples, verdadeiras fontes de interesse, ricas de oportunidades e, mesmo estando à distância, que não percam o brilho nos olhos pelo “menino” que carregam nos braços, que se chama Educação.
Continuem a agir em prol das crianças, façam-nas o centro da vossa prática. Ainda que à distância, tornem-na um exemplo claro das decisões que tomam, tornem-na um notável paradigma da vossa intencionalidade, que tem o cuidado de responder às necessidades das crianças que têm à vossa responsabilidade.
Se é fácil? Nunca ninguém disse que ser professor, ser educador seria fácil.
Se alguém vos disse, enganou-vos.
Já estamos conscientes das dificuldades que vamos enfrentar, mas se nos continuarmos a deixar à sombra delas, continuaremos a agir sem fundamentos, continuaremos a agir porque não nos preparamos, ou porque não nos deram as diretrizes que deviam ter dado. Continuamo-nos a esquecer, que mesmo à distância, continuamos a ter alunos, alunos que sentem, que falam, que se relacionam, que crescem, que aprendem, que se interessam, que vivem.
É verdade que a distância se torna um obstáculo, que o tapete de segurança que tínhamos nos foi tirado, mas, simplesmente criamos momentos que se tornaram verdadeiras aventuras, para todos. E agora, olhando para trás, conseguimos aprender com os erros, conseguimos corrigi-los, conseguirmos e mantemos o nosso foco nos alunos, mesmo sabendo o que isso acarreta.
Não fiquemos na praia e não nos deixemos tomar por este negativismo todo que nos chega a todos os minutos. A sociedade continua a trilhar o caminho e, como tal, a educação continua a fazer-se, a educação continuar a merecer o nosso empenho e, mais do que a educação, os nossos alunos. Eles mantêm os seus sonhos, a sua vontade de estar e de ser, a vontade de crescer e de aprender. As crianças mantêm a necessidade de se envolverem, de serem ouvidas, de serem escutadas, de serem o centro da sua própria educação!
Já sabemos que teremos as expectativas dos pais aos nossos ombros, e que, de certa forma são totalmente compreensíveis: representam os medos, as ansiedades, representam o receio em relação ao futuro dos seus filhos e, claramente, não querem que eles percam nada daquilo que deveriam estar a viver, daquilo que idealizaram que fosse vivido no tempo apropriado ou esperado. Mas o tempo definido como apropriado, foi alterado.
Tenhamos atenção na nossa forma de ação, mesmo sabendo que há tempo a escapar-nos por entre os dedos, temos de ser conscientes nos passos que damos. Devemos ter duas competências fundamentais ativas: disponibilidade e sensibilidade.
Disponibilidade, para nos mentalizarmos de que se erramos temos de corrigir, para sermos verdadeiros exemplos de se fazer educação, mesmo que à distância. Devemos estar disponíveis para acolher, mas também para sermos acolhidos, pois iremos entrar na vida familiar de cada criança através de um ecrã. E todo o cuidado é pouco. Mais do que nunca, temos de ter consciência de que as crianças frequentam diferentes contextos, que as famílias assumem diferentes formas de estar, que somos e, continuaremos a ser alguém em quem confiam. Temos de estar disponíveis.
Sensibilidade, para reconhecer que o espírito de cada família, o estado psicológico de cada criança, de cada pai e de cada mãe é diferente, e que pode, evidentemente, estar mais fragilizado, teremos de ser o apoio de que necessitam. A sensibilidade que nos caracteriza neste momento, é chamada para o sermos enquanto seres humanos que somos, no sentido de acalmar, de ser aquilo que somos a vida inteira, seres de relação e em relação.
Sejamos conscientes nas propostas que enviamos, nas propostas que os sujeitamos a ter, porque além da vida escolar, vivem a vida familiar com tudo o que isso traz.
Que espaço damos?
Que tempo damos?
Como nos disponibilizamos?
Não sejamos, novamente, os que insistem em enviar trabalhos e trabalhinhos para se limitarem a ocupar tempo sem qualquer intencionalidade. Não nos ponhamos a aconselhar os manuais, que se torna um interesse meramente económico, as fichas e tais, porque uma ficha não determina o sucesso das crianças. Não será por os embrulharmos em manuais e fichas que, ao fim deste confinamento, teremos doutores, professores, engenheiros, e os fará estar bem preparados para uma transição de ciclo … Não representa nada daquilo que eles fazem verdadeiramente. Ao se utilizar, que não se faça só porque sim, mas porque realmente existe uma intencionalidade clara no que estamos a fazer.
Sejamos coerentes, sejamos sensíveis. Não embarquemos nesta barca chamada ansiedade, ou até desleixo.
O desafio é acrescido e sabemos que teremos o coração nas mãos, para desempenhar, da melhor forma, a tarefa que nos está a ser confiada: Ser educador/professor à distância. E custa, muito.
Teremos de manter o nosso foco, teremos de estar conscientes de toda esta situação, do impacto que está a causar na vida das crianças, na vida das famílias e até na vida dos professores. Como se dizia, sejamos sensíveis às consequências que circundam a pandemia, este confinamento. Sejamos disponíveis para sermos vozes de luta nas guerras psicológicas, familiares, sociais e pedagógicas que as crianças estão sujeitas. Não sejam meros apontadores de dedo que não apresentam ou sugerem soluções. Sejam sensíveis.
Continuemos a revelar o que a educação tem de melhor. Continuemos a ser professores empenhados em fazer sorrir o futuro das crianças, levando-as a serem resilientes, a serem audazes e aventureiros nos caminhos que desejam trilhar.
Mantenhamos a sensibilidade e disponibilidade para desempenhar, da melhor forma, o nosso papel. Estejamos despertos para este tempo de adversidades e sejamos exemplo de que nos momentos em que os problemas surgem, surgem também as oportunidades para fazer acontecer.
Esforcem-se por ser bons professores e, mesmo lutando contra tantas adversidades, foquem-se em tocar no coração de cada aluno, mostrando-lhe a importância da relação, do afeto e de os fazer acreditar que os sonhos se podem tornar reais.
Lembrem-se que, neste tempo, temos de ser professores que acompanham, que estão presentes, que se envolvem, que se motivam, que se empenham em manter a chama interior de cada criança, a chama de querer ser mais, melhor, e de continuar a poder a ter a liberdade de sonhar no seu futuro.
A educação à distância está já aí, ao virar da esquina, e nós continuaremos a fazer o melhor que sabemos: ser educador de infância/professor que inspira os seus alunos.
#umacaixacheiadenada
Rui
Espero que os meus pais leiam
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