Vamos ser (educadores) influencers?

Os tempos não têm sido fáceis. 

Andamos cansados e fartos de utilizar máscaras, de viver distanciados e preocupados com o nosso futuro. Mas, mais do que com o nosso futuro, andamos preocupados com o futuro dos mais pequenos que estão a viver uma infância completamente diferente daquela que seria de esperar.

É certo que vamos reconhecendo que estes pequenos são seres capazes de criar, de se envolver, de se interessarem pelo seu crescimento e pelas aprendizagens que vão surgindo. São interessados em desenvolver as suas brincadeiras, de construir planos mentais e torná-los reais! 

Mas, onde ficamos nós no meio tudo isto? 

As práticas (enquanto educadores, professores) tenderam a valorizar o espaço exterior, tenderam a reconhecer, ou não, as suas potencialidades e quase se tornaram moda. Embora seja uma moda com muito sentido, não poderemos deixar de refletir nas oportunidades que continuamos obrigados a proporcionar, mesmo além portas. Não nos podemos limitar a seguir um rebanho que segue ao sabor da maré e, se assim fizermos, que tenhamos a mínima preocupação de pensar que a nossa atitude proporciona mudanças na vida das crianças. 

Somos uma profissão da moda, influencers, mas vamos sê-lo com estilo, ou pelo menos, com consciência. 

A rua não é apenas o espaço verde. 

A rua não é apenas subir às árvores. 

A rua não é só permitir que brinquem na lama e se sujem. 

A rua não é apenas rebolar na relva. 

A rua é tudo isso, mas é também reconhecer que existem nas cidades, nos jardins-de-infância de cidade, e não só, espaços que podem e devem ser reconhecidos e valorizados. 

De um momento para o outro começamos a defender as atividades fora de portas, atividades que promovem a autonomia, o desafio, a socialização, a aventura, a ousadia, a independência, a mobilidade, mas dentro das escolas andamos em filas e nem permitimos que eles explorem os materiais, de um modo livre, nas salas, nem que se movam de um modo fluente. 

Vamos lá tornar-nos influencers, mas conscientes! 

Vamos dar o nosso melhor! Vamos ser influencers que sabem o que estão a promover e, mesmo que não saibamos ao certo, que não tenhamos medo e muito menos vergonha de perguntar. 

Esta é uma profissão de relações, de redes, de crescimento comum, de estar em contacto com outros profissionais. Uma profissão que expõe fragilidades, que vive conquistas, que ultrapassa limites e derrotas. 

Vamos ser influencers

Ser influencer é mostrar que estamos a ser intencionais e racionais naquilo que estamos a promover. É mostrar que, mesmo estando a fazer algo que vimos e achamos giro, fazemos pequenas mudanças adequadas ao grupo. É mostrar aos encarregados de educação, aos pais, às famílias e à comunidade em geral que vale a pena reconhecer os espaços exteriores como espaços de aprendizagem e não se deixarem fechar, a sete chaves, entre quatro paredes, porque o benefício disso não é nenhum. As crianças que se criam hoje esquecem-se de ser críticas, criativas, ousadas, desafiantes e aventureiras. Simplesmente, porque nem sequer lhes foi permitido experimentar estas e outras mais competências e oportunidades! Esquecem-se de ser crianças.

Vamos ser influencers

Vamos ser influencers e influenciar os pais, os educadores e os docentes mais resistentes a integrarem este espaço nas suas práticas. Vamos deixar-nos de desculpas, vamos crescer juntos, de modo a permitir que eles vivam uma infância feliz, que lhes dará as melhores experiências e memórias, e vivam por entre aventuras, feridas, risco e ousadia. 

Vamos ser influenciers, essa profissão da moda, e permitir que elas sejam crianças, que todos os que os acompanham reconheçam que há tanto a viver, e que se eles não fazem mais, é porque nós não permitimos. 

Eles dão-nos pistas e mostram-nos que, “Aqui há muitas descobertas!”… Eles sabem-no, nós é que teimamos em fazermo-nos de difíceis, condicionados por duas razões apenas: por tudo e por nada. 

Vamos ser influenciers? Sim, vamos a isso! 

Mas há tantas dúvidas!

Como é que conseguimos avaliar? 

Como é que conseguimos planear? 

Como justificamos as ausências de trabalhos nas capas e nos dossiês no final do ano letivo? 

Tantas são as preocupações, quando a observação das suas necessidades diz-nos tanto; quando os registos se tornam verdadeiras avaliações e evidências, registos claros, de conquistas, de percursos, de processos, de frustrações, de erro, de crescimento. Estar atento, estarmos atentos. 

Os objetivos que se criam são únicos, não pertencem a uma check list! Além do mais, temos um documento fabuloso que nos apoia a prática (OCEPE) e que tantos de nós, ainda nem as leu, ou continuam a chamar de “novas” quando na realidade já têm quase "a idade de passar para o 1º ciclo"! 

Vamos ser verdadeiros influencers,... mas os verdadeiros influencers são os mais pequenos, as crianças. 

Se os pequenos podem ser influencers, que sejam, e que saibam influenciar-nos, que saibam fazer-nos escutar a sua voz, o seu movimento, a sua necessidade, os seus interesses! Que nos digam que há tanto a fazer e a aprender quando nós os escutamos! 

Temos mesmo de ser influenciados. Temos de reconhecer que não nos basta dizer que os escutamos, temos de assumir que, além de os escutarmos, os observamos, os tocamos, os sentimos, os desafiamos. No fundo, escutamos e escutaremos com todos os sentidos, reconhecendo-os como aqueles que influenciam a nossa prática. E se formos sensíveis e disponíveis a isso, tudo o resto será natural! Seremos compreensíveis e todos os envolvidos estarão conscientes de que a Educação de Infância é feita de exemplos, de crescimento comum, de rede e de respeito por todos os que a vivem. Se assim nos permitirmos, o envolvimento na planificação é de todos e para todos, tornando-a, o espelho das crianças que estão, diariamente, a tentar influenciar-nos. 

Somos influencers e eles também o são! Influenciamo-nos e fazemos acontecer educação, quando assim o permitimos, quando assim nos respeitamos, quando assim os respeitamos. 

E, não haverá melhor registo do que aquele que eles sentem, verbalizam e recordam. 

Tornamo-nos construtores de memórias, únicas! 

Vamos ser influencers, mas vamos sê-lo com estilo, ou pelo menos, com consciência. 

#umacaixacheiadenada 


Rui Inácio

Se gostou deste texto, poderá gostar: Amanhã seremos construtores de memórias.

Comentários

  1. Que forma fantástica de envolver e fazer pensar no nosso papel, no papel do educador que vê a criança como potente, promotora, construtora... influencer... sem dúvida!

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  2. Mais um texto que faz pensar e muito...porque fazemos o que fazemos?

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