Semana de S. Martinho, alguém tem ideias??

 Estamos perto do S. Martinho e hoje, decidi ir pesquisar que atividades poderei fazer ao longo desta semana.

Achei que seria uma boa semana para manter esta temática, e tenho de me organizar, de tal forma que a planificação terá de girar em torno desta tradição

Abri o Dr. Google e não me surgiram atividades, daquelas prontas a consumir, que me agradassem. Parti então para o Facebook e apenas questionei, ideias para o S. Martinho, alguém tem? Começaram a chover mensagens com sugestões, com críticas, com tudo aquilo que possam imaginar, eu só queria proporcionar momentos únicos para o grupo que tenho diariamente. E, para esta semana, achei que seria pertinente abordar o S. Martinho, tal como deve estar a acontecer em todos os jardins-de-infância e creches deste país.

Só queria uma ideia, aliás, uma não, pelo menos 5, de modo a que me preenchessem a semana. Assim, conseguiria facilmente preencher a semana, mantinha-os ocupados e abordava o S. Martinho e tudo o que dele advém.

Mas depois de ter uma panóplia de sugestões, de críticas e de passos a seguir, tentei preencher a semana de uma forma bastante rica, com sugestões de atividades, de alguém que mas deu, de alguém que não conhece o grupo que tenho diariamente, mas dado que as ideias são fantásticas, limitar-me-ei a pô-las em prática. Depois lá arranjarei uns objetivos que encaixem naquilo que impus, nas atividades bonitas que os farão andar a falar de castanhas durante uma semana inteira, ou da Lenda do S. Martinho. As paredes ficam com castanhas, com assadores, com as personagens da lenda do S. Martinho que gentilmente me cederam. E com isto, apenas digo, sabe tão bem ser educador.

Dizem que esta é uma profissão de partilhas, de cumprir a tradição, de nos tornarmos rede, seja lá o que isso queira dizer.

S. Martinho, é isso que me importa neste momento.

E para já, a semana está preenchida, a planificação está prontinha a aplicar e amanhã farei o melhor que sei: aplicar tudo de modo a que todos consigam realizar as atividades, porque quando chegarmos a sexta-feira, quero mostrar a todos os fabulosos 25 trabalhos, iguais, que acabei de fazer. Mas mesmo sendo 25 trabalhos iguais garanto-vos, permitirei que escolham as cores para colorir, e se bem os conheço, aposto que escolherão todos a mesma cor. Quem é que já viu uma castanha azul? Ou amarela? A forma da castanha é única e a ficha que lhes darei vai mostrar-lhes isso mesmo, as castanhas são de cor castanha e iguais.  A parede tornar-se-á fantástica e motivo de orgulho daquilo do que andaremos a preparar, afinal, mesmo que os pais não circulem nos corredores, este trabalho será uma evidência, na pasta, de que abordámos a Lenda de S. Martinho.

Ao longo desta semana, será difícil realizar tudo o que há a fazer. Mas os cartuchos terão de estar prontos, e para isso, bastará que os pintem. Estarão à sua disposição e prontinhos a serem decorados. O tempo não para, os cartuchos estão feitos e teremos de mostrar o que fomos fazendo, pintar… é só isso mesmo que falta.  

Depois de tudo pronto tentarei encaixar com um ou dois objetivos, e além dos objetivos tentarei encaixar com uma ou duas áreas de conteúdo, com os diferentes ritmos e assim, terei a semana controlada e isso, para mim, é a segurança de que preciso.

Estas atividades serão uma bela forma de mostrar a minha prática, a prática que tende a mostrar o trabalho que se faz na sala.

Castanhas, assadores, Lenda de S. Martinho, e isto ocupa facilmente a semana inteira.

Se me dizem que os devo escutar, assim farei, podem escolher os moldes preparados, podem pintar as castanhas que desenhei, ou até poderão rasgar o papel crepe e fazer pequenas bolinhas para preencher o interior das castanhas. Ficará bem na sala, assim, entenderão esta festividade e de hoje em diante, será parte da sua cultura.  

Quantas salas estarão a fazer o mesmo, ou quantas salas terão copiado o mesmo molde?

Não sabe bem entender que estamos a trabalhar em parceria?

Esta profissão de ser educador torna-se fabulosa, quando nos respondem a perguntas que deveríamos ter conhecimento; quando nos sugerem atividades que deveríamos ter a capacidade de perguntar às crianças; quando solicitamos modelos de avaliação e tudo o que advém; quando solicitamos projetos, que nem sequer são transversais aos grupos, porque cada projeto deveria ser único para cada grupo!

Esta profissão faz-me sentir realizado, porque basta fazer uma pequena pergunta e tenho as respostas todas de que preciso, e mesmo a boa vontade de quem as responde, me ajuda a conhecer e a planificar melhor para o grupo que tenho, mesmo que quem responda não as conheça!

Não é fantástica esta profissão, quando se resume a questões colocadas nas redes sociais e obtemos respostas fantásticas e que mostram tudo menos o que é ser educador?

Será que se esqueceram de escutar as crianças? Escutar de verdade?

Será que se esqueceram de planificar? Planificar de verdade, em que se promovem momentos que vão ao encontro das necessidades das crianças e não dos adultos que estão em sala?

Será que quando chegarmos ao final do período também iremos pedir avaliações para descrever as crianças dos grupos que temos e as competências adquiridas?

Será que as redes sociais fazem qualquer um conhecer o grupo que temos, de tal forma, que nos darão palpites de avaliação mesmo sem os observarem no seu dia-a-dia?

Hoje sinto-me tão cansado, mas como pedi ajuda, já tenho a planificação semanal concluída, os moldes feitos para as atividades e, mesmo sem a semana ter iniciado, a avaliação já está feita!

A propósito, estamos na semana de S. Martinho, alguém tem ideias do que possa fazer com as crianças do grupo que tenho, aquelas que não conhecem?

#umacaixacheiadenada

Rui Inácio




Comentários

  1. Olá Rui! Como sempre, um texto fantástico, cheio de verdades. Subscrevo cada palavra!
    Obrigada

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  2. Completamente de acordo!
    Confesso que não percebi logo, logo... mas depois, fui percebendo que as suas palavras iam exatamente ao encontro do que sinto ser o meu trabalho de educadora! Parabéns e votos de bom trabalho!

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    1. :D São meras provocações... ironias que tendem a tocar nos pontos certos (espero eu!) Obrigado pelo seu comentário!

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  3. Concordo em pleno com o que escreveu... este texto remete-me para o trauma que foi o meu estágio como educadora... só que no caso,até as cores eram escolhidas pela educadora e tudo tinha uma cor "certa". Senti-me tão frustrada por não conseguir trabalhar como deveria com as crianças que o resultado depois do ambiente e da pressão para fazer as coisas à maneira instalada foi uma grande depressão! Anseio pelo dia de ter um grupo inteirinho só para mim😊.

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    1. São formas de estar, mas mesmo passando por elas importante é podermos pensar na sua pertinência e, enquanto profissionais, o que ganhamos com elas! :) obrigado pelo seu comentário!

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  4. Ao ler o teu texto estava a sentir uma espécie de "raiva" a crescer no meu íntimo porque parece-me inacreditável termos de continuar a falar sobre estas coisas para abanar consciências. Isto já não devia ser assunto há muito tempo. Porque é que é assunto? E porque é que tenho a sensação que ainda vai ser durante tanto tempo? Porque é que parece que vivemos os dias das nossas salas de jardim de infância sempre à espera da próxima comemoração? E mesmo que estejamos a viver um projeto do interesse e iniciativa das crianças e até nem concordemos com nada disto acabamos muitas vezes por ceder para evitar aborrecimentos e discussões com colegas, pais, coordenadores e afins. Que raiva!!! Desculpem o desabafo!

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    1. Ando sempre a dizer isso....andamos a remar contra a maré.....e acabamos desanimados e a ir ao pinterest e a copiar ideias....ouvir as crianças dá muito trabalho.....

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    2. Porque continua a acontecer? Porque infelizmente ainda continuamos a seguir pelo caminho mais fácil, afastado das crianças e dos seus interesses, pomos de lado a escuta ativa, a vez e a voz das crianças. Que mude, depressa! :)

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  5. Tão isto ������

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  6. Estou muito triste porque a mim ninguém me deu ideias para o meu grupo de crianças que não conhecem. A culpa também foi minha... porque não as pedi. E assim não pude ter a semana toda ocupada à volta das castanhas e do S. Martinho. Lá tivemos que ir todos os dias para fora brincar na terra e na lama, andar à procura de cogumelos (que por acaso também eram castanhos), pendurar-nos nas árvores, correr e saltar. Bem, pelo menos ainda conseguimos fazer o magusto porque houve algumas crianças que se lembraram de perguntar se não fazíamos uma fogueira para assar castanhas. Vá lá. Mas nem se lembraram de desenhar castanhas e nem lhes passou pela cabeça pedir-me uma fotocópia de uma castanha com olhinhos e boca sorridente para pintarem. Aqui para nós, ainda bem, porque como ninguém me deu ideias, eu também não tinha nenhuma castanha para fotocopiar. Na verdade até tinha. Mas eram castanhas verdadeiras e ouriços que apanhamos na semana passada quando fomos para a floresta. Mas estas não são tão bonitinhas para enfeitar as paredes da sala. Por isso, lá se passou um S. Martinho que se resumiu ao próprio dia e sem registos desenhados ou fotocopiados na parede que comprovassem que o "trabalhamos".

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Bem pior do que procurar ideias e tentar ajustá-las ao grupo, é usar manuais e fotocópias sem dose nem medida. Uma coisa que eu vou vendo, somos um grupo muito criativo que do "nada" faz maravilhas, no entanto espanta-me ouvir dizer que fazem tudo e começo a duvidar, até que ponto.

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