Esses anjos, vestidos de gente


Se algum dia alguém vos dissesse, “são anjos vestidos de gente”, saberíamos a quem se referiam?

Certamente que não relacionaríamos logo a quem, ou a quê, e ficaríamos intrigados a quem fariam tal comparação.

De facto, quem o diz, di-lo com o coração, lê cada alma, cada vida, cada vivência e experiência. Lê e faz a leitura pelo crescimento dos que estão à sua volta e, de lágrimas no rosto, entrega mesmo sem saber que rumo tomarão esses ditos anjos. A esses anjos que se esforçam para acompanhar cada tarefa, cada passo, cada abraço, cada sentimento, cada um, são anjos, dizem, porque esses anjos, não vestem asas, não voam, mas fazem voar, fazem sentir, fazem crescer e crescem com eles. Esses anjos são, esses anjos sentem, esses anjos vivem, esses anjos constroem, esses anjos… quem serão?

O agradecimento ganha corpo, voz, olhar, sentir, ganha o encanto que ninguém consegue pintar, torna-se uma tela de cores, com tintas tão raras, puras e sentidas, tintas que não se vendem em lugar algum, vendem-se apenas num único local, no coração de quem o diz.

De facto, os agradecimentos ganham uma força enorme, porque o coração de cada um é repleto de sentires, de vivências que marcaram e marcam a vida de cada e isso, mais do que ensinar, é vivido, é experimentado, é apropriado, é construído num caminho de altos e baixos, de valorizações e de desvalorizações, é o caminho a que todos recorrem, mas o caminho que nem todos reconhecem, o caminho da sabedoria e do conhecimento, da entrega.

Mas estes anjos não voam, mas fazem voar.

Estes anjos dão-se pela eternidade, dão-se a cada palavra, dão-se a cada gesto, dão-se a cada abraço, a cada beijo, a cada afeto. Dão-se na eternidade, nas experiências que proporcionam, que ousaram e que os fizeram ganhar asas pelo sonho, pelo querer, pelo aprender, pela viajar na viagem, a que todos chamam vida, a que todos chamam crescer.

São vestidos de gentes, e ainda assim, afirma, são anjos que nos deram coragem para olhar, são anjos que ensinaram a sorrir, ensinaram a olhar para o mundo que os rodeia de um modo encantado e cheio de oportunidades.

São anjos, são vestidos de gente, seres que mais do que exercer uma profissão, estão empenhados no futuro, no futuro de cada um, no futuro de todos, no futuro da sociedade, no futuro do mundo de respeito, de conhecimento, de afeto, de solidariedade, de ajuda ao outro.

São anjos vestidos de gente, que foram, são e serão aqueles que retiram as suas asas e as entregam a quem passa com eles dias inteiros, a quem os confiaram, a quem permitiram que juntos construíssem um caminho, que vive e revive a memória, a cultura, mas mais do que isso, respeita a individualidade.

Esses anjos, vestidos de gente dão asas, permitem que eles voem, que sonhem, que criem e sejam verdadeiros aprendizes, audazes pelo seu sentir, pela sua capacidade de acreditar, de imaginar e de viver.

São anjos, vestidos de gente, que os fazem acreditar, que os faz ser.

Estes anjos, vestidos de gente, tornam-se memórias vivas, respeitadas e, em cada pedaço que se dão, é um pedaço que se torna semente, é uma semente que se torna fruto, é um fruto que se torna afeto, é um afeto que se torna criação, com a capacidade de imaginar, de respeitar e transmitir todos estes sentimentos pelos que estão à sua volta. É uma semente no meio de sementes.

Não existem anjos de asas, porque para serem anjos, vestidos de gente, basta acreditar no interior de cada um, basta respeitar, basta reconhecer a capacidade de escutar, de dar voz, e quem o diz, de coração cheio, de uma forma reconhecida, sentida e valorizada, fá-lo com um agradecimento interminável, pois foi alguém a quem entregou e confiou os filhos, na ânsia de que esses anjos os ajudassem a crescer, a viver, a serem respeitados, a serem amados, na sua diferença, na sua individualidade. Porque todos somos diferentes. Todos temos a nossa especificidade, todos temos o nosso valor e esses anjos, esses anjos vestidos de gente, valorizam o esforço de cada um, sentem as derrotas, sentem os erros e constroem oportunidades nos problemas, não os tornam como buracos negros da sociedade, ou deste céu por onde todos andamos.

Estes anjos, vestidos de gente, caminham lado a lado, com todos os que lhes são confiados, e sentem-se parte integrante de um corpo, em que, num caminho comum, constroem-se à luz de um acreditar que o futuro é possível de melhorar, que o conhecimento é a melhorar arma, que as armas, se desarmam e se tornam canais e elementos que vivem, simplesmente, o sentimento, porque esses anjos, mais do que serem transmissores de conhecimentos, são gentes vestidas de ousadia, predispostos a provocar o interesse, a motivação, o sonho, a imaginação e a criatividade.

Esses anjos, vestidos de gente, não são pessoas que surgem nas capas de revista, nas novelas da noite, ou nos reality shows, porque não procuram a fama, porque não procuram ser capas de jornais, procuram, simplesmente, fazer com que os outros sonhem, se construam, e tenham o maior sucesso na sua vida, porque esses, levarão consigo todo o reconhecimento, todo o conhecimento, todas as aprendizagens construídas, e assim, tornarão os anjos verdadeiras memórias, eternas.

Esses anjos, vestidos de gente, são aqueles a quem os pais agradecem de forma constante, são aqueles a quem os pais agridem de forma permanente, são aqueles a quem os pais pedem perdão por todos os erros que cometeram ao educar os próprios filhos. Esses anjos são aqueles que se disponibilizam a ajudar uma casa que não é a sua. São aqueles que sentem a dor, os problemas e as dificuldades que não são suas. Esses anjos vestidos de gente, são os que arregaçam as mangas e lutam pelo futuro dos filhos dos outros, para que um dia, se tornem verdadeiros homens e mulheres, com sentimentos, com emoções, com razões, com valores que valorizam o ser humano, que valorizam o respeito, que valorizam o conhecimento, que valorizam o sonho, que orgulham as famílias.

Esses anjos, vestidos de gente, são aqueles que disseram, vamos a isso, mesmo quando tantas portas se fecharam, mesmo quando tantos deixaram de acreditar, mesmo quando o fosso entre o futuro e a realidade se tornava algo impossível de ultrapassar. 

Esses anjos, deram as ferramentas, e será que reconhecemos isso?

Esses anjos, vestidos de gente, deram-se mais do que aquilo a que estariam obrigados, e nós soubemos dar-lhes o valor merecido?

Esses anjos, vestidos de gente, não pararam no tempo de confinamento, deram e deram-se, tudo em prol dos filhos, dos alunos dos futuros adultos.

Esses anjos, vestidos de gente, continuaram empenhados em fazer e construir o futuro, e nós o que dissemos? 

Esses anjos, vestidos de gente, não desistiram, reconheceram que não seria um problema, mas uma oportunidade, de mudança, de mudança de paradigma.

Esses anjos, vestidos de gente, são os professores, os educadores de hoje, de ontem e de amanhã.
Esses anjos, vestidos de gente, são os homenageados, hoje e sempre, porque não baixaram os braços e não deixaram de permitir que os seus alunos voassem.

Esses anjos, vestidos de gente, ajudaram-nos a crescer, e por isso, estas palavras, soam-nos como reconhecimento, porque eu também já fui aluno, e se sou o que sou, foi porque os anjos, vestidos de gente, me incentivaram a ver o problema como uma excelente oportunidade… de ser… de construir… de sonhar.

 

#umacaixacheiadenada

Rui Inácio

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