O Natal chegou! Mudam-se as prioridades: prendas em série!

O Natal está ao virar da esquina.

A azáfama do Natal faz as creches, jardins de infância e as escolas andar à velocidade da luz. Há tanto a fazer.

Os 25 presentes começam a ganhar forma, parecidos, ou não, com os projetos encontrados nos sites prontos a consumir, ou não. Construídos com todo o empenho pelo educador e auxiliar, as crianças apoiam naquilo que conseguem. São presentes feitos "pelas crianças e para as crianças". No entanto, "Todos devem levar prendas iguais, para que não hajam reclamações"

A fábrica do Pai Natal muda-se para cada sala. Os duendes esforçam se por manter o ritmo e, dedo aqui, dedo acolá, vão enfeitando, ou decorando, aquilo a que chamam de presente, aquilo a que chamam trabalho realizado pelas crianças.

A produção, em cadeia, de prendas prevê a satisfação de todos, ansiosas, as crianças, receberão uma prenda que "elas próprias" construíram.

É tempo de natal e as atividades centram-se na expressão plástica. Há tinta por todo o lado, cola quente, ou líquida. Há um conjunto de material que parece não terminar. Este material espalha-se por todas as mesas, torna-se um verdadeiro atelier natalício, onde se dá asas à imaginação dos adultos. Torna-se até difícil utilizar as mesas para aquilo que os mais pequenos melhor sabem fazer: brincar.

Assim, num verdadeiro atelier, a imaginação e criatividade ganham forma.... Quanta criatividade, quanta imaginação, quantas oportunidades estamos a criar... ou será mesmo, eliminar?

Há, os que ousam escutar, os que ousam ouvir cada criança, cada desejo, cada imaginação, os que permitem que cada criança construa o seu presente e deixe a sua imaginação e criatividade ganhar forma e cor. Mas, acima de tudo, mais do que ganhar forma, ganhar sentido.

Perante cenários de ousadia, há os cenários de uniformidade, em que, moldados pelo medo de ousar, fomentados pela crença de que "As crianças, aqui, não têm imaginação!", mantêm a sua postura de construção de presente em série.

As crianças não têm imaginação (??) , e nós, adultos, temos?

As crianças não têm criatividade (??). É nós, adultos, temos?

Cortamos, drasticamente, qualquer semente que possa crescer, qualquer momento de imaginação, de criatividade. Aniquilamos comportamentos ousados, porque nós, simplesmente, não os sabemos aproveitar.

Como desafio, ainda maior, mantemos o rebanho ordeiro dentro da cerca, mantemos aprisionada a aventura, o desejo de saber mais, a ousadia, a criatividade e a imaginação. Criamos uma sociedade presa a crenças, criamos a incapacidade de pensar, refletir e de criticar de forma argumentada. Criamos futuros cidadãos inúteis e sem opinião, tornamo-los todos iguais, sem darmos sequer oportunidade de mostrarem a sua identidade, a sua personalidade, sem darmos a possibilidade de sonhar.

O presente está feito e embrulhado.
Levam-no para casa, orgulhosos, por todo o esforço que empenharam nele.

"Mãe, este é o presente de Natal.
Oh filho, a caixa está tão bonita. Gostei muito do presente.
Mãe, está giro, mas não fui eu que o fiz, foi a professora, eu só ajudei a colar."

E assim, se abre a caixa de Pandora ... Aliás, se fecha a caixa de Pandora de cada criança, guardando a 7 chaves a imaginação e a criatividade. Um bem precioso guardado para não se estragar.

Será que já pensamos que os alunos que temos, têm a capacidade de explicar o que fizeram, relatar o trabalho e a sua participação nos trabalhos desenvolvidos?

Será que já pensamos que transmitimos, de forma indireta, a prática que desenvolvemos através das descrições que os nossos alunos fazem em contexto escolar?

Se queremos a valorização profissional, a valorização da educação nestas faixas etárias, deveremos assumir uma atitude de respeito para com os mais pequenos, de modo a que, se sintam, e se sejam realmente ouvidos.




#umacaixacheiadenada


Rui

Comentários

  1. Pode ser a norma, mas já existem tantas exceções...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigado pelo sue comentário! É uma verdade, felizmente, já existem muitas exceções, mas infelizmente, ainda se tornam muitas salas em verdadeiros ateliers! É apenas mais uma provocação para a reflexão! ;)

      Eliminar
  2. Excelente... as always.
    Ainda que existam exceções, é urgente que se reflita na prática diária... este é apenas um exemplo do que se passa nos diferentes contextos ao longo de todo o ano letivo.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigado Margarida! É mesmo isso, apesar de já se começar a ter esta consciência, não deixa de acontecer, é apenas um exemplo, e como dizes, do que se torna a vida do jardim de infância durante todo o ano. É uma mudança urgente e real! Beijinhos

      Eliminar
  3. É importante estimular a criatividade e não anular... Hoje que os miudos têm tudo tão fácil, tantas ideias, e cada vez menos usam menos a imaginação.
    Tenho um filho, prestes a fazer 4 anos, não gosta de pegar no lápis. Mas adora brincar ao faz de conta, contar histórias, adora brincar com os bonecos e fazer teatro de marionetas. Neste momento acho mais importante esses pormenores, ser uma criança feliz e sabe expressar se. Não me importo que não traga um desenho super bem pintado dentro do limite, prefiro uns gatinhos, e um abraço cheio de alegria.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Assistentes operacionais, mais do que um termo, uma profissão.

Grupos de WhatsApp de pais, um obstáculo ou uma potencialidade?

"as minhas paredes estão cheias de nada (...) isso é sinal de que não trabalho"