Amor para! Deixa-me tirar uma foto, para enviar para o papá
Quem não gosta de tirar uma fotografia?
Quem não gosta de apreciar um momento e torna-lo eterno?
A época dos telemóveis com câmara fotográfica veio
revolucionar o mundo da fotografia e, como bons educadores que somos, defendemos
as novas tecnologias na educação de infância, como bons pais que somos, defendemos
as novas tecnologias no dia-a-dia das crianças. Utilizamos o telemóvel, de
forma constante, para qualquer registo, ficam eternos.
As razões são as mais variadas: ora para registar evidências
de um projeto que foi feito para facilitar a avaliação das crianças e a
avaliação docente, ora para registar os momentos em família que se pretende que
fiquem registados em algum sítio, além da memória.
O que é certo, é que se utilizam milhares de argumentos a
favor da não utilização das novas tecnologias na infância. Mas, o exemplo que
damos não é esse. Ora, torne-se consciente: utilizamos o telemóvel para falar,
fotografar, pesquisar na internet, aceder a redes sociais, aceder a
sites/aplicações com ideias fabulosas prontas aplicar, vídeos de "como
fazer", aliás, recorremos à internet, até para procurar soluções para as
dificuldades que as crianças enfrentam.
Mas, isso somos nós, que somos adultos. A nós, não nos faz
mal passar horas a fio em frente ao telemóvel a fotografar, a falar, a
pesquisar, a ocupar o tempo…
Ao nosso lado temos alguém que nos observa de forma
constante e, como recorrente, aprende e reproduz as nossas atitudes, as nossas
ações. Esperam, ansiosamente, que brinquemos, ou que tenhamos alguma interação
com eles próprios, mas o nosso interesse está focado no telemóvel. Sublinho, o
nosso exemplo.
As novas tecnologias assumem, na vida destas crianças, um
importante marco de acesso à informação. No entanto, em diversos cenários: restaurante, transportes públicos, etc, qualquer um que envolva espera, o
telemóvel surge como um potencial entertainer,
mantém-se ocupadas, em silêncio, sem birras, sem incomodar, mantém-se no seu
mundo tecnológico com um fim à vista, silenciador de birras, imobilizador de
movimento.
São nativos digitais e, desde o seu nascimento, ou até mesmo
no período de gestação, foram contactando com a tecnologia, e sabendo e
reconhecendo a fluência que têm perante estas, tendemos a isola-las e não a
aproveitar esse interesse, inato, na continuidade da progressão.
Pais, educadores, professores,... Recorrem a internet como
forma de procura de histórias, canções, jogos, etc, mas elas não o podem fazer.
Acabamos por dar um uso diário que visa complementar no nosso dia-a-dia,
facilitar a nossa comodidade e o nosso estar em sociedade.
Com as redes sociais, já não necessitamos de manter contactos
e diálogos reais, presenciais, dizemos o que temos a dizem de fora anónima, de
forma direta, sem pensar na interpretação do que se escreve e para que se
escreve. Nós, sim, fazemos um uso absurdo das novas tecnologias, levando a que
nos isolemos das reais potencialidades.
Constantemente, promovemos espaços de partilha e de
desenvolvimento pleno em prol das crianças, no entanto, tendemos a argumentar
de forma negativa a utilização das novas tecnologias na infância?
Posto isto, será que reconhecemos, mesmo, as suas potencialidades?
É uma verdade que a rua tem sido cada vez menos usada como
forma de promoção de aprendizagem, como espaço de lazer, mas, as novas
tecnologias não substituem o espaço exterior, e aí está o problema. Tendemos a
substituir e não a complementar. Tirar proveito de cada espaço, de cada
ferramenta tecnológica, ou não, será o grande desafio.
Reconhecer as potencialidades das novas tecnologias traz
avanços fabulosos na vida diária das crianças, enquanto educadores (pais,
educadores, auxiliares, professores,... ) devemos ajudar a utilizar estes meios
com moderação, mostrar a potencialidade, a
complementaridade, destas ferramentas na
vida destes pequenos. Sublinhe-se, complementaridade.
Os adultos fazem os seus relatórios no computador, e bem
sabemos quanto facilita o nosso trabalho, em termos de organização, de
apresentação, de uniformidade de documentos, de existir a possibilidade de
escrever e apagar sem deixar marcas... Complementam. No entanto, tem o seu lado
“negro”, os famosos copy paste! (Mas isso é outra história!) No entanto, não reconhecemos, em nós, aspetos
negativos. O interesse é valorizar, complementar, potenciando o conhecimento e
o acesso à informação.
Relativamente às fotos, quantas vezes, preocupados por
registar tudo o que vemos, nomeadamente atividades de crianças, pedimos que
façam o jogo da estátua e, exigimos que parem de fazer o que estão a fazer só
para registar o momento. Preocupados com este registo fotográfico,
interrompemos o empenho, a motivação, tudo em prol de mais um registo para a
parede, preocupados em fotografar mais uma atividade (interrompida) feita pela
criança para agrado dos pais, preocupados por preencher mais um canto da parede
que parece vazia! Mas, o que estavam a fazer deixou de ser feito, pararam a
olhar para a foto e foram forçados a fazer o sorriso 32. Assim, fica registado
um belo momento: o momento em que as interrompemos e as fotografamos a fingir
que faziam a atividade.
Lá se foi o momento de atividade pura, de envolvimento,
motivação e empenho. Mas, a foto ficou a captar o jogo da estátua na perfeição!
No parque a avó acompanha o neto na brincadeira. Feliz, o
neto, joga à bola e corre de um lado para o outro. A avó acompanha-o a uns
metros de distância. A criança está tão empenhada que parece um verdadeiro #CristianoRonaldo.
O sorriso revela o quão satisfatório está a ser. Chuta com a direita, corre,
imagina-se num jogo de futebol real. Quando está prestes a marcar golo, alguém
da bancada (a avó) grita, "Amor para! Deixa-me tirar uma foto, para enviar para
o papá". O neto parou, agarrou a bola e, com o melhor sorriso 32, pousa
para a foto. O jogo terminou e voltou ao parque... O jogo do brincar motivado,
terminou, sem golos.
Foto enviada, foto publicada nas redes sociais, foto falsa
de uma atividade pura daquele neto.
Mais uma vez refere-se, valorizamos e damos o exemplo de uso
das novas tecnologias, na cozinha, com os robots de cozinha e tantos outros
eletrodomésticos, na sala, com a TV, computador, sistemas de som,… No quarto
com a TV, com o despertador, com o rádio, com o telemóvel, mas, aos futuros
cidadãos privamos todos os momentos em que se aproximam daquilo que irão
utilizar no seu futuro.
Conseguiremos, ao invés de os privar, torna-los conscientes
da sua utilização moderada e do proveito que poderão tirar delas? Reconhecer
neles potencialidades e não, como se faz de forma constante, utiliza los apenas
como propaganda negativa dos mesmos, torna-se urgente.
Que se eduquem os nativos digitais conscientes, e isso
depende de nós.
#umacaixacheiadenada
Rui
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