Amanhã vou-te levar à escola e deixo-te lá! Não te vou buscar!

Dia após dia, somos desafiados por comportamentos mais ousados e desafiantes dos mais pequenos. 

Diariamente, observamos comportamentos de chantagem dos mais novos para com os adultos. 

Diariamente, vemos o cansaço tomar conta dos adultos e, a agir de acordo com o cansaço e, não de acordo com a educação que gostariam de dar aos seus filhos, ou o apoio às suas turmas. 

Diariamente, vemos recompensas por pequenos momentos, grande maioria delas, recompensas  materiais ou ausência delas. São dadas no intuito de valorizar comportamentos, ou por punições físicas/psicológicas, que em nada ajudam à compreensão do comportamento, por parte das crianças, dito errado. 

O uso da força leva a que a situação possa ficar resolvida por poucos minutos, mas no fundo, estamos a mostrar a forma de ação para situações futuras, em que a raiva que sentem, se vai acumulando e, em momentos de conflito, surge em forma de violência ou de um modo mais brusco e bruto. Ajudar os mais pequenos e ensiná-los a olhar para o que acabaram de fazer, torna-se um desafio.

Crianças nervosas, adultos nervosos, a voz eleva-se de forma frequente, o cenário de tantas famílias, a descrição de tantas salas. Todo este nervosismo, todos estes decibéis desnecessários com o intuito de se tentar minimizar situações futuras, como se esta fosse a grande solução e ajudasse a resolver o problema. 

Gritamos, diariamente, para que não façam barulho e que não gritem uns com os outros. Mas, ao fazer esse aviso, fazemo-lo a gritar, o exemplo que damos é esse, elevamos a voz pelo barulho que ouvimos, ralhamos porque saem além dos limites que definimos, ralhamos porque nos sentimos cansados, ora pelo nosso papel de pais, que de forma constante é desafiado, ora pela carreira que vamos tendo e nos levou ao estado de cansaço, pelas burocracias, lutas,... Mas, esse cansaço é perceptível! O das crianças não, e assim, insistimos, de forma bem audível que gostaríamos que fizessem o que dizemos e não o que fazemos. 

Ao final do dia, cansados de um dia de trabalho, os pais levam os seus filhos da escola e, por comportamentos que não são vistos de forma socialmente aceites, ralham com os pequenos, esquecendo-se de que a maioria deles apenas está a chamar a atenção para o afeto, carinho para a relação pais-filhos. Afinal, durante o dia estiveram afastados e, os mais pequenos, lidam com a saudade de um modo bem diferente. A necessidade de contacto, de afetividade é como uma pilha, uma bateria, que vai sendo carregada quando estão com os progenitores, quando estão juntos. Desta forma, aguentam todo o dia com a bateria cheia até chegarem novamente a casa, e assim, possam usufruir de cada momento, até que a bateria esteja completa novamente. Estão prontos para mais um dia! Aprendem a lidar com este sentimento a que chamamos saudade. Aprendem a valorizar cada momento que passam com os adultos, sejam eles os pais, sejam eles os professores. Aprendem o sentido da palavra relação, afeto, amizade, amor. 

Mas eles não param, continuam de um lado para o outro, desarrumam, gritam, riem, cansam-se e cansam quem os observa... são crianças. Mas, de acordo com o cansaço do dia, dos pequenos descuidos na roupa, dos pequenos "acidentes" nas idas à casa de banho, é-lhes dito, de forma bruta e sem qualquer sentido de perceção relativo ao que provocou o dito acidente: "Tens as calças molhadas, já não usas hoje o telemóvel e, escusas de pedir ao pai, porque ele não to vai dar". Como se não bastasse, ainda terminamos,  "Amanhã vou-te pôr à escola e deixo-te lá! Não te vou buscar". 

E assim, julgamos... repreendemos... desrespeitamos. 

Que valores queremos transmitir aos mais novos? Que exemplo queremos dar aos futuros pais e mães? Para que serve, afinal, a educação? 

Refira-se a educação, familiar, escolar. 

É certo que é depositada muita responsabilidade na escola de hoje, nos educadores, nos professores, nas auxiliares, mas existe a velha máxima: "a educação começa em casa". 

Os alertas vindos da escola, não são mais do que chamadas de atenção para a importância da relação, do fortalecimento da família, para o respeito. 

Felizmente, tantos são os exemplos que se vêem para boas relações entre pais e filhos, entre professores e alunos, em que se valoriza, de facto, a diversidade, a valorização individual, o respeito. 

Respeitar as crianças. é mostrar-lhes o comportamento a ter enquanto adultos. E mostrar não é sinónimo de impor. Sermos conscientes de que somos um exemplo é  mostrarmos aos mais pequenos a forma de agir, de um modo tranquilo, respeitoso e que valoriza cada um. 

Vemos pais que insistem numa alimentação saudável, mas que em frente às crianças devoram qualquer alimento, independentemente da sua opção para com os filhos. Mas como se dizia, "faz o que eu digo e não o que faço". Em situação escolar acerca da importância da alimentação, por exemplo, a referência e a justificação, dos mais pequenos,  para não se comer fruta é uma apenas, os meus pais também não comem

O exemplo que damos é aquele do qual se irão apropriar. 

Que exigência poderemos fazer, perante aqueles que estão a nosso cargo, se o nosso exemplo e forma de agir são totalmente contrários?

Que exigência poderemos fazer, perante aqueles que estão a nosso cargo, se o exemplo dos seus pais é totalmente contrário?

Unamos esforços. 

Tornemo-nos conscientes, exemplos sinceros, verdadeiros. 


#umacaixacheiadenada


Rui 

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