A Educação de Infância vale a pena! Seremos meros aprendizes de quem brinca!

É uma verdade: a Educação de Infância faz falta. 

É uma verdade: a Educação de Infância, ainda, é desvalorizada. 

É uma verdade: na Educação de Infância, deixamo-los crescer. 


Deixamos? Deixamos, mesmo!


Reconhecer os educadores, os auxiliares que apoiam, diretamente, cada criança é um desafio! Mas, mais do que um desafio, é uma necessidade.


De manhã, quando entramos na sala, não temos lábios para, carinhosamente, cumprimentar cada um, cada um à sua medida, à sua maneira. E nós sabemos, exatamente, de que forma gostam/querem ser cumprimentados. É certo que faz parte da nossa profissão, (estabelecermos uma relação de afetividade), mas é uma grande verdade que criamos relações com eles, de tal forma imponentes que, até mesmo à noite, quando dormem, chamam por nós e não pelos pais. E nós, por eles, passamos tantas noites em claro.

Passamos, tantas, horas com eles, que percebemos que à mínima mudança de comportamento, algo não está bem. Chama-se relação de amizade, afeto. Se as nossas preocupações diárias recaem sobre eles, é sinal de uma entrega à profissão, mas mais do que à profissão, entregamo-nos às crianças e fazemos tudo para que sejam felizes mais um dia. 

Tornamo-nos exemplos no relacionamento com os outros, nas brincadeiras que criamos, que ensinamos e que tantas vezes aprendemos. Se tivermos essa sensibilidade, aprendemos a olhar para tudo o que nos rodeia de uma modo simples e rico de tudo. Ensinam-nos. 

Se observarmos cada criança, temos a necessidade de ter mil olhos, de modo a que, consigamos apreender informações importantes acerca de 25 crianças, acerca do seu crescimento, do seu desenvolvimento, das suas tentativas, das suas frustrações e das suas aprendizagens. Fazemos um registo mental de cada um e, ao longo do ano, vamos completando com toda a informação possível, para que possamos olhar para cada um deles, e os possamos ver a crescer, de um modo holístico, promovendo a transversalidade, o crescimento global.

As nossas rotinas são verdadeiras aventuras, logo pela manhã, não há braços que os consigam abraçar ao mesmo tempo, mas tem de existir um momento em que nos damos a cada um e, mais do que nos darmos, tem de existir um momento em que vamos receber de cada um. 

Alguém dizia, quem passa por nós leva um pouco de nós, assim como nós levamos um pouco de cada um deles. Vive-se num espírito de reciprocidade, em que educadores e auxiliares se entregam às crianças e vivem esta relação de amizade... de afeto, de emoções, de companheirismo. Ousemos dizer, de amor.

A nossa preocupação torna-se maior, quando verificamos que estão doentes, que estão preocupados, que estão ausentes... Procuram, diariamente, o nosso colo, o nosso abraço, as nossas palavras de conforto e de confiança. Procuram em nós os ouvidos atentos para desabafar inquietudes, dificuldades, para receber coragem, conforto e afeto.

Queremos o bem de cada um e fazemos questão que todos estejam presentes, diariamente, de modo a que, todos eles possam aproveitar cada brincadeira, cada aventura e cada experiência, assim, conseguirão crescer e continuar a vida que iniciaram há poucos anos. 

A bagagem que trazem reporta as vivências, as experiências, os sentimentos, as emoções, as aprendizagens que irão transmitir, partilhar, complementar, fundamentar. E quando chegarem ao fim deste ciclo, deste momento, a que chamamos educação de infância,  a que chamamos pré-escolar, refletimos e fazemos refletir quem duvida: conseguem imaginar quão rico foi este momento? Conseguem imaginar o que cresceram ao longo destes tempos? São tempos de cidadania, de respeito, de valorização, de brincadeira. São tempos de ser criança!

Já dizia o Robert Fulghum, “Tudo o que sei hoje aprendi no jardim-de-infância!”
Que verdade tão pura, que verdade tão sincera, mas que não é facilmente entendida. 
Mas, sabemos quão verdadeira é esta afirmação.

Não julguem pelo que não se vê feito e que seria de esperar que se fizesse! Valorizem os comportamentos, as aprendizagens impossíveis de registar, as conversas que temos diariamente, e que, por impossibilidade, não se conseguem tornar visíveis. Mas estão lá, dentro de cada criança, de cada adulto. Elas estão lá, cheias de tudo, cheias de aprendizagens, cheias de relação, cheias de partilha. 

Mas este apoio precoce não fica por aqui, é um apoio dado pelos adultos a cada dificuldade que as crianças vão apresentando e, quando surgem pedidos de ajuda, somos os primeiros que tentam, a todo o custo, ajudar a ultrapassar cada obstáculo. Fazemo-lo com um objetivo, permitir o bem-estar de cada um, permitir que o crescimento tenha tantas oportunidades, como aquelas que eles sonharam. Tornamo-nos co-construtores de casas em fase de crescimento, movidas pelo interesse e pelo sonho, pela curiosidade e pela sua razão. 

Tornamo-nos responsáveis por mostrar que esta fase só será positiva se ambos se envolverem, se ambos tiverem capacidade de se cativar, se ambos desejarem uma só coisa: permitir que se brinque. Permitir que sejam crianças.

Somos e tornamo-nos verdadeiros treinadores de sonhos, que os levam a viajar, diariamente, no seu balão, onde tudo é possível, onde o sonho se torna algo possível de alcançar.

A Educação de Infância vale a pena.

Quanta sorte teremos de poder passar a vida a brincar?
Quanta sorte teremos de sermos aprendizes de quem brinca, de forma tão empenhada e sentida?

Quanta sorte temos de permitir que eles brinquem?
Quanta sorte teremos de ver quanto cresceram? 

Quanta sorte temos em formar uma equipa, em que crianças e adultos caminham lado a lado com um fim definido: dar voz às crianças?

Quanta sorte tivemos em abraçar esta profissão, valeu a pena?

Vale a pena,… diariamente.

#umacaixacheiadenada

Rui Inácio 


Se gostou de ler, poderá gostar: Ainda não entenderam a minha profissão!

Foto cedida pelo projeto Ninho das Corujinhas 

Comentários

  1. Respostas
    1. Parabéns pela belíssima reflexão que faz sobre a nossa profissão, quando é vivida com paixão! Como foi o meu caso durante 35 anos!

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    2. Muito obrigado pelo teu carinho Margarida! Beijinhos

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  2. O meu nome é Ana Manita, parece Marta Feliciano que é minha filha.

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    1. Muito obrigado por seu comentário. O objetivo destes textos é esse mesmo, provocar, incomodar, mas acima de tudo e, não apontando dedos a ninguém, fazer refletir! Muito obrigado!

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  3. Adorei, "quanta sorte teremos de passar a vida a brincar'. Continuemos a brincar, sempre a brincar com eles e elas!

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