Serei um educador de primeira, de segunda ou de terceira?

Somos todos educadores, somos todos agentes envolvidos com a educação, e que, promovem a educação, que promovem uma boa educação, ou seja, uma educação de qualidade.

No entanto, de forma um pouco ingrata, continua a existir uma discrepância enorme entre os educadores que estão no privado, os que estão nas IPSS e ainda, os que estão no ensino público.

Em reuniões conjuntas, onde se prevê uma boa relação entre todos, onde se prevê a transmissão de conhecimentos, onde se prevê a partilha de saberes e de situações, onde se prevê a partilha de práticas, os olhares, as atitudes nem sempre são sinceras... Somos discriminados com a nossa classe. De facto, e porque assim é a nossa sociedade, existe mesmo um afastamento, atrevo-me a dizer mais, uma desvalorização nos diferentes contextos.

Quezílias à parte, desvalorizações aparte, somos todos profissionais de educação, educadores e, independentemente do local onde se trabalhe, valoriza-se o mesmo, as crianças.

Se esta discrepância mental continua a acontecer há a necessidade de um afastamento deste comportamento enraizado na sociedade, enraizado na classe docente.

Cada um terá as suas razões, ora por se aventurar pelas águas do ensino público, ora pelas águas das IPSS, ora pelas águas do privado.

Em primeiro lugar, é importante perceber, que o ensino público não dá resposta a todos os educadores, não existe lugar para todos. Em segundo lugar, e sabendo que as crianças no nosso país nascem já com 3 anos (só a partir dessa idade se torna reconhecido o tempo de serviço dos educadores), existiu a necessidade de uma resposta, precoce, em que IPSS, que tente colmatar uma falha, enorme, no sistema de ensino público, ausência dessa resposta a crianças com idade inferior a 3 anos.

Por fim, reconhecer a igualdade nos educadores, surge do próprio ministério, em que o tempo de serviço é atribuído de formas diferentes, em que se atribuem as primeiras, segundas ou terceiras prioridades... Ou seja, quase que, os educadores de primeira, de segunda ou de terceira.

Mas a desvalorização da profissão ocorre em tantos cenários, ... Se ocorre a nível nacional, em que o Ministério da Educação não reconhece o tempo de serviço em creche, como poderemos afirmar que esse trabalho é valorizado por aqueles que estão no poder?

De facto, é valorizado por todos os que se aventuram nestas idades. É valorizado como forma de desenvolvimento de competências básicas... Embora, ainda assim, nem todos reconheçam a sua importância.

Mas provoco eu, até que ponto, somos uma classe que valoriza os diferentes contextos onde podemos desenvolver a nossa prática?

Somos os primeiros a desvalorizar, seja que contexto for, somos os primeiros a criar atritos entre profissionais, somos os primeiros a rotular crianças, a rotular profissionais e práticas, somos os primeiros a desrespeitar o colega da porta do lado.

Mas, somos todos educadores, embora nem todos com a capacidade de reflexão, e isso sim, é importante. Isso sim é a base da nossa prática: refletir no que fazemos diariamente, nas prioridades que estabelecemos; refletir nos tempos dispensados para o brincar; refletir na valorização que damos à nossa prática, na valorização que damos as crianças.

Como dizia, tornamo-nos educadores de primeira, segunda ou terceira, não pelo contexto em que estamos, mas pela nossa capacidade de reflexão, de justificação e argumentação da nossa prática.

E, poder-se-ia definir sim, pela nossa capacidade de nos darmos às crianças, de desvalorizamos as nossas as crenças, as ideologias, as teorias, as metodologias,…

Ser educador de primeira, de segunda ou de terceira, não existe. Existem educadores, profissionais que olham para quem está à sua frente. Seres capazes de estender a mão e cresces em conjunto com quem trabalha connosco e consegue estabelecer pontes, entre crianças, auxiliares, educadores, famílias, …

E, mesmo sendo sujeitos a avaliação, refiro-me, essencialmente, a educadores do ensino público, o importante é, sabermos justificar cada opção pedagógica que tomamos, porque mais uma vez questiono, como é possível definir se somos educadores de primeira, segunda ou terceira, se o relatório que temos de entregar não reflete a nossa prática? Se aconselham a que o trabalho seja construído em  prol da dita avaliação e não do grupo  que temos a nosso cargo?

Que vantagem existe em realizar essa avaliação, se tal como se faz com as crianças, acabamos por rotular as mesmas através de uma escala?

Neste caso, rotulamos os docentes.

A avaliação leva a que exista um rótulo profissional... Insuficiente, suficiente, bom, muito bom e excelente. Mas nem todos podem ser excelentes... As cotas definidas para o agrupamento, o número de excelente e muito bons, não permite que todos o obtenham. Torna-se numa corrida desenfreada em busca de um prémio utópico.

Mas será possível, nessa avaliação, expressar todo o ano de lutas, de conquistas, de aprendizagens, de desenvolvimentos em 3 páginas? É uma reflexão profissional, baseada nos resultados obtidos... Mas, definidos, convenientemente, por entras definidas por outros que não os avaliados.

Será que a nossa prática se deve basear nesse dito relatório, e independentemente do grupo que tenho, planeio todas as atividades e projetos para o ano inteiro?

Afinal, em que ficamos? Estou indeciso, ainda não consegui perceber em que nível me hei-de enquadrar... Serei um educador de primeira, de segunda ou de terceira?

Que tenhamos a capacidade de tornar a nossa classe docente um exemplo de educação e que, a educação de infância seja sinónimo de qualidade, onde se valorize cada um, seja ele docente, criança ou família. Que se aventurem no mundo da educação e, deixem de lado a categorização profissional em prol do tempo de serviço, que se valorizem as práticas, que se valorizem as crianças.

Que a classe seja unida em prol de um objetivo apenas, dar resposta às necessidades das crianças e não dos adultos.

#umacaixacheiadenada

Rui

Comentários

  1. "Que a classe seja unida em prol de um objetivo apenas, dar resposta às necessidades das crianças e não dos adultos" Aprender sempre com a reflexão!!!!!
    Força na mudança, na prática e na voz dos nossos pequenos Exploradores :)

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    1. Obrigado Sandra pelo teu comentário! :)
      O que seria de nós sem reflexão?
      Haja reflexão, haja força para mudar!
      Beijinho! :)

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  2. É isso mesmo que falta à nossa classe: união!! Menos crítica e mais cooperação em prol do nosso foco:
    o desenvolvimento harmonioso e integral das nossas crianças. Mais uma vez, parabéns pelo artigo!

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    1. Obrigado pelo seu comentário! É apenas uma chamada de atenção, à necessidade de respeito que deveria existir entre todos, à chamada de atenção para refletirmos na importância de todos, é uma chamada de atenção para a importância da educação!

      Obrigado
      Rui

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  3. Olá Rui mais uma vez concordo plenamente contigo, eu estou em creche há 10 anos e sinto tão bem isso que referes na pele...não nos valorizam mas no entanto é obrigatório ter um educador na sala e esse tempo de serviço???pois é não o tenho, mas adoro o que faço e valorizo cada conquista das minhas crianças só por isso vale a pena!!�� continua ��

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    1. Olá Sónia, obrigado pelo teu comentário!

      De facto, é necessário existir uma mudança nesse sentido, valorizar todos e qualquer um, como profissional competente e que desenvolve uma prática pedagógica em qualquer idade da educação de infância! um desafio... enorme! ;)

      Obrigado

      Rui

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