Somos verdadeiros polvos, cheios de tentáculos, que tocam todos os que se aproximam

Após o início do ano letivo, poderemos dizer que atravessamos as semanas mais intensas. 

Choros constantes, birras frequentes, ouvem-se, vezes sem conta, as palavras mãe, pai, acompanhadas de lágrimas que correm sem parar. 

Apesar de se distraírem a brincar, uma vez ou outra, recorrem às pernas dos adultos na ânsia de que estes os abracem e os acalmem. 

Os pedidos são tantos, que nos sentimos verdadeiros polvos, cheios de tentáculos, que tocam todos os que se aproximam. E com isto, basta tocar com a ponta do dedo e fazemo-nos sentir presentes, transmitindo conforto e tranquilidade. 

Os polvos, apenas com dois tentáculos, criam uma muralha de crianças à sua volta, onde afinal, parece que eles é que estão protegidos, parece que eles é que precisam de atenção.... Mas não... fazemo-nos presentes, apenas com um simples toque. E, para acalmar, isso basta. 

Nestas semanas, os abraços que se criaram foram imensos, impossíveis de serem contabilizados: abraços fortes, abraços demorados, abraços a 6 braços, abraços de fugida, abraços rápidos, abraços curtos, abraços que confortaram e confortam, crianças... e adultos. 

E se sabe bem? 

Sim, sabe mesmo. Porque ao fim destas três semanas, o cansaço acumulado é algum, a intensidade do choro consome a nossa preocupação de proporcionar o bem estar aos pequenos. 

Levamos para casa cada comportamento, cada situação vivida na escola, apenas com um fim: tornar o dia seguinte melhor que o dia de hoje. E esse pensamento,  leva-nos ao cansaço e eleva-nos a preocupação. Leva-nos a continuar o trabalho,  mesmo fora do nosso horário laboral. 

Nas sestas, apesar de se ouvir o respirar profundo, vão acordando a chorar e a gritar pela mãe ou pelo pai, porque mesmo a dormir a saudade também aperta. 

Ao final do dia, em conversa com um pai, com algum cansaço do nosso dia de trabalho, mostramos o quanto é positivo o caminho que os pequenos foram fazendo. Impressionado, olha pela janela e vê o seu pequeno a trepar e a brincar no parque. 

De uma forma simples e sincera, diz estas palavras: 

"Não existem pais perfeitos. Nós fazemos tudo o que conseguimos. Mas a vossa ajuda é fundamental e estou eternamente grato." 

Apesar do cansaço, destas adaptações, destas semanas intensas, em que nos damos sem medida, saímos de sorriso no rosto, embora cansados...  Mas, mesmo a caminho de casa, saímos a pensar no que poderemos  fazer para melhorar o dia de amanhã. 

E mesmo cansados, e consumidos pelos choros e birras, olhamos para o dia de amanhã com esperança de que tudo correrá bem, e que tudo será feito com um propósito: permitir que cada um seja verdadeiramente criança, criança que teve oportunidades constantes de aprendizagens, de desafios, de tranquilidade e de bem estar. 

E digo, mesmo cansado das semanas de adaptações, que as lutas diárias ganham força quando tudo é valorizado e reconhecido.

E que, por muitos choros e birras que existam, a tranquilidade vai ocupando o seu lugar.

A tranquilidade... 


#umacaixacheiadenada


Rui Inácio

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