Quando o “não consigo” é barreira.
O que promovemos, que comportamentos exigimos, que pensamento
estamos a criar?
Tem sido recorrente, ao longo dos anos, a fragilidade dos
pequenos se notar através de expressões que denotam uma baixa autoestima, uma
dificuldade enorme em reconhecer as suas potencialidades e as suas capacidades.
Esta expressão que, aparentemente, soa a não tentar, leva a
uma reflexão ainda mais profunda. Numa sociedade de competição, em que todos
têm de ser os melhores, as responsabilidades que se colocam nos seus pequenos
ombros, elevam a inconsciência das suas capacidades, tornando-os seres inseguros,
incapazes de ousar, ou sequer, de construir uma opinião fundamentada.
A nossa forma de ação deve ser de encorajamento, deve ser de
estabelecer pontes entre o que são e o que conseguem, atribuindo um significado
fundamental às tentativas, levando-nos a ser, verdadeiramente, apoios diários
nas suas derrotas. Mais importante do que cair, é encorajar a superar e
aprender com o que foram vivendo,
A valorização individual reflete-se nas expressões diárias
utilizadas com as crianças, nas atitudes, nos gestos de empatia, de superação, de
acompanhamento, de respeito e de valorização pelo SER único.
A educação é potenciadora, acredita em cada um, valoriza o
que tem consigo e eleva as suas vontades na descoberta, nas explorações, no
desenvolvimento de interesses, mas é fundamental e crucial no conhecimento
próprio. Se queremos que as crianças sejam verdadeiramente conhecedoras de si
próprias, temos de promover os diálogos e as ações necessárias para o efeito.
O nosso contributo deve ser, sempre, pensado e centrado na
criança, reconhecendo que devemos fazer com que a motivação, a valorização
pessoal, a autoestima, a segurança em si, sejam valores que promovem o
bem-estar de todos e, principalmente, o delas próprias.
A educação não é uma fábrica de produto único, e, como tal,
o nosso papel é potenciar a individualidade, criar espaços que valorizam o
respeito entre eles e entre todos os intervenientes, pois só assim
conseguiremos ir dissipando a elevada frustração que se sente diariamente nas
salas, nas famílias ou em qualquer contexto.
Teremos de conseguir fazer com que olhem para dentro de si,
com que reconheçam as potencialidades e aprendam, de forma segura, a valorizar as
tentativas.
O “não consigo” deve ser a expressão que cada vez menos se
deverá ouvir, devendo ser substituída, por, “pode ser difícil, mas vou tentar”.
Esta ousadia que se vem a perder cada vez mais, é, também, fruto de
uma ausência de exterior na vida das crianças e das famílias. Isolar as crianças
do espaço exterior é levar a que a sua proatividade, o seu dinamismo, a sua
segurança e autoconfiança, sejam postas em causa, levando-as a tornarem-se
seres menos ousados, menos predispostos a arriscar e cada vez mais próximos do
fracasso e da necessidade de sentir o risco e o medo para ultrapassar os obstáculos.
O que fazer? Pensar que nas situações descritas, deve
existir uma ligação estreita entre elas, não podendo existir o corte, mas sim a
criação de pontes.
E se a nossa perspetiva de ser é valorizar as tentativas e
uma educação positiva, ligada ao afeto e à valorização pessoal, devemos
incutir, cada vez mais a expressão, “pior do que não conseguir é não tentar”,
como nos dizia Roosevelt.
Mais do que se promover o Ser O Melhor, deve-se promover o
Ser Melhor.
Rui Inácio
#umacaixacheiadenada
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