No dia do Jardim de Infância que se valorize a Infância

Mais um dia para comemorar. Mas, se assim o é, que o saibamos aproveitar de facto, esperando que hoje não tenham havido lembranças construídas pelas crianças. 

Que as lembranças construídas tenham sido momentos únicos e não objetos físicos, que tenham sido as memórias em torno dos seus interesses e não dos interesses dos media ou de um consumismo sem medida.

Mas se hoje é o apelidado dia do Jardim de infância, alarguemo-lo e tornemo-lo o dia da Educação de Infância. Com isto, saibamos aproveitá-lo como uma medida de sensibilização, de modo a que se entenda porque é importante viver a Educação de Infância. Saibamos justificar e valorizar o que fazemos, tornando este dia algo que nos une, algo que, mais do que enunciarmos a nossa escola, valorizamos o que a Educação de Infância prioriza! Façamos algo que nos orgulhe de ser Educadores de Infância, Assistentes operacionais, Profissionais de Educação.

Diariamente recebemos o futuro, fazemos viver o presente, conscientes, ou não, de que as nossas ações influenciarão aqueles que nos são confiados, que marcamos o início destes anos de educação/vida escolar que estão prestes a viver e a experimentar. Temos de estar conscientes disto. Assim, não nos limitemos a dizer a nossa escola, mas sejamos capazes de explicar porque é tão importante permitir que as crianças vivam a Educação de Infância.
Não, não é a preocupação de os manter sempre ocupados.

Não, não é a preocupação por fazer atividades a metro que enchem os dossiers e as pastas feitas pelos adultos.

Não, não é a preocupação por as transições se estarem a aproximar, que vamos injetar as cores, os animais da quinta, os números e as letras.

Não, não é a preocupação porque se sujam quando na rua.

Não, não é a preocupação por exigir que façam grafismos e que sigam as linhas, de um modo perfeito, que vamos estar a valorizar a Educação de Infância e muito menos a transição para o ciclo seguinte.

Não, não é a preocupação por estarmos a formar doutores ou arquitetos… formam-se cidadãos. 

Não, não é a preocupação de estarmos a decorar paredes cheias de nada, que essas em nada refletem a expressão e as aprendizagens dos mais pequenos.


Não, não é a preocupação excessiva em demonstrar trabalho que nos fará olhar para a Educação de Infância como algo fundamental na vida das crianças.

Não, não é o preenchimento das grelhas de avaliação que nos transportam para o aluno padrão. E não me digam que já poucos os que as usam, porque não é a verdade. E não digam que tornamos as avaliações descritivas únicas, porque nem sempre é a verdade.

As preocupações não são estas… ou não deveriam ser estas.

Que espaços construímos para priorizar o que fazemos?
De que forma o tornamos claro aos olhos dos outros: dos pais, dos colegas e até das crianças? 
Que Educação vivemos/vestimos neste dia de comemorar a Educação de Infância?

A Educação de Infância é um espaço único, que potencia a individualidade, não porque é uma palavra interessante e que cada vez mais é utilizada. Mas porque, de facto, valoriza cada criança, cada conhecimento, cada vivência, cada palavra, cada abraço, cada dificuldade. Valoriza a potencialidade e o respeito pelas crianças que nos olham diariamente, ansiosas por se aventurarem no seu mundo de brincar, cheio de construções, de conhecimentos, de audácia, de desafio, de reflexo da sua personalidade e individualidade, de criatividade e de imaginação. Que respeito lhe damos?

A Educação de Infância, que se comemora, é aquela que respeita cada criança e faz com que o seu dia seja feliz, a brincar.

A Educação de Infância, que hoje comemoramos, é aquela que constrói sonhos, e não a que destrói e que aniquila interesses, potencialidades e verdadeiras vivências, ricas em saber, ricas em aprender a aprender, através do que melhor sabem fazer, brincar.

Mas não digamos, só estão a brincar, digamos mais do que isso, porque precisamos que entendam, realmente, o que é só estão a brincar
O que se encontra por detrás deste termo, o que transmitimos e que valor lhe damos na realidade? Quantas aprendizagens, quantas oportunidades constroem, quantas vivências e partilhas criam, quantos planos caem por terra porque não os soubemos ver e muito menos apoiar. Nem sempre chegamos a todos.

A Educação de Infância, que se celebra, é que não lhes impõe limites físicos, a que lhes mostra que além paredes existe um mundo a precisar de ser explorado, cheio de sensações únicos que só o espaço exterior lhes permite! É aquela que os torna exploradores em conjunto com a Natureza, com o espaço exterior e os faz tornarem-se confiantes nos desafios diários.

A Educação de Infância, que hoje se comemora, é aquela que olha para as crianças como seres capazes de SER, com vontades, com interesses, com a capacidade de dar a opinião, de argumentar, de serem construtores e investigadores da sua aprendizagem. Não são, e jamais deverão ser, meros repetidores de um adulto.

A Educação de Infância, que hoje se comemora, é a que dá resposta a todas as crianças, sem nunca deixar nenhuma de parte, sem nunca deixar de a escutar, sem nunca deixar de reconhecer que o papel que assume é fundamental para manter os seus níveis de envolvimento no máximo ao longo de cada oportunidade criada.

A Educação de Infância, que se comemora hoje, é aquela que vive e respira o currículo único, diferenciado, construído e gerido pelo Educador de Infância, com o intuito de levar as crianças que tem consigo a um patamar mais alto, a incentivá-las a subir mais um degrau. É aquela que os incentiva a subir degrau a degrau com um sonho e com a capacidade de lhes mostrar que tudo é possível, e que nós estamos para os ajudar, não para lhes mostrar o caminho já definido ou para sermos obstáculos. 

Esta Educação de infância é difícil e é afastada dos pedidos incessantes nas redes sociais para aplicação de atividades descontextualizadas e aplicadas em N grupos com interesses únicos… que prioridades?

A Educação de Infância, que se celebra hoje, valoriza a autoestima, a criatividade, a identidade, o respeito e aceitação pelo outro, a autonomia, a partilha, a cooperação, as escolhas e as responsabilidades que podem assumir, não é nenhuma ocupação de tempos livres, onde correm, saltam, trepam, só porque sim. Nesta Educação de Infância existem propósitos.

A Educação de infância, que se comemora hoje, é o início de uma etapa, que deve valorizar os afetos entre todos, a relação entre os envolvidos, a confiança. Não se faz Educação de Infância sem o toque, sem o sorriso, sem o abraço, porque dessa forma, acolhemos o futuro, mas fazemo-los viver o presente, com o intuito de o tornar proveitoso no caminho que vão definindo.

A Educação de Infância, que se comemora hoje, torna-se tão simples quando sabemos valorizar o nosso papel de Educadores de Infância, de Assistentes Operacionais, de Profissionais de Educação, quando sabemos que é algo a construir em conjunto com as crianças. É tão simples, mas tão complexa, quando nos permitimos caminhar em areias movediças, em caminhos definidos por eles que nos fazem sair da nossa zona de conforto, mas que estamos a dar as respostas que necessitam e não as que desejo ver. É uma luta interior entre o que esperam de mim e o que acabo por fazer. 

É através dos seus sorrisos que hoje comemoramos a Educação de Infância, porque independentemente do Jardim de Infância/Creche em que desenvolvemos a nossa prática, devemos estar conscientes de que o que fazemos deveríamos fazê-lo com qualidade, com capacidade de nos por em causa. Nada é perfeito, todos erramos. E mais do que nos mantermos no erro, é preciso reconhecê-lo e melhorar o que fazemos.

A Educação de Infância, que comemoramos hoje, é aquela que nos faz abraçar esta profissão em prol das crianças, em prol do seu futuro, em prol da sua felicidade. É aquela que nos faz ter a consciência do respeito para com elas, para com a sua ação, para com o brincar, para com a sua voz e para a forma de estar na sua educação.

Sim, hoje que se comemore a Educação de Infância, mas não se deixem ficar pela capa, leiam o livro e conhecem-no de forma integral.



#umacaixacheiadenada


Rui Inácio





Imagem Rádio Comercial

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