Isto, de ser educador de infância, não é moda, é vocação.
Muitos são os louvores que vão surgindo em prol desta
profissão.
Muitas são as palavras que se vão dizendo, escrevendo, que valorizam
a profissão e, mais do que isso, a infância.
Em contrapartida, surge muita desvalorização, muito desentendimento do que é, de facto, ser educador de infância. E ao falar de educador de
infância é importante ressalvar, não existem educadores de infância do ensino público, de IPSS ou
de ensino privado.. Existe uma profissão que é educador de infância.
Esta profissão que tão poucos entendem, ou não querem entender,
é na sua prática uma vivência baseada nos valores sustentados na
essência humana. É mais do que ensinar a agarrar no lápis, do que os
obrigar a estar sentados e a escutar o que se diz. É mais do que isso!
Ser educador não é ensinar as letras e os números, porque
isso vão-se apropriando com os jogos, com o brincar que surge nas salas, na
rua, no passeio, na ida para a escola ou para casa, haverá tempo para isso. A sensibilidade das
crianças leva a que questionem e sintam curiosidade em saber, não necessitam de
ter um programa específico que leve a que os educadores se tornem pouco
recetivos e com pouca capacidade de escutar quem tem à sua frente.
Mas isto, de ser educador de infância é mais do que tudo o
que se imagina e pensa.
Isto, de ser educador de infância é permitir que quem
se senta ao nosso colo sinta que a nossa respiração tranquila, os acalma, os aconchega, lhes dá alento tornando-se, quase, numa só.
Isto, de ser educador de infância, é sentar, deitar e
rebolar no chão, não porque não nos apetece trabalhar, porque nos envolvemos,
porque nos preocupamos com o brincar daqueles que nos acompanham. E, porque, de facto, queremos entender o seu
ponto de vista, e não há melhor forma de o fazer, do que descer ao seu nível, entendê-lo, atribuir-lhe um sentido, um valor, um significado. Esse é o nosso trabalho.
Isto, de ser educador de infância, é mais do que ter uma
sala cheia de brinquedos que, aparentemente, não têm qualquer valor. Ter uma
sala cheia de brinquedos, é saber selecionar as melhores oportunidades para
aqueles que a vão frequentar, de modo a que esses brinquedos complementem e
permitam um brincar seguro, ousado e cheio de aprendizagens. Esses brinquedos
que enchem uma sala tornam-se reconhecidos e valorizados pelos educadores,
porque sabem o porquê da sua presença, e não são colocados como meros elementos
decorativos, têm um propósito, enaltecer o brincar.
Isto, de ser educador de infância, é sentir cada toque, cada
mão a tocar-nos a perna, cada palavra que não surge verbalmente, mas que se veste
de sentimentos, de brilho nos olhos, de uma necessidade, simples, de estar ao
nosso lado. É estar presente e permitir que os laços aconteçam.
Isto, de ser educador de infância, leva a que cada um se sinta
como uma teia, uma teia de relações, fortes, de confiança, de amizade,
vestidas da maior simplicidade que a palavra relação pode ter, e ao mesmo
tempo, a complexidade que a mesma nos exige, porque fazemos para estar
presentes em todos os momentos, faz-nos presentes ao longo de 25
pontos de vista num só dia.
Isto, de ser educador de infância, leva-nos a olhar para cada
um como um ser em crescimento, com voz, com garra, com vontade de ser e de
fazer. Este olhar cheio de afeto, de conhecimento, de esperança eleva o caminho
que os mais pequenos vão construindo com o nosso apoio, com o nosso
companheirismo.
Isto, de ser educador de infância, nem sempre é fácil, e nunca disseram que o seria! Quantas
vezes saímos de coração apertado e enquanto dirigimos para casa, a nossa mente
ocupa-se com 25 preocupações, com 25 relatos imaginários do dia e leva a que
nos questionemos, com uma pergunta apenas, será que o vosso dia valeu a pena?
Isto, de ser educador de infância, é ter a capacidade de refletir
nos nossos atos, na nossa necessidade de adequar cada dia a cada um, de
valorizar cada momento, de espelhar nas nossas palavras o sentimento de orgulho
pelas conquistas, o encorajamento nos momentos das falhas ou dos erros, a
coragem para se ousarem e se desafiarem a ultrapassar aquilo a que chamaram
problema.
Isto, de ser educador de infância, é questionar de forma
persistente, será que estive à altura? Será que ao longo deste dia permiti que
falassem, que tivessem uma voz ativa, que definissem o seu caminho? O que fiz
eu para permitir que isso acontecesse?
Isto, de ser educador de infância, é muitas vezes caminhar
sozinho, porque batalhamos pelos interesses individuais, pelos interesses do
grupo que temos, com valores específicos, com culturas específicas, com
vivências únicas, que mais ninguém viveu. E, esse caminho que se faz sozinho é
valorizado na relação que conseguimos construir com eles. Mas é um caminho difícil de ser entendido.
Isto, de ser educador de infância, é sentir um aperto no
coração sempre que alguém se magoa, é limpar as lágrimas que correm sem parar e
que, por vezes, teimam em não desaparecer, mesmo que os nossos braços estejam à
sua volta, mesmo que, as nossas vozes calmas, mas ansiosas, tentem tranquilizá-los.
Isto, de ser educador de infância, é ser um guardador de
sonhos, é ser um desafiador do futuro, levando a que os mais pequenos levem
consigo este sentimento de sonhar, de querer e de lutar pelo seu futuro. Porque
ser educador de infância é isto, é permitir que cresçam, que sejam crianças,
que de facto, se apropriem de competências importantes, não para a transição
para o 1º ciclo, mas para se tornarem seres orgulhosos no seu futuro, nos
valores que vivem, nas emoções que passam.
Isto de ser educador de infância, é ter sentimentos, é ter
emoção em tudo aquilo que é feito. É permitir que ao agirmos com o coração,
eles sejam gratos e saibam dizê-lo, e mais do que dizer, saibam sê-lo. Porque
isto, de ser educador de infância, é elevar o ser criança ao nível seguinte, ao
nível de crescimento interior e exterior, fazendo com que a infância seja um
marco de felicidade, de aprendizagem e de recordação.
Isto, de ser educador de infância, vive nas nossas veias e
faz com que corra diariamente pelo nosso corpo, porque mesmo em casa, nunca
deixamos de o ser. Mesmo em casa, nunca deixamos de nos preocupar com quem está
connosco, dos seus problemas, das suas ansiedades, das suas conquistas. E,
mesmo em casa, continuamos em busca de uma solução para todos eles.
Isto, de ser educador de infância, não é um fato que se veste das 9h às 17h, é
um fato completo, vestido a tempo inteiro.
Isto, de ser educador de infância, não é moda, é vocação.
Isto, de ser educador de infância, não se transmite,
vive-se.
Isto, de ser educador de infância, é reconhecer que ao fim
de alguns anos, quem passou por nós, lembra-se de cada oportunidade construída,
dos abraços dados, das histórias contadas, dos sorrisos, das quedas, do
conforto dado em momentos de maior ansiedade ou desespero, é ser companheiro e
ser recordado como tal.
Isto, de ser educador de infância, é mostrar que é possível
construir uma educação que valoriza o indivíduo, que valoriza os seus
interesses e não os dos adultos. É saber olhar para cada um com um olhar
pedagógico, intencional e reconhecer que o que se proporciona é único e real.
Isto, de ser educador de infância, é um compromisso para a
vida, para a construção de vidas, de sonhos, de lutas, de conquistas.
Isto, de ser educador de infância, é ser respeitador do SER
criança, do SER interior de cada um.
Isto, de ser educador de infância, é
apostar e semear no presente, conscientes de que tudo o que estivermos a fazer,
levará a que haja um futuro, promissor e com uma colheita que é assente no
respeito, no crescimento pessoal, na valorização do outro, no Ser.
Isto, de ser educador de infância é semear o presente e colher
no futuro.
#umaxaicheiadenada
Rui Inácio
Maravilhoso!
ResponderEliminarPalavras que se encaixam completamente na minha forma de ser, estar e agir.
É muito aprazível este encontro com as suas palavras.
Obrigada Rui.
Cumprimentos
Mª Alexandrina Vasconcelos
Obrigado Mª Alexandrina, obrigado pelas suas palavras. Acredito que sejam "sentires" de muitos de nós! :)
EliminarTão bom ser esse educador de infância que descreves!
ResponderEliminarÉ tão ser ser educador, e só por isso já vale a pena arriscar! :)
EliminarConcordo plenamente e revejo-me em todo este texto...porque sou Educador de Infância há 32 anos.
ResponderEliminarParabéns
Muito obrigado pelo seu comentário, 33 anos é uma vida repleta de oportunidades, de construções, de vivências ! Uma bagagem e tanto! :)
EliminarSer Educador de Infância é um privilégio.
ResponderEliminarÉ entregar o coração e sobretudo amar a sua profissão. Somos os alicerces a raiz do desenvolvimento pessoal . Responsáveis pela Infância de uma criança , experiências únicas que só se vivem nesta etapa. Mesmo que o tempo as apague, algo fica no coração . Adoro ser Educadora de Infância
Obrigada ao educador que nos faz sentir a educação de infância.
ResponderEliminarSim e educação de infância é sentir e ser criança!