A nossa casa é (...) a sala de aula.

Estamos a viver um estado que nunca imaginamos viver.

Estamos confinados aos poucos metros que as nossas casa têm. Estamos enclausurados no nosso próprio espaço, sem poder sair ou, sequer, sentir o sol no nosso corpo.

Estamos, simplesmente, a reaprender a conviver, a dar tempo à família, aos filhos e aqueles de quem mais gostamos. Os contactos tornam-se constantes e as videochamadas uma necessidade.
Somos feitos de relações e é isso que nos faz seres, é isso que nos faz e nos ajuda a crescer.

De facto, não somos seres individuais, somos indivíduos que partilham, que se dão, que recebe, que abraçam, que vivem, que amam, que medeiam, que se relacionam. Somos aqueles que precisam de estar com o outro e para outro.

O tempo de família é outro, estamos fechados e com os filhos acabam por surgir atividades que lhes preencham o dia, porque será, certamente, um tempo de pôr os nervos em franja a muitos pais. As pilhas não se gastam, a energia não termina e o tempo parece que não corre. Além disso, estão como se estivessem num reality show, 24h sob 24h. Mas, o tempo não para e, felizmente, têm surgido milhares de propostas online

A preocupação é generalizada, que todos se mantenham sãos e conscientes de que isto é uma fase, em que todos são necessários para que tudo isto venha a fazer parte de um passado, um passado que nos abalou. Mas, o tempo ainda não é passado, é presente, e temos de aprender a viver com isso.

Os pais, em casa, tentam desenvolver a sua atividade profissional através do, agora famoso, teletrabalho. E, sem entendermos bem o nosso papel e o seu funcionamento, vamo-nos tornando exploradores de um mundo que vamos descobrindo aos poucos, ora sós, ora com ajuda, ora em comunidade e partilha. 

Mais uma lição.

Os pais estão a aprender a viver esta nova rotina, as crianças estão-se a adaptar a esta nova forma de aprender. Mas é importante não esquecer, que mesmo em casa e, sendo enviadas as atividades ou propostas, há uma que não algo que é obrigatário permitir: brincar. Continua a ser importante que se permita a exploração livre e a brincadeira livre, mas, agora, com objetos que não costumam ser utilizados como tal! É, mais uma vez, uma aprendizagem!

Alguns pais começam-se a queixar de que os professores os têm sobrecarregado com trabalhos de casa, com propostas de atividades, com uma quantidade tão grande de trabalhos que mais parece que os filhos estão a tirar uma licenciatura. Mas atenção, não é tempo para isso! Não é tempo para criar discussões e ataques, é tempo para nos unirmos e pensarmos em conjunto, porque, tal como está a ser uma aprendizagem para os pais, está a ser uma aventura, esta forma de ensino, para os professores.

Será que têm a noção do tempo que se tem “perdido” na exploração de novas ferramentas que permitem um contacto online com os vossos filhos? 
Será que conseguem imaginar a quantidade de grupos de whatsapp que surgiram para que os professores se possam apoiar uns nos outros, para que se consiga alcançar aquilo que se pretende, ou seja, o sucesso escolar dos vossos filhos?
Será que têm a noção do trabalho que não é visível e de preparação que é exigida para lhes fazer chegar, apenas, uma ficha, ou um vídeo, ou uma atividade, cuidadosamente preparada, exclusivamente, para os vossos filhos?

Mas tudo isto é novo. Mas, continuamos agarrados ao passado, ao sempre foi assim.

É verdade que não nos podemos estar a atacar de forma constante. É verdade que é tempo de repensar a educação. É verdade que é tempo de olharmos para as práticas de todos, como uma forma de iniciar ferramentas que contribuam para um desafio ainda maior do que com aquelas a que estamos habituados a lidar.

É um desafio, para todos, não só para pais, não só para professores, não só para alunos. 

Acreditem que ao serem enviados os trabalhos, que não convém que caiam em exagero, é importante repensarmos na avaliação, mas mais do que na avaliação, é urgente repensarmos naquilo que estamos a pedir aos alunos. Enviamos trabalhos para que ocupem todo o tempo e que ao os fazerem acabem por nem os entender? Pedimos oportunidades de exploração, de aprendizagem onde existe uma mediação e um contacto permanente com os professores? Que rumo tomar?

Obviamente, que todos, tentam jogar pelo seguro, porque existem diretrizes a seguir, porque existem evidências a ter para que, no final do período, se tornem o reflexo da nota merecida. 

Existe uma grande dificuldade nesta adaptação, pelos professores, pelos pais e pelos alunos, mas esta não é a altura para julgar, é a altura para agir cooperativamente.

É altura para nos colocarmos no lugar do outro e, por muito difícil que seja, temos de reconhecer os esforços de cada um. Mais do que os resultados, o importante é permitir que os alunos tenham a oportunidade de lidar com aprendizagens, com crescimento. Bem sabemos que a educação continua vidrada em resultados, em estatísticas, em taxas de sucesso, mas melhor que ninguém, sabemos que a educação de hoje, foi feita para os alunos de ontem, e, esta também está a mudar. 

Estes dias têm apontado no sentido da mudança, da mudança da educação, que para muitos, surgiu de forma forçada.

E esta mudança causa-nos instabilidade, medo. Mas, é nestes momentos que nos conhecemos, e reconhecemos que afinal a educação não se vive de porta fechada. Reconhecemos que temos de adequar o que pretendemos transmitir aos nossos alunos. Valorizamos a partilha e a cooperação. Reconhecemos que precisamos de todos, para que tudo isto corra bem e chegue onde desejamos.

Há que pensar que, mesmo estando todos em teletrabalho, os pais também o estão e, para muitos deles, torna-se quase impossível fazer o acompanhamento rigoroso, diário, dos filhos. 

É um esforço, de todos. 

Assim, a solução não passa por enviar listas telefónicas de trabalhos, mas sim, atividades que exijam e que reflitam o interesse dos alunos, porque sejamos realistas, este ano não se conseguirão atingir todos os conteúdos programados, haverá adaptação, adequação, mudança! Haverá a capacidade de reconhecer prioridades e, por momentos, teremos de ser capazes de olhar além dos adquiridos, não adquiridos, das positivas e negativas, da estatística, teremos de ser capazes de olhar para os alunos que temos agora, que sonham e que, tal como nós, estão assustados com toda esta situação.

Por isto, por eles e pelo seu futuro, não é tempo de atacar professores, não é tempo de atacar pais, não é tempo de escravizar alunos, porque agora, não são apenas os alunos que estão em aprendizagem, somos todos nós! 

A mudança já começou, agora!
Por isso, temos de a acompanhar e seguir na direção certa, que é o futuro da educação, o interesse dos alunos e as oportunidades reais que lhes são criadas.

A nossa sala de aula mudou as paredes. A nossa sala de aula não é aquela que conhecemos. A nossa sala de aula está modernizada. A nossa casa é, neste momento,  a sala de aula.

A mudança aconteceu, agora! Só temos de a acompanhar,parar de nos queixarmos, e deixarmos de ser o Velho do Restelo, porque se cada um continuar a remar para onde quer chegar, jamais sairemos do local onde estamos.

#umacaixacheiadenada

Rui   

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