Mãe, estou cheio de comichão na cabeça!
Mais um dia de escola passou, como tal, é sinal de que fora
um dia agitado, um dia de muita brincadeira e um dia rico em aprendizagens e
troca de experiências. É mais um dia do que realmente é viver no pré-escolar.
De mochilas às costas seguem a toda a pressa para junto dos
pais, de calças sujas, de sorriso no rosto, revelam as maiores evidências de um
dia feliz e cheio de brincadeira.
Ao chegar junto dos pais, dão o abraço que esperaram durante
todo o dia, o abraço que mais ninguém conseguiria dar, o abraço daqueles que
amam realmente. Na viagem para casa contam as novidades, contam o que fizeram e
partilham as brincadeiras, as conquistas, as desilusões, as zangas e tudo o que
lhes proporcionou um dia fantástico, mais um grande dia da sua infância.
Chegados a casa e mesmo ansiosos por ir brincar, com algum
desespero, alertam os pais, “mãe, estou cheio de comichão na cabeça.” De facto,
aquilo que ninguém quer, apodera-se daquela pequena cabeça e torna-se um
verdadeiro viveiro de pequenos seres que se passeiam por ela. Desesperado, leva
os dedos à cabeça e tenta alivar, de alguma forma, a comichão que sente.
De um modo meticuloso e com o auxílio do pente, a mãe,
percorre cm a cm da cabeça do pequeno e tenta, a todo o custo, eliminar aqueles
pequenos seres que incomodam o seu bem precioso. Após o cuidadoso e minucioso
exame, o problema está encontrado, pediculose, conhecido, de forma frequente
como piolhos, esses pequenos parasitas que tornam os pequenos e graúdos agitados
e cheios de comichão.
Apesar do esforço para os eliminar, há que recorrer a
champôs eficazes que aliviem e os eliminem, no entanto, em casa torna-se mais
fácil de controlar tal praga. Poderá ser sinal de que os trouxe da escola e que
a fonte de contágio terá sido algum colega.
Sem qualquer aviso da escola, no dia seguinte, os recados
são dados, “O meu filho tem piolhos, por favor, avise os restantes pais”.
Sabendo que procedimento ter, a equipa de sala começa a
avisar cada pai, alertando para a importância de realizar os tratamentos e
cuidados devidos. É de facto algo importante a ter em conta, no fundo, esta
praga propaga-se de forma fácil e sem qualquer aviso.
Vigiam-se as cabeças, detetam-se mais casos, e sem qualquer
aviso parental, vão se detetando os famosos bichinhos nas cabeças das mais
variadas crianças. Idealmente, as crianças deveriam permanecer em casa, na
realidade, poucas são as que o fazem, por motivos diversos, mas que acabam por
influenciar o bem-estar do grupo.
Infelizmente, os avisos constantes e os tratamentos caem, em
muitos casos, em saco roto. Apesar de serem constantes os conselhos e os
pedidos de tratamento, cada vez mais são as crianças que têm estes pequenos
parasitas e os pais vão, a todo o custo, fazendo os tratamentos, dia após dia,
outros ignorando os conselhos e bem-estar dos próprios filhos deixam-se andar
como se nada fosse.
E, mesmo quando nos dizem que os filhos não têm qualquer
sinal de pediculose, basta fazer uma pequena procura nas cabeças que depressa
se encontram os bichinhos a vaguear, depressa nos contam que em casa os pais
colocaram champô, ou spray para os eliminar, mas não é essa a mensagem que nos
passam e muito menos a preocupação.
Após avisos sem fim, após expostas as preocupações dos pais,
que ansiosos fazem o tratamento diariamente e em nada veem resultados, nada mais
resta às equipas de sala do que mostrar que é importante que olhem para este
problema como merece. Merece que cada criança seja respeitada, seja cuidada,
seja tratada, pois só assim, o grupo conseguirá estar bem. É reconhecer o
esforço da equipa para eliminar este problema, é reconhecer a individualidade e
o impacto que temos no grupo, é respeitar a saúde dos próprios filhos.
Já sabemos que apanham tudo na escola. Já sabemos que os
pais não podem ficar com os filhos em casa (e respeitamos).Já sabemos que,
utopicamente, todos fazem o tratamento e já sabemos que eles nunca têm nada.
É verdade, que as inúmeras desculpas que surgem não protegem
ninguém, tornam, simplesmente, cada um, um ser frágil, que por omissão de responsabilidades
parentais, leva a que mantenham a comichão na cabeça de forma permanente,
criando instabilidade, incómodo e mal-estar. Não omitem responsabilidades,
apenas as acrescem. E, aos pais que de forma cuidada cuidam dos seus pequenos,
estas situações levam a que se chateiem e a que, de forma desesperada, apelem
às equipas de sala para que estes intercedam junto dos mais descuidados e os
tentem sensibilizar para esta problemática, sensibilizando para o que isto
provoca num grupo, não numa casa, mas na casa de todas as crianças do grupo.
De facto, torna-se evidente que nem sempre os recados chegam
a bom porto, nem sempre são entendidos de forma leve. São, no entanto, acolhidos
como ofensas claras e diretas, como desresponsabilizações e faltas de civismo,
como uma atitude egoísta e pouco compreensiva,… pois, de facto, muitas destas
ações são as que transmitem. De facto, é uma questão que requer atenção e
sensibilidade.
Ao não assumir tal responsabilidade, os principais
prejudicados são apenas uns, os vossos filhos. São eles que diariamente, mesmo
quando alguns pais ignoram os avisos, que coçam a cabeça vezes sem conta, estão
irrequietos e impacientes sem saber o que poderão fazer, que tornam o couro cabelo
ferido, porque não têm mais com que atenuar a comichão a não ser as unhas. Perante
isto, são os educadores e auxiliares que tentam minimizar, sabe-se lá como,
esta situação. Realmente, alertar os pais é a melhor forma!
Já sabemos que é na escola que tudo apanham, mas é na escola
que tudo curam! Já sabemos que a escola acaba por assumir inúmeras
responsabilidades, que deveriam ser assumidas pela família. Já sabemos que a
culpa é da escola… mas, mesmo depois do esforço de alertar todos para a
importância com que devemos olhar para cada problema de saúde, é inglório
perceber que até a equipa se encontra sujeita a esta maleita, e que, tal como
as crianças, estes também têm de recorrer a tratamentos para que não sejam afetados
com tal epidemia.
Trata-se, somente, de uma questão de responsabilização. Trata-se
de não ignorar os avisos constantes, trata-se de respeitar o outro, de
respeitar a própria família, de ser responsável.
Mas aviso após aviso, já sabemos, que nada têm. No entanto,
o cabelo vem extremamente apanhado, atrás das orelhas colocara-se perfume, não
fosse o cheiro o verdadeiro denunciador de tal feito. Poderão colocar maionese,
vinagre, azeite, ou tudo aquilo que se lembrarem para evitar que estes surjam,
mas sejam sinceros e sejam humildes ao ponto de reconhecer que os piolhos também
poderão estar nas cabeças dos vossos filhos, não surgem apenas nas cabeças dos
outros…
E não, os piolhos não saltam de cabeça em cabeça, não voam
de cabeça para cabeça, simplesmente se transmitem através do contacto de
cabeças, cabelos, troca de gorros,… e esse contacto acontece ao longo de todo o
dia num jardim-de-infância, e de facto poderá ser evitado, não proibindo os
filhos de brincar com os colegas, mas vigiando de forma periódica, realizando a
higiene correta e ser responsável pelos seus atos.
Não adianta culpabilizar a escola para tal epidemia, porque
essa faz o seu papel. Culpabilize-se a si, porque nem sempre os ouviu, porque
nem sempre esteve desperto, porque nem sempre reconheceu o impacto que a
individualidade tem na vida do grupo.
Os piolhos são de facto uma epidemia, mas não podemos deixar
a responsabilidade de lado, ela faz parte de nós, porque somos elementos
integrantes de um grupo, somos promotores do bem-estar dos mais pequenos. E a responsabilidade
é de todos.
#umacaixacheiadenada
Rui
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