"estive numa reunião de pais, (...) e fiquei chocada"

Chegar ao final do ano e ter ainda de enfrentar as reuniões de pais, não é dose, é obrigação!

As reuniões de pais tornam-se um excelente meio de comunicar, de mostrar o que se pretende desenvolver ao longo do ano, o que se fez ou o que se fará.

As reuniões de pais tornam-se sinónimo de contacto com as famílias, de estabelecer relação, de conhecer e reconhecer, de valorizar cada um e o todo. É o espaço ideal para se provocar e desafiar ao envolvimento integral ao longo do ano. 

Mas a sua preparação envolve tanto tempo, tanta dedicação, tanto cansaço, torna-se um momento de incerteza quanto às presenças, às reações, aos desabafos e às frustrações.

As reuniões de final de ano levam a que, de forma antecipada, seja um momento onde surgem milhares de fotos que tendem a representar projetos, descobertas, conquistas e desafios. Mas, certo é, que nem sempre se vivem as reuniões como um espaço de conversação amena e respeitada, nem sempre se olha para a reunião de final de ano de forma branda. É nestes momentos que, por vezes, se revelam as frustrações, as expectativas não atingidas, os desagrados e, em frente a todos, são expostos de forma ingrata todos os problemas, como se ao longo do ano não tivesse existido espaço e tempo para se exporem essas dificuldades, necessidades e frustrações.

Todos falam ao mesmo tempo, todos comentam, todos esquecem que as regras de conversação não existem apenas para os filhos, mas para todos e a isso, chama-se saber esperar, respeitar, esperar a vez,. Quão importante se torna num diálogo. 

Apesar de todo o cuidado na sua preparação, as reuniões seguem rumos que, por vezes, mancham os anos letivos, levando a que o respeito, ou a falta dele, seja e esteja presente nesta hora e meia de tortura para todos. Se por um lado há os que anseiam serem ouvidos a todo o custo, há os que de forma serena expõem as ansiedades sem faltar ao respeito, em deixar  de compreender as competências,  os papéis de cada um.

Há os que respeitam e merecem ser respeitados, porque a reunião não se trata de um espaço de "luta campal", de exposição, quer dos educadores, quer dos auxiliares, ou até  dos pais, mas sim um espaço de conversação de adultos e para adultos, onde se debatem problemas, situações, se expõem metodologias de trabalho, onde se dão e recebem  informações, onde se partilha, coopera, se constrói enquanto comunidade,... Só!

No entanto, estes momentos acabam por se tornar verdadeiros "braços de ferro" de exposição de perspectivas, de ideologias distintas, de defesa de interesses individuais e de uma incompreensão, clara, de papéis.

A reunião foi preparada com todo o cuidado. Na convocatória seguia o pedido de que, apenas, os pais estivessem presentes, mas por diversos motivos, sejam eles falta de apoio familiar para ficar com as crianças, seja a hora das reuniões, ou a pressa de que esta reunião termine, ou ainda, de forma mais direta, que o filho seja a razão de uma saída prévia da reunião. E isto é certo, não há maior dificuldade do que realizar uma reunião e ter o esforço acrescido para se manter o  foco  nos temas necessários a serem debatidos, mesmo com o barulho e com a agitação que não estavam previstos.

Seria uma  reunião de pais, e só! 

Mas, as crianças também vieram, os berros, os gritos, a agitação,  o cansaço, o querer brincar e não poder, faz com que se mexam e corram pela sala, desarrumem o que não é para desarrumar e, sob o olhar de todos não existe qualquer repreensão, ou alerta para a forma como se interrompe a reunião, que tanto trabalho deu a preparar. 

A informação que passa não é entendida de forma plena, a atenção é reduzida e, o que era suposto ser uma reunião, torna-se o prolongamento do dia, mas agora, com as crianças e com os pais. 

Estes momentos não são tempos letivos, não são tempos em que os educadores estão responsáveis pelas crianças, não são os educadores que tem de os alertar, mas os pais... Porque enquanto decorre a reunião, existem outras responsabilidades inerentes  aos educadores, que neste caso, são mais importantes do que estar com atenção ao comportamento das crianças, que não deveriam estar naquela reunião.

Apesar das horas serem definidas os atrasos vão sendo constantes, levando a que seja interrompida de forma sistemática, levando a que se comece a questionar o que se passou, levando a que não se entenda e assim, seja repetida toda a informação sempre que existem atrasos.

No dia seguinte,  dado que a atenção foi reduzida, um a um questionam, novamente, toda a informação, porque não ouviram, porque de forma constante o educador foi interrompido, porque não houve tempo para se ouvirem de forma respeitada e cooperada, porque não se prepararam minimamente para a reunião, porque a atenção não estava centrada onde deveriam. Tudo volta a ser repetido, agora, de um modo individual, levando a que, os mais pequenos sejam privados da presença do educador por distração geral da reunião. Novas reuniões, à porta da sala, individuais. 

Mas estas são as reuniões que levam a partilhas, de momentos familiares, que levam ao crescimento comum, ao respeito, às expectativas e ao incentivo na relação escola-família. 

Há lá compreensão para o tempo que se gasta além tempo profissional, para que este momento aconteça? Há lá compreensão para a própria reunião e para a sua importância?

Entenda-se que os papéis estão definidos, as responsabilidades tornam-se evidentes, no entanto, ambos estão no processo...

As reuniões de pais tornam-se ricas quando existe uma partilha respeitada, uma compreensão, um trabalho comum que visa o entendimento geral e reconhecimento das crianças como elemento fundamental. As reuniões tornam-se benéficas quando não são meros transmissores de informação passadas diariamente. As reuniões são fundamentais para estreitar relações, fortalecer e fazer viver a educação, envolvendo os intervenientes num processo educativo positivo, baseado na confiança e no respeito.

Perante tais cenários, que reuniões queremos? Que reuniões pretendemos para esta educação? Que espaço queremos ou estamos dispostos a dar a cada interveniente, sejam eles educadores, professores ou pais?

As reuniões constroem-se, adaptam-se, não são meras receitas prontas a utilizar...

Haverá algo mais preocupante do que os próprios pais reconhecerem que, "estive numa reunião de pais, aliás de mães e fiquei chocada"?

#umacaixacheiadenada 

Rui Inácio

Comentários

  1. As minhas reuniões correm lindamente, aliás quase nunhum encarregado de educação falta porque sabem que há sempre uma surpresa. Já tive pais a desenhar e a conversar sobre a importância de não comparar. Já fiz um momento de Mindfulness para adultos , projeto desenvolvido na sala com as crianças, vamos perceber o porquê? Já demos continuidade a projectos com trabalhos ora iniciados pela criança ou Vice versa.... As crianças não estão presentes, é ponto assente, quando muito ficam com a AO noutra sala. São momentos excelentes de partilha, troca de ideias, apelos à participação. Como eu costumo dizer nas minhas reuniões:"Eu tenho os melhores pais do mundo 🙏"

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    1. Obrigado Célia pelo seu comentário! Vão existindo práticas que permitem este contacto e todos terão sentido, se justificados de forma plena e coerente. Lá está, o fazer só porque sim, não tem qualquer sentido! Sabemos no entanto as condicionantes que poderão existir, mas também somos nós que definimos o tipo de reunião que queremos, com ou sem a participação dos mais pequenos! Acabamos por conseguir criar diferentes momentos, em que as participações poderão ser ajustadas, tudo depende das necessidades e dos objetivos definidos! Obrigado por continuar por aqui!

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