A educação é muito complicada, mas a falta dela é bem pior!
Em tempo de férias, as situações que ocorrem à nossa volta,
tornam-se, por vezes, momentos que nos chamam a atenção.
Na praia, no centro comercial, no restaurante, onde quer que
seja, os olhos direccionam-se para choro e para birras e, os juízos de valor surgem
de um modo, incrivelmente, fácil, levando a que se julgue, sem medida, os pais
ou os cuidadores das crianças presentes naquele momento, ou não.
Quão embaraçoso se torna, quando todos olham para os pais,
que a todo o custo, tentam passar despercebidos e tentam ultrapassar a situação
de birra, sem que qualquer dedo lhe seja apontado?
Quão inconvenientes se tornam os olhares de repreensão para
situações que levam os pais à vergonha, ou à dificuldade em gerir comportamentos
com os filhos, ou não?
Quão absurdo se torna, quando de um modo tão simples se
coloca em causa a educação, a capacidade e competência dos pais para educar os próprios
filhos?
Os que assistem tornam-se verdadeiros treinadores de
bancada, criando teorias mirabolantes como forma de resolver o problema. No
entanto, apenas o comentam com quem têm em sua companhia, jamais, recorrem em
ajuda, ou intervém com os pais, não no sentido de criticar, mas de os ajudar,
de os acalmar.
Mas, ao invés de se criarem treinadores de bancada, que se
tornem indivíduos conscientes pela situação que acabam de criar, por criticar,
por olharem de forma pejorativa, ou simplesmente, por pararem e criarem juízos
de valor.
Somos e tornamo-nos nos melhores pais e educadores dos
filhos que não são nossos.
Ai a educação… a educação é muito complicada, mas a falta
dela é bem pior!
E nestas, situações, o que avaliaremos? A falta (ou não) de
educação das crianças que estão a fazer birra, ou os comentários e teorias elaboradas
pelos que assistem a tais situações?
Dever-se-ia, acima de tudo, ter a capacidade de não
criticar, de não sermos os que julgam, de não sermos os que se intrometem na
ação dos pais, ou dos cuidadores. Torna-se fundamental entender o porquê, porque
atrás de uma situação de birra, teremos uma série de fatores que condicionam
quer os comportamentos das crianças, quer dos pais… falemos do espaço, do
momento, da disposição de ambos, da capacidade de aceitação, ou não das regras,
da relação estabelecida entre eles, de tudo o que está à sua volta e condiciona
cada gesto, cada forma de agir, e teríamos uma lista interminável, não fosse o
meio envolvente, um fator preponderante no comportamento humano…
Tal como com os pais ou cuidadores, os educadores e
professores são apontados inúmeras vezes pela forma como falam e agem com as
crianças, sendo recorrente, o surgimento de juízos de valor sem conhecer a
realidade, sem conhecer a situação, … a culpa é e será, sempre, dos adultos.
Pelo menos, dizem os entendidos, os que assistem, sem sequer entender o surgimento
de tais comportamentos.
É simples, esta situação poderá incomodar, poderá provocar
reações menos positivas, poderá ser algo que nos faz mexer. Mas vejamos, sejam
pais, educadores ou cuidadores, fazem o melhor e dão o melhor para minimizar cada
situação que ocorre, tendendo a minimizar o choro, tendendo a torná-lo pouco
visível, tendendo a ocultá-lo a juízos de valor, porque como se diz na gíria,
somos os melhores pais, professores, cuidadores dos filhos dos outros…
O segredo? Não o há.
No entanto, poderá ser só um, colocarmo-nos no nosso lugar,
entender o que se passa, e olhar não de fora, não como elemento que assiste, mas
de dentro. Ou seja, desafiemo-nos a pensar como nos estaríamos a sentir nesse
momento, o que provocaríamos com o nosso olhar reprovador, com os nossos
comentários, com a nossa perplexidade, com a nossa não aceitação.
Os nossos comportamentos são lidos de forma integral. Os
nossos comportamentos transmitem a segurança do que fazemos de melhor, mas são
postos em causa à mínima situação, são postos em causa e sujeitos a decisões
não jurídicas, mas civis, de quem os simplesmente observa.
A educação é complicada, mas a falta dela é bem pior.
A consciência do papel de cada um é fundamental, não se
incentiva à desunião, ao afastamento, mas à compreensão e ao entendimento de
que todos assumem um papel na educação, de todos se sujeitam e se expõe, não são
meros indivíduos sujeitos à opinião pública, à vergonha, à condenação pública.
São e somos elementos de uma sociedade em construção, de
partilha e crescimento comum. Somos uma sociedade que valoriza cada um, no
esforço diário, no papel que desempenha, na ação que desenvolve. Somos uma
sociedade que cresce, que se adapta e se adequa a novas necessidades, somos uma
sociedade que se preocupa com a educação de todos. Somos uma sociedade que vive
a educação e que a julga de um modo corriqueiro, que aponta e julga sem medida,
que se esquece que todos crescemos, todos necessitamos de apoio e todos vivemos
em comunidade, sem condenação e sem vergonha.
Sejam pais, educadores ou cuidadores, o desafio é apenas um,
não julgar de acordo com o que se vê apenas, mas sim entender o porquê da
existência dos comportamentos observados, entender que o meio, e todos os fatores que
estão ao nosso redor afetam o nosso comportamento e tornam-se cruciais no
comportamento dos outros.
Para quem se desafiar, para quem se ousar, coloquem-se no
lugar do outro, consciencializem-se de que os nossos comportamentos causam
impacto no comportamento do outro, dos outros, na sociedade. Consciencializem-se
que a sociedade se torna um espaço que promove a individualidade deixando de
parte a comunidade, a partilha e o crescimento comum.
#umacaixacheiadenada
Rui
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