Nunca digam não aos vossos filhos, eles poderão ficar traumatizados!

E hoje, já cumpriu as ordens que lhe foram confiadas? 

Diariamente, nas salas, na rua, nos supermercados, em qualquer contexto, vemos, ouvimos e presenciamos birras constantes, situações de chantagem de filhos para com os pais, para com os auxiliares, para com os educadores, para com os professores, para com quem quer que seja. As ordens dadas são soberanas.

Nestas situações há palavras impossíveis de se dizer, impossíveis de os fazer aprender a vivê-las. A razão e a vontade é deles, somente de uma parte, é das crianças. 

Nos supermercados, envergonhados, os pais não ralham e não batem em situações de birra. Os decibéis dos filhos aumentam de forma exponencial, de tal modo, que todo o mundo para em torno daquele espetáculo. Para atenuar a situação e por estarem constrangidos com todos os espectadores, cedem aos pedidos, às exigências ou até mesmo às chantagens. "Será só desta vez, porque está tudo a olhar para nós". A verdade é que, dia após dia, tudo se repete: cede-se de forma constante e as estratégias dos mais pequenos continuam a ser postas em prática; a imposição dos pais é cada vez menor e o poder aumenta a cada dia que passa, o poder sobre os pais e sobre tudo. 

O não, não era, já não é e jamais será, uma palavra com o qual todas as crianças lidarão. O não é a utopia, é a palavra proibída que desencadeia uma reação impertinente nas crianças, uma reação com a qual, não estão habituadas a lidar, chama-se frustração. 

Será o não uma palavra tão importante? 

Dizer não, só porque sim, não é, de todo, a justificação. O não é valorizado com o argumento, com a coerência de atos, com a clareza da posição, levando a que se apropriem de comportamentos e emoções que são agora protegidos e omitidos. Impor, contrariar, pode realmente criar um estado de raiva, de nervos, de angústia às crianças... e aos pais. 

Ao serem habituados a lidar com regras, com contrariedades, com frustrações, com problemas tornam-se capazes de ouvir de forma mais tranquila, de aceitar regras, de negociar, de saber estar sem ofensas, ou sem agressões, conseguem arranjar soluções e ultrapassar os problemas. 

Mas não é essa a prática, continuem a proteger cada criança do tão penoso não, continuem a isolá-los de sentimentos que provocam incómodo; continuem a não mostrar a realidade em que vivem; continuem a mostrar que têm todo o poder para alcançar tudo o que querem e tornem-se, simplesmente, seus súbditos, à espera de ordens e de exigências que valorizam o bem-estar egocêntrico e individual dos pequenos tiranos. 

Mais se diz, jamais permitam que eles passem por situações em que alguém os alerte para comportamentos errados, jamais permitam que falem para eles de forma autoritária, jamais permitam que na escola sejam contrariados, jamais insistam em tornar os vossos filhos seres que respeitam e que são respeitados. 

Não se deixem enganar por aquilo que vos dizem, olhem para eles como seres que não mentem e que não têm uma criatividade inspiradora, capazes de moldar as vossas opiniões por situações que, simplesmente, não lhes agradou no contexto escolar. 

Nunca duvidem da palavra que eles vos dizem diariamente, quando reproduzem histórias inventadas e vos fazem ficar irados, chateados, com os adultos que se dão todos os dias aos vossos filhos. Fiquem convencidos de que, apenas, existe um lado da história e esse lado, é o dos vossos filhos. Criem situações desagradáveis à frente dos vossos filhos, incentivem-nos a desrespeitar e a serem mal-educados perante auxiliares, educadores e professores, porque é desse exemplo que, mais cedo ou mais tarde,  eles se apropriarão. E daí, serão estes exemplos que darão aos vossos netos. 

Vistam-se de orgulho, vistam-se de vaidade, porque os vossos filhos estão vestidos como vós e é assim que eles estarão até a aprender a lidar com o não, com o respeito e com o sentido do outro. É com esse vestido, a que chamaram educação, que eles vestirão os seus rebentos. Sejam peças de xadrez impossíveis de se movimentar, sejam movimentadas apenas nos tabuleiros que são definidos por quem joga…   

Nunca digam não aos vossos filhos, eles poderão ficar traumatizados e com feridas sentimentais impossíveis de serem curadas. 

Mas se o disseram, saibam apenas que os estão a educar, a torná-los indivíduos respeitadores e respeitados, indivíduos que sabem estar. Lembrem-se que estarão a educar crianças que aprendem a lidar com o não e a lidar de forma serena, a torná-lo como algo a ultrapassar de um modo calmo e tranquilo. Com o vosso exemplo, calmo, tranquilo, reto e assertivo, ensinarão o amor, ensinarão a amar e a respeitar cada um, aprendem, somente a lidar com a frustração através de emoções tranquilas e calmas, ao invés da tirania, da violência e da revolta. 

É só a palavra não, uma palavra com a qual  aprendem a lidar. Uma palavra que é grande o suficiente, para os fazer crescer e os ajuda a entender o porquê das coisas... Uma palavra que todos ouvimos em pequenos e que não é por isso, que nos tornou em seres infelizes, traumatizados e frustrados. 

#umacaixacheiadenada

Rui

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