Não é uma questão de medicação, mas sim, de educação!
O dia começa agitado, aliás, todos os dias começam agitados.
Mas é uma agitação normal de crianças. De um lado para o outro, deixam as
mochilas penduradas nos cabides e entram na sala com energia que parece nunca
terminar.
Cumprimentam-se, abraçam-se, abraçam-nos. Uma agitação e
vivacidade saudável, reflexo de boa disposição, reflexo do que é ser criança.
Os comportamentos agitados tornam-se desafiantes, seria tão
mais fácil se, ao chegarem à sala, se sentassem sem que fosse necessário
dizê-lo, ou sem ter de os alertar para os comportamentos agitados que trazem
com eles.
Brincam por toda a sala, na rua, onde é possível, mas
brincam, maioritariamente, na rua, e como se costuma dizer, correm, sobem,
descem, trepam, saltam, deitam-se, mas a energia parece não terminar.
Ao longo do dia, desafiam-nos, testam-nos até ao limite,
apenas para conseguir aquilo que desejam.
Conversas e mais conversas tentam mostrar que existem
comportamentos que devem ser moderados, fala-se de comportamentos de
desrespeito, agressividade para com os colegas e para com os adultos, fala-se
de comportamentos em que se deitam no chão, rasgam folhas, gritam, choram,
comportamentos em que, a frustração é evidente e a ausência de respeito por
aquilo que é dito se torna clara.
Hoje em dia, mediante situações semelhantes, o diagnóstico é
claro: hiperatividade. Hiperatividade, porque se mexe demasiado,
hiperatividade, porque fala demasiado, hiperatividade, porque só quer brincar,
hiperatividade, porque não consegue se sentar numa cadeira a fazer o que foi
pedido... Hiperatividade, fundamentada com todos os argumentos possíveis, uma
hiperatividade para todos os gostos e feitos.
E em casa?
"Oh professor,
não sei o que lhe fazer! Nós estamos cansados do dia de trabalho e eles vêm com
toda a energia da escolinha"
Caso diagnosticado, hiperatividade, certamente. Solução:
medicação.
Assim, e queixa após queixa, exagero relatado, após exagero,
convence-se o médico de família de que, realmente, a criança tem um problema
comportamental. Sujeitos a consultas de psicologia, consultas de pedopsiquiatria, consultas para tudo,
chega-se a uma conclusão, de facto, esta criança não consegue ficar sossegada.
Em casa não para, e, constantemente, chama a atenção dos pais. Na escola,
revela comportamentos inadequados, que indicam uma total ausência de relação
parental, chamadas de atenção.
A medicação é dada ao longo do dia, apesar de se encontrar
num estado mais ausente, continua desafiante e com um comportamento agitado e
vivo. Surgem situações problema e ao invés de se entender a ausência de relação
parental, a razão para o comportamento, o recurso ao aumento de medicação
torna-se, para os pais, o próximo passo. Podemos pedir o aumento da medicação!
A resposta é tão simples, não estamos perante um problema de medicação, mas
sim, de educação.
Onde está o exemplo? Onde está a entrega à educação dos
próprios filhos.
A hiperatividade, torna-se uma perturbação da moda, em que,
já não se reconhece a vivacidade das crianças como algo normal, como algo
inato, mas sim, como algo que transpõe limites. As expectativas comportamentais
das crianças preveem uma calma que não incomode, um controlo quase total da
criança em que, bastará carregar no botão "paraquieta", que reage de
imediato conforme a ordem.
As medicações tendem a minimizar comportamentos, mas a
maximizar consequências ainda pouco previsíveis, ou conhecidas, na vida futura
das crianças.
Obviamente que, cada criança será uma criança, e que se
torna impossível, ou deveria ser impossível, comparar. São interesses
distintos, são formas de estar distintas, são famílias diversificadas,
culturas, estatutos,… São crianças, e só por si, são diferentes à sua maneira,
longe de conceitos e preconceitos, longe de mecanismos formatados para uso
geral da infância.
A medicação assume percussões incríveis, à mínima
desconfiança, ao mínimo comportamento desajustado, recorre-se a medicação forte
que os torna numas verdadeiras estátuas, sem sentimentos, sem interesse, de
olhos vidrados e sem vida. Torna-os em "zombies obedientes" ou que
simplesmente caminham sem saber para onde vão ou onde estão, torna-os longe do
verdadeiro sentido da palavra criança.
Conheçam cada gesto, cada palavra, cada sentimento, cada
brincadeira. Ensinem pelo exemplo, pelo sentimento, pela positividade,
tornem-se companheiros e não meros mestres detentores da razão, tornem-se
educadores dos vossos filhos e sejam os primeiros a recorrer à educação e não à
medicação.
As crianças são únicas, cada uma à sua maneira, não as
queiram tornar numa ovelha de um rebanho guiado por um pastor sem a capacidade
de se motivar, de sonhar, de olhar e de viver. Não as queiram tornar seres
viciados em medicamentos que dão como resultado uma criança parada, sem
vontade, sem vida, sem sonho, sem
infância.
Mais uma vez se refere, o mau comportamento, que é tantas
vezes debatido, a ausência de regras, o desrespeito, a desmotivação, não é uma
questão de medicação, mas sim, de educação!
#umacaixacheiadenada
Rui
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