É importante que ouçam as crianças e ouvirmo-nos uns aos outros
A luta diária por manter a qualidade da educação de infância, leva a que tantos educadores recorram à Internet como forma de melhoramento das suas práticas.
Iniciamos o computador, a Internet, e à distância de um clique pede-se ajuda para prendas, aconselhamentos de histórias, ou, simplesmente, para expor pontos de vista.
É certo que a nossa profissão prevê partilha. É certo que a nossa profissão prevê pesquisa. É certo que nos acomodamos de tal forma, que basta pedir ajuda em redes sociais levando a que nos tornemos imóveis, enquanto, de forma ansiosa, aguardam respostas às questões colocadas. Chovem e-mails na resposta, todos eles com um único objetivo, partilhar a informação pedida. Curioso, tantos elementos de grupos ausentes de qualquer participação, eenum abrir e fechar de olhos tornam elementos ativos instantâneos, apenas para receber mais uma canção, história ou informação pedida.
Com receitas prontas a aplicar, utilizam-se as mais e variadas sugestões, estratégias... São formas de estar, ações pedagógicas valorizadas e produtivas por quem as expõe, por quem as observa, no entanto, em nada adequadas ao grupo que temos.
Mas que gestores de currículo somos nós, se não temos a capacidade de o gerir de acordo com o grupo de crianças que temos a nosso cargo?
Que responsabilidade pedagógica assumimos nas nossas práticas de imitação?
É curioso, em sala, e quando se propõem atividades de expressão plástica, nomeadamente desenho, criticamos as crianças pela sua incapacidade de realizar desenhos diferentes dos restantes colegas, repreendemo-los porque copiaram, porque olharam para os colegas e fizeram exatamente o mesmo desenho. Digamos que, ao menos, eles empenham-se no desenho e fazem-no consoante a sua motivação,… mas e nós? Pedimos ajuda, copiamos, não adequamos, e mais grave, nem pensamos nas respostas pedagógicas que estamos a impor. É tudo areia do mesmo saco: independentemente da diversidade dos grupos, os grupos de "partilha" tornam tudo igual. Partilha?
Deveriam ao menos ter o cuidado de refletir, essa competência tão importante da nossa profissão.
Custa pensar, custa ser ousado, custa ouvir as crianças, custa planificar com as crianças... Custa, e muito, acreditar nas crianças e na sua capacidade de planear, de definir interesses e competências Custa ser educador.
Mas centremo-nos nisto, as crianças têm consciência, têm poder de manifestar os seus interesses, de definir caminhos e respostas eficazes. São caminhos desbravados e que fazem com que, cada um de nós, seja desafiado a sentir o que sentem, a ouvir o que dizem, a acreditar no que eles acreditam, a ser um educador exemplar que valoriza cada passo dado.
A valorização da educação de infância passa pela mudança da nossa postura, pela valorização de práticas ousadas que, corajosamente, tentam mostrar a voz das crianças, o sentir das crianças, que tendem a mostrar os 5 sentidos, permitir que falem, que sejam ouvidas, que ouçam, que mexam, que cheirem, que saboreiem cada a aventura.
Já ousaram a perguntar às crianças o que gostariam de mudar nas salas? Já experimentaram a ser humildes, o suficiente, de modo a que destruam as paredes que construíram como forma de proteção, e não vos deixaram olhar além dos muros?
Já se tentaram tirar a máscara que usam diariamente, e que esconde a verdadeira educação de infância: valorização das crianças, ousadia pela aventura, permitir o desejo de saber mais... ?
Perguntem simplesmente, o que gostavam de mudar na sala?
Perguntem se os adultos ouvem as crianças...existem opiniões, sinceras, fundamentadas, e essas respostas, apenas revelam a consciência de que, a educação, o crescimento, as aprendizagens só a eles lhes pertence. Portanto, não digam que eles gostaram só porque acham que gostaram, digam que eles gostaram porque assim o expressaram.
E perante estas ousadias, perante a valorização das crianças, não há muito a dizer quando se ouve,
“É importante que os adultos ouçam as crianças e ouvirmo-nos uns aos outros.”
Perante isto, basta apenas dizer, ouçam as crianças e ouçam-se!
#umacaixacheiadenada
Rui
No que diz respeito às receitas prontas a aplicar é um assunto que me deixa particularmente irritada, pergunto-me logo: "Mas quem é que conhece o grupo, não sou eu?, Não é uma responsabilidade minha? Alguém perguntou às minhas crianças se estão interessadas no que propõem?" Que falta de respeito! Porque é que tratamos as crianças como incapazes "os coitadinhos, são tão pequeninos, temos que decidir tudo por eles." Basta deixar-mo-los ser autores do seu desenvolvimento, com a ajuda do educador e do assistente operacional que são as pessoas que melhor os conhecem. Não roubem tempo às crianças de ser crianças com projetos e atividades que não surgiram no seu quotidiano. As crianças são focadas no mais importante que é o aqui e agora, no presente. Patrícia Silva
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