E com os pais, que relação estabelecemos? Aliás, que relação queremos estabelecer?

O 2º período iniciou. 

As férias já ficaram para trás e, para alguns, o regresso à escola faz-se a conta gotas. Ao início do dia, o choro é recorrente e os abraços são a melhor forma de confortar estes pequenos. O tempo de férias fez com que se tivessem esquecido da rotina, com que se habituassem a uma rotina diferente daquela a que estavam a seguir. Nós, educadores, volltamos em força, com o objetivo de promover momentos de respeito, escuta e bem-estar! 

Mas, deixar para trás o 1º período, é sinónimo de refletir no que fizemos, no tempo que dedicamos a cada criança, ao grupo, às colegas, aos pais. São reflexões que, por vezes, ficam esquecidas, mas que, deveriam surgir, não apenas no final do período mas, diariamente. 

Esta nossa reflexão leva a que, educadores, auxiliares, professores,... melhorem as respostas que se dão a cada um dos intervenientes. São reflexões importantes que nos fazem crescer profissionalmente. Mas, mais uma vez se refere, nem sempre estamos predispostos a isso, nem sempre estamos motivados a fazê-lo, nem sempre o desejamos fazer. 

Refletir na nossa prática é assumir fraquezas, é olhar para nós e reconhecermos erros, é transformá-los em mudança, mais do que transformá-los, é sujeitarmo-nos à mudança.
E, quantos nos sujeitamos a ela? Estamos dispostos a deixar o nosso orgulho e reconhecer, em cada fragilidade, uma oportunidade de mudança?

Ao refletir no que foi feito, não o fazemos com o intuito de mudar a nossa prática tornando-a igual ao do colega da sala ao lado, fazemo-lo com o intuito de responder de forma direta, apropriada e única ao grupo de crianças que temos. Cada grupo é um grupo e merece o nosso empenho e exclusividade pedagógica. Para quê tornamo-nos reprodutores de práticas, se não as entendemos e não são fruto da necessidade de quem temos a nosso cargo?

Meras reflexões... Meras provocações...

Mas, referido acima: reflexão de 1º período, implica termos a capacidade de olhar para as avaliações, que nos empenhamos a fazer, para cada criança  como caminhos definidos, caminhos de parceria em que, adulto e crianças estabelecem interesses e reconhecem necessidades. Refletem, somente, as aprendizagens, os esforços, os interesses, as conquistas, que tantas vezes não surgem descritas em grelhas ou descrições avaliativas.

E com os pais, que relação estabelecemos? Aliás, que relação queremos estabelecer?

Queremos pais participantes e empenhados na educação dos próprios filhos, ou queremos afasta-los das salas e da educação dos seus preciosos tesouros? 
Que comunicação estabelecemos para manter a proximidade e uma relação positiva em que, os principais beneficiados serão os mais pequenos? 
Que sensibilidade temos, para nos colocarmos na posição dos pais e, entender as dificuldades que sentem diariamente? E vice-versa...

Que papel queremos assumir perante esta relação? Que atitude estamos dispostos a tomar, para que, a relação escola família ganhe valor e, seja reflexo de um ambiente que proporciona bem-estar a toda a comunidade, a todos os envolventes?

Acabamos por selecionar três níveis familiares: as famílias 112, chamadas, apenas, perante situações desagradáveis ou problemáticas, convocadas em último recurso, mesmo quando nada há a fazer; famílias de tomada de conhecimento, ou seja, convocadas, apenas, nos momentos de avaliação; por fim, as famílias parceiras, que se envolvem em projetos e na vida diária do jardim-de-infância ou na vida escolar.

Digna de um concurso de cultura geral, lança-se a pergunta perante as respostas apresentadas: Para 100 000€, qual a resposta correta para uma educação eficaz?

A última opção seria a correta, no entanto, as práticas estabelecidas, os contextos escolares, familiares, levam a que a escola se feche à inclusão familiar. Ou, em alguns casos, a própria família se isole das responsabilidades sociais e escolares. Por vezes construímos apenas o processo de integração, não de inclusão.

A consciencialização do educador para a abordagem sistémica e ecológica, fundamenta a prática e a relação inclusiva da família. As interações estabelecidas entre os diferentes contextos, sistemas, fortalecem a componente letiva e a visão holística de criança.

O desafio da inclusão familiar torna-se claro em três palavras, iniciar o processo de inclusão, que, predispõe abertura e disponibilidade de todos, prevê o início da relação escola-família; desenvolver esta parceria, de forma, contínua e ponderada, e, por último, manter a relação positiva, para que se consiga tirar proveito desta inclusão.

Mas, tornar esta reflexão uma realidade é um enorme desafio, uma enorme barreira entre o que se lê e o que se pratica.

... São meras provocações... 

Mas que, merecem ser alvo de reflexão.

#umacaixacheiadenada

Rui

Comentários

  1. Estou totalmente de acordo com tudo o que foi escrito e enquanto mãe acho que o papel do educador/a e auxiliar é fundamental para que essa ligação seja bem sucedida. Se nós pais conseguirmos ver no grupo de sala um elo bem formado e acessível, torna tudo mais fácil. Falo por experiência própria, como sabe tenho a minha pequenina na instituição onde trabalha, não no mesmo local mas na mesma instituição, na nossa reunião de pais a nossa (sim porque também é dos pais) educadora, colocou os pais à vontade para entrar na sala, conversar, verificar se há pasta de dentes, interagir com os meninos, levar objectos de casa para que possam brincar em grupo etc.. Isso deixa os pais mais à vontade e na minha humilde opinião é meio caminho para a família se sentir incluída. Óbvio que há famílias que não se querem incluir, óbvio que há famílias que vêm nas escolas um "depósito" de miúdos, será sempre assim, no entanto são educadores como o Rui, como a Tânia e como a Joana que fazem o nosso coração de mães presentes ficar calmo e aconchegado, da minha parte só posso dizer,obrigada! ♥️

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Filipa, agradeço se forma sincera as suas palavras! Para mim, enquanto educador, considero a relação que se estabelece com os pais muito importante. Se conseguirmos comentar essa relação (pais-escola) positiva, serão as crianças as maiores beneficiadas. Infelizmente, nem sempre assim o é. O importante é que, sejam pais, educadores, auxiliares, ... Cumpram os seus papéis, sejam responsáveis e envolventes no processo de educação, uma parceria! Agradeço mais uma vez! Grande abraço, Rui

      Eliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Assistentes operacionais, mais do que um termo, uma profissão.

Grupos de WhatsApp de pais, um obstáculo ou uma potencialidade?

"as minhas paredes estão cheias de nada (...) isso é sinal de que não trabalho"