Vou chamar o teu professor e ele põe-te de castigo!

Ao longo das semanas de escola, vamos tendo situações a resolver: ora porque se bateram, ora porque se ralharam, ora porque se chatearam, ora porque estão a estabelecer relações entre eles. 

Agora, e em tempo de pausas letivas, em tempo de férias escolares, os pais vão mantendo os pequenos nos ATL’s, em casa de familiares, ou alguns, os que têm essa possibilidade, passam o seu tempo com eles. 

E será que temos mesmo a noção da riqueza que é este tempo em família? 

Em janeiro, quando regressarmos, verificamos que as birras regressam, que a necessidade de atenção, afeto, e de colo aumentam! 

Primeiro pensamento é: existe algum problema, na escola, que os leva a agir assim? Não! Simplesmente, tiveram uma rotina que fez mudar o seu comportamento. Uma rotina que, para muitos, fez com que estivessem mais tempo em casa com os pais, com os avós, primos,…  rotina esta, de extrema para o crescimento destes pequenos.

Mas, o comportamento nem sempre é aquele que se deseja! São crianças e por isso, correm, saltam, gritam, falam, mexem-se, não são brinquedos em que, ao mudar o botão para OFF param e ficam imóveis sem se mexerem. 

Alguns pais desabafam com outros o quanto estão cansados das férias escolares e do tempo que os filhos permanecem em casa. A necessidade de ver o seu tempo mais tranquilo, leva a que a ansiedade aumente em relação ao início da escola e, assim, se atribua à escola um espaço que promove a ocupação do tempo. Conscientes ou não, este é o valor que transmitem, um valor totalmente despropositado.

Que papel assume a escola na vida dos filhos? 

Se não se valorizam as relações, os tempos de atividade (livre ou orientada), as conquistas dos filhos, as dificuldades enfrentadas, os próprios professores, como queremos que as crianças valorizem tudo o que fazem e vivem? 

Facilmente, existem os julgamentos dos responsáveis que estão, diariamente, com os filhos. Mas, quantas vezes, esses julgamentos são infundados? Quantas vezes esses julgamentos são resultados de um dia difícil de trabalho? Quantas vezes se apontam os dedos, a quem passa o dia com os filhos e dá tudo para que cada um eles tenha o melhor dia possível? Quantas vezes se criam situações, completamente desnecessárias, de confronto, em frente aos filhos, desvalorizando e desautorizando quem tem a função de ser educador/professor na escola? 

Os pais é que mandam. 

No entanto, torna-se curioso, quando ao se debaterem com situações de birras ou de mau comportamento dos seus filhos, em casa ou até mesmo à saída da escola, os ameacem: “Vou chamar o teu professor e ele põe-te de castigo!”, ou ainda, “O teu professor está ali, portas-te mal, ele leva-te para casa!“  

Afinal, quem se desresponsabiliza do seu papel? 

Não são estas as justificações que se dão perante qualquer situação. 
As atitudes que temos são um exemplo para educar, educar pelo exemplo, seja ele bom, ou mau! 

Mas, se os adultos são assim, como não queremos que as crianças o sejam?

Se não soubermos estabelecer limites, ou momentos de diálogo em que se converse acerca da relação pai-filho na resolução de birras, como poderemos ser pais que estabelecem regras, que são respeitados pelos filhos, se ao mínimo confronto os ameaçamos com os professores que não assistiram às situações ou confrontos? 

As birras e o mau comportamento de casa resolvem-se em casa. As birras e o mau comportamento da escola resolvem-se na escola. 

Apesar de tudo, é importante salientar que pais e professores devem fazer uma comunicação entre os dois contextos, mas não devem esperar que pais, ou professores, sejam os bichos papão e que, ao se ameaçar com uns ou outros, tudo se vai resolver sem a intervenção de ambos. Resolver-se-á, sem se jogar o "jogo do empurra", resolver-se-á, quando se unirem em prol do bem comum, as crianças.

É um comportamento a refletir, quer em casa pelos pais, quer na escola, pelos auxiliares, professores e educadores. 

É mesmo tempo de pensar que no agir, encontramos a solução para educar, que nas atitudes encontramos o reflexo do comportamento dos mais pequenos. Sejam eles, pais ou educadores, tornam-se um exemplo claro, das ações dos mais novos!

Mas, a escola está a começar e sabendo quão difícil foram estas férias, que “ele portou-se tão mal”, o único pensamento que surge é: “Quinta-feira, vou dizer à tua professora para te por de castigo!”. Mesmo não tendo presenciado qualquer comportamento, mesmo tendo ocorrido em casa, a professora, aos olhos daquela mãe, tem de assumir as rédeas do mau comportamento daquela criança e aplicar o “castigo” tão referido pela mãe… seja ele qual for, seja aquele castigo que, possivelmente, tantas vezes referiu em casa ao seu próprio filho… 

O medo nunca foi a melhor forma de educar, mas sim, a relação, o afeto e o exemplo que se dá.   

#umacaixacheiadenada

Rui

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