O que fazem de mal em casa, aprenderam na escola


Tudo o que aprendem a fazer, aprendem na escola! Uma velha máxima que surge ao longo dos tempos.

Nos diálogos que vamos estabelecendo, diariamente, tentamos mostrar aos pais as experiências que as crianças vão tendo, valorizam-se os comportamentos, as tentativas e até os erros.

Os pais demonstram contentamento por cada nova aprendizagem que os mais pequenos fazem, e, orgulhosamente, vão mostrando o que os filhos já conseguem fazer. Mostram na escola, em casa, onde seja permitido fazer, e envergonhadas, as crianças, vão mostrando mais uns truques que aprenderam e que fazem os pais, familiares e os adultos felizes.

Mas, se o que fazem bem foi algo que aprenderam em casa, a escola acaba por ser um refúgio para as aprendizagens erradas e para as teimosias que, até então, não tinham. A escola acaba por ser a justificação para comportamentos que não tinham, para as palavras que não usavam,... só a escola.

Se demonstram vontade de atirar todos os objetos ao ar, foi na escola que aprenderam, porque, certamente, na aula de educação física andaram a fazer lançamento de objetos.

Se têm vontade de trepar tudo o que encontram, foi na escola que o fizeram, porque o educador lhes deve ter proporcionado um momento em que tinham de trepar os móveis da sala!

Não... Por acaso, não...
Foi um comportamento que nunca vi na escola. Mas, se continuam a insistir que foi na escola que o aprendeu, que assim seja.

Fiquemos apenas em alerta para uma série de situações, mudanças no ambiente familiar, chamadas de atenção, ...,  mas mais importante, estão a crescer, e como tal, as necessidades vão mudando.

Se na escola não se aventuram da forma como o fazem em casa, poderão perceber que, na escola, não estão sozinhos, que as personalidades se vão evidenciando, apoiando, ou até chocando, e isso vai fazendo com que uns se sintam mais audazes do que outros. É que, em muitas situações, é na escola que experimentam comportamentos que tentaram em casa, mas que foram imediatamente proibidos. 

Mas, o estado de alerta é outro, não no sentido de apontar dedos, como de forma constante se faz, não pretendo dizer " a culpa é dos pais, dos avós, dos tios, dos educadores, dos auxiliares,...", Pretendo sim, mostrar que as necessidades vão mudando, que os filhos crescem, que tem a necessidade de se aventurar, e que a culpa não é de ninguém.

São definidos limites com os quais aprendem a lidar, limites esses, que em contexto de escola, são mais vincados, não no sentido de castrar a liberdade, mas no sentido de cuidados, bem-estar, permitindo que se aventurem com segurança e conscientes do risco. Em casa são limites poucas vezes definidos, em que os filhos testam a cada dia, a cada hora, a cada minuto, e as chamadas de atenção, as aventuras que vão tendo, são produto de um desejo que se resume a uma palavra, criança (crescer).

É verdade que em casa aprendem muito! E bem! Mas é verdade que na escola, aprendem de igual forma, de forma intencional, com o acompanhamento do educador que assume uma vertente pedagógica, ou seja, que assume uma intencionalidade educativa no que faz diariamente, no que as crianças fazem, na forma como as acompanha. è um trabalho em parcerias, ou assim deveria ser. 

É verdade que na escola vão aprendendo a fazer coisas que não deviam, mas em casa também o acontece! Só que às vezes, fazem-se pequenas omissões... Resumindo, o que fazem de mal aprenderam na escola, e que esta seja uma frase ou um pensamento engolido por todos. 

Desafio a que valorizem as tentativas, as conquistas, os erros, que os deixem cair, que os deixem chorar, mas mais importante, que os deixem crescer, sem apontar dedos àqueles que estão, diariamente, a cuidar e a permitir que eles sejam "só" crianças! E este deixar que sejam "só" crianças, já tem uma responsabilidade e uma enorme complexidade... um trabalho que parece invisível. 

Desafiamo-nos a olhar para o crescer como desafios, onde o bem e o mal vão acontecendo, quer queiramos quer não, chamam-se aprendizagens. Onde a segurança anda de mãos dadas com o riscos, e eles precisam de arriscar! 

Infelizmente, olhamos para as crianças como uns robots, iguais, sem personalidades, sem interesses, sem capacidade de escolha, sem capacidade de brincar, sem criatividade e imaginação. Olhamos para as crianças como seres incapazes de se levantarem, porque todos lhes amparam as quedas, todos os protegem de tal forma, que a bolha que criaram em torno deles, leva a questionar um simples arranhão, um simples joelho esfolado, como um ato de irresponsabilidade por parte de quem cuida das crianças.

São crianças, sim, diferentes, com interesses, capazes de escolher, capazes de ter voz naquilo que desejam. 

Deixem-se de as querer ver crianças  como perfeitas, daquelas que obedecem a ordens e não se mexem mais, que não dão "trabalho". Deixem-se de as querer ver como crianças que brincam, sem barulho, que se mexem, quase que amordaçadas pelo silêncio imposto. 

Permitam que sejam crianças, e tenhamos a capacidade de olhar todas as aprendizagens como algo positivo no seu crescimento, na sua vida, desde o arranhão à roupa suja, aprendizagens e momentos fundamentais a serem vividos para a construção da personalidade e do ser que se tornará um adulto.

Não apontem dedos, porque como diz Antoine Saint-Exupéry, "Todas as pessoas grandes foram um dia crianças... Mas poucas se lembram disso!"

E escrevo, para terminar, queixamo-nos do comportamento das crianças que temos, mas... E o nosso comportamento, como foi ele enquanto criança? 
Em que se atiravam pedras uns aos outros, partiam-se cabeças, vidros, .. eramos crianças... 

Então, se assim o fomos, porque não permitimos que as crianças de hoje em dia o sejam? 
Crianças que brincam, livres de redomas que guardam objetos frágeis. 
Nós tornamo-los frágeis.

#umacaixacheiadenada


Rui Inácio 


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