Venham de lá os arraiais, a costura e os dedais!

Chegamos ao final do ano, por isso,  que venham lá os arraiais, a costura e os dedais.
É de forma empenhada que se começam a organizar as festas de final de ano, planeia-se tudo cheio de brilho e cor.  Pensa-se em todo o pormenor. Marcam-se tardes e noites de costura, para que os mais pequenos e os graúdos, possam vestir as mais belas roupas alguma vez costuradas. Embelezam-se os espaços, e escolhem-se as canções que darão ritmo às marchas, que de forma orgulhosa os adultos representam.... Os adultos... E as crianças... Que de forma empenhada, ensaiaram dias seguidos a fio, sem fazer mais nada, além de ouvir a mesma música 1500 vezes.
Marcam-se os sítios, marcam-se os espaços,...
Ensaia-se de manhã, de tarde, e se for possível, ainda depois do lanche. E no dia seguinte, ensaia-se logo de manhã, a seguir ao almoço, e depois do lanche... E depois de estarmos a ensaiar as 1501 vezes, vemos os pequenos fartos de mostrar que sabem aquilo que os adultos querem, mas como houve um pequeno se enganou, volta os a dizer: vá, só mais uma vez, conseguem? Sim... Respondem eles de um.modo farto, apenas para nos fazerem a vontade.
Mas avante, continuamos a fazer e a organizar uma festa que é para as crianças, ou então para os pais, para mostrarmos o que fizemos ao longo do ano, ou então não! São os pequenos teatros que representam o que foi desenvolvido ao longo do ano, são as danças que representam o trabalho, as explorações e as aprendizagens das crianças... Sim, obviamente. São os tempos de preparação, em que as crianças ficam em sala e os educadores fora dela.
Mas venham de lá os arraiais, as costuras e os dedais, as costuras que parecem não ter fim, os tecidos que substituem as crianças... Os educadores e auxiliares que passam a alfaiates , a costureiros e modistas, empenham os seus tempos para coser, e desenhar as fatiotas, afinal, fomos formados para perdermos o tempo precioso das crianças, e valorizamos o supérfluo, a imagem, as lantejoulas e os brilhantes... O show off...
Mas que venham de lá os arraiais, as costuras e os dedais. Porque no fundo, os arraiais, representam todo o percurso do ano das crianças. Os arraiais são o exemplo claro da usual frase: ouvimos as crianças, respeitamos o tempo das crianças, e ainda, respeitamos os interesses das crianças.
Fomos educadores, mas agora, somos costureiros, especialistas em moldar tecidos, em costura-los com todo o empenho. Fomos educadores que valorizaram as crianças durante o ano inteiro, mas que agora são costureiros, que valorizam a passagem de modelos para os repórteres fotográficos  que observam orgulhosamente os modelitos, que se passeiam, já com pouca paciência, para estar a fazer pela 1502 vezes o que ensaiaram.
Mas que venham os arraiais, as costuras e os dedais, pois são eles que representam, tudo aquilo que as crianças foram alcançando, todas as metas que atingiram, todos os processos pelos quais passaram para ultrapassar pequenos desafios. Venham de lá os arraiais, e que terminem depressa os demais.

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