Brincar é a melhor tarefa para as férias.

Ai as férias… e a necessidade de lhes dar trabalhos de férias!

Em tempo de férias, e não só, é recorrente que os hipermercados e as livrarias incentivem a compra de manuais. Criam-se locais de destaque e, desta forma, enganam-se os compradores com slogans de incentivo à preparação para o ano escolar. De acordo com o que dizem “aconselha-se a que não percam o ritmo escolar”.

Mas o que é o ritmo escolar na Educação de Infância e não só?
Não existe.
Existe o ritmo individual, incentivado no interesse das crianças em brincar, que inclui, questionar, procurar soluções, desenvolver planificações e mapas mentais, pô-los em prática, criar relações com os outros, ser autónimos, independentes e proativos.

Mas voltemos aos manuais expostos, abruptamente, nas prateleiras dos hipermercados.
Frases como, “preciso de um livro com tracinhos para ele/ela treinar”, “quero um livro com números para ele/ela escrever”, “ele/ela precisa de estar entretido com números e letras, quero um livro”, “ele/ela está de férias mas precisa de treinar, o que tem?” surgem de um modo assustador.

Os livreiros, claro, empenhados na venda, tentam incentivar e encontrar argumentos que validem a importância destes manuais. Mas os argumentos que possam ser apresentados não são, de todo, os corretos. Não estou contra estes profissionais, fazem e desenvolvem a sua profissão e, claro, tentam incentivar a compra.

Se o desejo é comprar um livro, comprem um livro de histórias, um caderno em branco de desenho que possa ser transportado e os leve a riscar, desenhar, e registar o que fazem na rua, em casa e por onde passam. Mas ainda assim, brincar é a melhor tarefa para as férias.

De facto, não é por afastarem as crianças daquilo que devem ser as férias, brincar, que os preparam para esta famosa transição, ou até para se manterem no Pré-escolar.

Omitimos as crianças de momentos que se tornam fundamentais na construção da liberdade, exploração e, muito importante, em se permitir que vivam o descanso e o tempo em que se chateiam por nada terem para fazer. Este aborrecimento leva-os a criar, e serem desafiadores, a serem ousados, dinâmicos e proativos. E a isto chama-se desenvolvimento da personalidade.

Incentivar as crianças para um tempo sentado, dedicado a traços e tracejados, números e letras é fazer com que percam tempo da infância em prol de algo que não é necessário de ser vivido. Continuam a crescer enquanto brincam, a desenvolver competências que não se vivem nem se experimentam quando os obrigam, ou lhes sugerem as atividades centradas em manuais.

Se no jardim de Infância e na creche não deveriam existir estes momentos (mas infelizmente há quem teime em continuar), porque raio criam os pais estes momentos nas férias?

Não, não estão a preparar para nada, estão a desmotivá-los, e desculpem o termo, estão a martirizá-los. Deixem-nos brincar.

Ao invés de estabelecerem esse tempo de traços, criem momentos de família, de brincadeira comum. Existem tantos Educadores de Infância que defendem e escrevem sobre este assunto, apoiados por estudos, pela psicologia e pela medicina, porque não lhes dão credibilidade e continuam a insistir numa área que não conhecem e insistem em torná-la presente nas férias dos vossos filhos?

Incentivem a felicidade, e não a desmotivação. Valorizem a capacidade dos vossos filhos para criar, para imaginar, para usufruir do brincar (de um modo livre, espontâneo) que os permite adquirir competências que, com um lápis e os traços, não adquirem.

Serve para ocupar o tempo, dizem. O tempo é ocupado de diferentes modos, e não pode, nunca, ser ocupado com algo que não tem sentido para as crianças, para o seu desenvolvimento e para o seu crescimento.

O tempo deve ser ocupado com momentos de felicidade, e brincar é isso que permite: serem felizes.
Por isso, viver as férias é brincar, é permitir que sejam felizes.

#umacaixacheiadenada 

Rui Inácio 

Comentários

  1. São preocupações de adultos que apenas olham para si, para os seus interesses e que ainda não identificaram as verdadeiras necessidades das crianças. A empatia permite-nos perceber que as férias são tempo para continuar a brincar e que livros, usando a mesma expressão só servem para martirizar, desmotivar, entristecer, dificultar, frustar e por aí adiante... Patrícia Silva

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