Saibamos agradecer, sempre, às crianças!


Ao longo do ano surgem, sempre, agradecimentos a todos os que vão intervindo nas práticas diárias,  desde a creche a qualquer fase da educação.

Agradecemos aos educadores pelo trabalho desenvolvido e a relação entre os conhecimentos e o respeito das crianças. Agradecemos aos auxiliares de ação educativa o cuidado e o empenho por fazer com que as crianças se sintam bem. Agradecemos a todos os que participam na vida escola: porteiro, motorista, cozinheiros... todos.

Agradecemos, ainda, aos pais por se envolverem na vida escolar, nos desafios lançados para casa, que tantas vezes o fazem de modo contrariado, a participação na escola, o envolvimento nas dinâmicas propostas. Agradecemos.

Mas, o principal agradecimento fica por vezes esquecido: às crianças.

De facto, temos de reconhecer e saber agradecer:
- Por nos desafiarem diariamente a ir ao encontro daquilo a que eles realmente têm interesse;
- Por permitirem que cheguemos às suas dificuldades, ás suas fragilidades e caminhemos juntos para as ultrapassar;
- Por permitirem que olhem para nós como adultos responsáveis, companheiros e sensíveis aos seus interesses;
- Por viverem connosco diariamente momentos que são únicos e de uma cumplicidade que se verifica nos abraços, nas palavras e no afeto;
- Por permitirem que sejamos alguém que lhes cria um relatório de percurso, um relatório de avaliação;
- Por permitirem que sejamos responsáveis pelo caminho que definimos ao longo do ano.

Agradecemos, tanto, a estas crianças que nos aturam diariamente e que são tão responsáveis pelos seus percursos, mas que nos esquecemos disso.

Por isso, além de agradecermos, temos de saber pedir desculpa:

-  Por nem sempre sermos os defensores da sua infância e dos seus interesses;
- Por, tantas vezes, nos impormos de modo mais assertivo e sem olhar para as dificuldades, ou fragilidades de cada um, ou para o impacto que criamos nelas;
- Por criarmos avaliações que, por vezes, em nada refletem os percursos das crianças.
- Por levarmos o cansaço para dentro das salas e esquecermos que nos tornamos mais irritados e com a paciência reduzida;
- Por falar alto, gritar, ou ralhar, pela falta de consciência e por não termos tido a sensibilidade para entender o que aconteceu; 
- Por nos termos deixado levar pelas emoções e pelas preocupações que se sobrepuseram à calma e à capacidade de vos escutar e de nos envolvermos convosco;
- Por às vezes não compreendermos a vossa atitude, quando se chatearam, quando se queixaram, e não tivemos a capacidade de vos ouvir, escutar e abraçar quando precisaram.

E o tempo? Desculpem-nos por preencher o tempo que deveria ser de brincadeira constante e de respeito por aquilo que iniciam, e que interrompemos de modo constante. É o vosso tempo, mas que teimamos a dizer que é nosso.... é realmente nosso, dos adultos e das crianças, em conjunto. 

Desculpem por todas estas situações e por acharmos que tudo o que vocês estão a viver é entendido por nós. Não entendemos tudo, não observamos tudo.

Desculpem por colocarmos as burocracias presentes nas salas e nos grupos.

Somos seres em construção e, além de sabermos agradecer, temos de saber pedir desculpa. Esta forma de estar transmite-se pela vivência e permite que ao longo do tempo seja apropriada pelas crianças, viver a tolerância, a paciência, a resolução de problemas, sem cairmos na tentação de nos irritamos facilmente. Sermos, realmente, seres que educam para o respeito, compreensão e empatia...  
Fartamos de dizer, os problemas resolvem-se a conversar, não a gritar. Mas somos os primeiros a gritar ou a agir de modo explosivo e impulsivo.

E, para finalizar, agradecemos que nos lembrem, diariamente, que brincar é mesmo importante. Agradecemos todos os diálogos de partilha das suas descobertas, as conexões que fazem e fizeram ao longo das suas pesquisas (brincadeiras). 

Agradecemos, mesmo, por serem aquelas crianças que, mesmo sabendo que nem sempre somos os mais disponíveis, recebem-nos nos seus braços, diariamente, de sorriso no rosto e dizem-nos, gosto de titive saudades tuas

Esses sentimentos, essas manifestações valem tudo e servem para nos mostrar que, a educação se faz de relação. E nós, também, gostamos, também sentimos falta. Leva-nos a pensar que, mesmo errando, mantemos a capacidade de criar relações, mas tornemo-nos conscientes do que fazemos. 

Só, por isso, agradecemos, por nos permitirem criar uma ligação entre os SER Educador e o SER Criança.

Este  ano, o ano anterior, foram de aprendizagem, onde errámos, crescemos e ultrapassámos as nossas fragilidades, fizemos para ser melhores. E continuamos...

Agradecer e saber pedir desculpa, quando assim o é. Se queremos que sejam sensíveis a estas premissas, também teremos de o ser. Mais do que fazerem o que dizemos, é fundamental permitirmos que observem e aprendam com as nossas ações. 

Mas, agradecemos, mesmo, às crianças por nos relembrarem que já fomos crianças e que, mais não fazem do que criar memórias felizes da sua própria infância.

#umacaixacheiadenada 

Rui Inácio 


Comentários

  1. Vou crescer por amor*
    Porque vivi a ser criança
    Pelos limites que preciso de tocar
    Pelos tropeções que acontecem quando caminho para mim
    Pelas inversões de direção
    Pela teimosia de descobrir o que me faz mais feliz
    Por não ser comparável a nenhum outro irmão ou amigo
    Pelo modo como compreendo o que me pedes
    Pelas gargalhadas que tomam o meu Ser
    Pelos silêncios que me fazem imaginar
    Pelo choro de quem se enganou e se magoou.
    Vou crescer por amor*
    Porque vivi a ser criança
    Pela nobreza da expressividade de cada um
    Pela grandeza de todas as histórias que vivo
    Pelo amor que me tenho
    Pela criança que ainda cultivo
    Pelo som perene que ainda escuto:
    “O melhor do Mundo são as crianças”
    Isabel Lopes

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

“A minha mãe comprou-me livros para aprender as letras”

Assistentes operacionais, mais do que um termo, uma profissão.

Grupos de WhatsApp de pais, um obstáculo ou uma potencialidade?