Evidências de práticas: encomendas para redes sociais e outros tais!

Observar, Planear, Registar, Documentar, Avaliar, Agir,  porque fazemos e com que intuito? 

De facto, estas ações fazem parte das nossas competências de Educadores de Infância, como tal, merecem a nossa melhor atenção e cuidado. 

Ao aceitarmos o desafio desta profissão, deveremos ter consciente o peso que ela acarreta e, como tal, devemos estar conscientes do que publicamos e porque publicamos as práticas nas redes sociais ou nos grupos de pais. 

A valorização da profissão passa, acima de tudo, pela forma como revelamos o nosso trabalho, as nossas práticas que promovem a escuta e o envolvimento das crianças. Aliámo-nos às tecnologias com o intuito de reforçar o que observamos, de registar momentos que consideramos importantes e que revelam o percurso que as crianças tiveram, levando a que exista um estreitamento na comunicação entre intervenientes. Estes registos ajudam-nos, acima de tudo, a reforçar o que avaliamos, ajudam-nos a comunicar com as famílias de um modo simples e direto, no entanto, não poderemos limitar-nos a enviar uma foto ou publicar fotos sem pensarmos no porque estamos a fazê-lo. 

Se utilizamos as plataformas para comunicação com as famílias, teremos de transmitir o porquê do que está a ser partilhado, não com chavões pedagógicos, ou com linguagem específica, mas sim, com simplicidade mostrando o que se faz não é baseado no foi tão giro.

Limitarmo-nos a exibir um trabalho que não é obra das crianças, não representa a sua participação, o envolvimento e o interesse; é perder uma excelente oportunidade de mostrar o valor da educação de infância, o que se faz e porque se faz. Publicar as prendas das festividades iguais e com a mão dos adultos só para corrigir não é tornar evidente o que as crianças desejam ou o que realizaram. 

Temos de conseguir fazer e ser mais. 

O percurso é longo, mas o importante é tentarmos e começarmos a tornar, ainda mais consciente estas partilhas e comunicações.  

Partilhar cenários, intocáveis, que foram construídos e planeados somente para as fotos, para as visualizações e partilhas não é ser coerente com as práticas e muito menos com o respeito que temos para com as crianças. Mais do que querermos mostrar uma prática bonita e que poderá vir a ter muitos likes, é importante sermos sinceros connosco próprios, reconhecendo que se criam pequenos momentos instagramáveis ou publicações pensadas para as redes sociais que, nos restantes dias, em nada representam aquilo em que acreditamos ou aquilo que, habitualmente, que fazemos.  

É fundamental pensarmos que estas exposições devem ser, de facto, fruto de uma participação que pressupõe um envolvimento do grupo. E, com isto, não me refiro ao colocar o dedo neste ponto específico da pintura para que a abelha fica direitinha. Ou porque em contexto de formação nos disseram que assim deveria ser, sem sequer pensarmos que temos sempre de adequar o que fazemos ao grupo. Temos de refletir nas práticas e naquilo a que nos sujeitamos ou, mais importante, o que às crianças sujeitamos. 

Quão importante são os momentos de partilha e, de facto, fazem parte de nós, seres humanos, de nós educadores. Somos seres de partilha, de relação, de afeto, mas tenhamos a consciência de que o crescimento deve ser comum, cooperado, não espelhos daquilo que se observa sem se ter em conta a quem estamos a proporcionar esses momentos. 

Mas centremo-nos nas questões: 

O que é a adequação? 

O que queremos comunicar ou mostrar aos pais quando provocamos cenários propositados para revelar uma prática construída por alguém que não somos nós? 

O que retiramos destes registos quando fazemos as avaliações individuais que em nada refletem o percurso do avaliado? 

A reflexão é algo com o qual devemos lidar diariamente. Afirmar, tornar evidente imagens que não refletem as vivências de sala ou de grupo, é criar uma representação falsa de uma prática construída em areias movediças, falta-lhe o principal: alicerces.  

O que queremos mostrar quando criamos estes cenários hipotéticos, preparados e centrados, no propósito único de os tornar alvo de likes

Quem queremos agradar? 

Que valorização atribuímos ao que fazemos quando assumimos estas práticas?

O percurso que criamos enquanto educadores sofre alterações, mudanças constantes que nos fazem duvidar daquilo que vamos construindo. Vivemos de exemplos, de práticas que marcam a nossa forma de estar e que não tem mal algum olhar para elas. Pois é através desse “espreitar” que nos fará questionar o que fazemos  e ousar a mudar, não a reproduzir sem pensar nas adequações a ter. 

Olhar para outras práticas como curiosidade, como uma pequena necessidade de mudar, é colocarmo-nos em causa, respeitando o que se faz, e, principalmente, promover alteração na forma como se olha para as crianças, para as suas tentativas e para os seus percursos. 

Mesmo com modelos, temos de estar atentos e olhar de um modo sincero e real para as crianças que temos diante de nós. 

Não conseguimos registar tudo na Educação de Infância. 

Não conseguimos mostrar tudo o que acontece e se faz na Educação de infância, mas é preferível que o que comunicamos seja de facto algo real, que surgiu de um modo tranquilo e simples, do que cenários que se destinam a representar práticas fast-food, em que, aparentemente o aspeto exterior nos convence, mas o seu interior é insípido, desprovido de qualquer justificação ou intencionalidade.

Não iremos saber valorizar, nem justificar as práticas se mantivermos práticas sem reflexão, sem a habitual intencionalidade, sem o urgente respeito por aqueles que estão diante de nós.

Centremo-nos no importante e tenhamos a consciência de que,  nem sempre o que acontece de mais rico na Educação de Infância é possível de ver. Por isso, valorizemos os momentos que se criam, em conjunto, com o intuito de estimar as crianças e não os cenários hipotéticos que, raramente, acontecem no quotidiano da Educação de Infância, mas que são esses que se tendem a mostrar, a expor e a não refletir no seu surgimento.

Sejamos, realmente, práticos e realistas naquilo que comunicamos nas redes sociais, nos grupos de pais e de forma individual. Está na hora de mostrarmos que as prioridades são as crianças e não tudo o que é supérfluo e que em nada acrescenta as vivências de uma infância feliz, de uma memória da infância que valoriza cenários de cooperação, construção, conhecimento e aprendizagem. 


#umacaixacheiadenada 


Rui Inácio 



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